Algumas lições de psicologia e pedologia

Algumas lições de psicologia e pedologia Title: Algumas lies de psicologia e pedologia Author: Antnio Aurlio da...
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Author: Ferreira, António Aurélio da Costa,1879-1922
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Author: Ferreira, António Aurélio da Costa,1879-1922
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Algumas lições de psicologia e pedologia

Title: Algumas lies de psicologia e pedologia Author: Antnio Aurlio da Costa Ferreira Release Date: April 20, 2010 [EBook #32072] Language: Portuguese Credits: Produced by Rita Farinha and the Online Distributed Proofreading Team at https://www.pgdp.net (This file was produced from images generously made available by National Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal).) Nota de editor: Devido quantidade de erros tipogrficos existentes neste texto, foram tomadas vrias decises quanto verso final. Em caso de dvida, a grafia foi mantida de acordo com o original. No final deste livro encontrar a lista de erros corrigidos. Rita Farinha (Abril 2010) ANTNIO AURLIO DA COSTA FERREIRA Professor de Psicologia experimental e Pedologia na Escola Normal Primria de Lisboa ALGUMAS LIES DE PSICOLOGIA E PEDOLOGIA PSICOLOGIA E PEDOLOGIA ANTNIO AURLIO DA COSTA FERREIRA Professor de Psicologia experimental e Pedologia na Escola Normal Primria de Lisboa ALGUMAS LIES DE PSICOLOGIA E PEDOLOGIA Comp. e impr. na Typ. Costa CarregalPorto AOS MEUS COLEGAS E AOS MEUS ALUNOS DA ANTIGA E DA NOVA ESCOLA NORMAL PRIMRIA DE LISBOA NDICE Pg. Prefcio 5 O ensino da pedologia na escola normal primria 7 A arte de educar e a psicologia experimental 17 O pso do corpo da criana 29 A agudeza visual e a auditiva debaixo do ponto de vista pedaggico 47 A viso das cres 61 Sbre umas provas de exame da ateno voluntria visual 89 Da inteligncia do escolar e da sua avaliao 111 Inteligncia e apercepo 123 Sbre psicologia, esttica e pedagogia do gesto 135 PREFCIO Com o ttulo Algumas lies de Psicologia e Pedologia publco neste pequeno volume as principais lies que li e comentei, como professor da antiga Escola Normal do Calvrio, e da actual Escola Normal de Bemfica, s quais acrescento a conferncia que realizei no Conservatrio, por ocasio da Exposio de Arte na Escola. Algumas das lies so verdadeiros planos e resumos dos meus cursos. A matria vai exposta com a maior clareza de que fui capaz e pela forma que me pareceu melhor, em ateno preparao habitual dos alunos das Escolas Normais e ao fim que essas escolas tm ou devem ter em vista. Busquei principalmente interessar e orientar os meus alunos, habituando-os a confiar na prtica dos mtodos scientficos em pedagogia. O livrinho vai ilustrado com uma gravura, reproduo duma cpia feita pelo professor Eduardo Romero, da Casa Pia, cpia de um curioso desenho de R. Gudden, de Francfort s. M., excelente exemplo de um fenmeno de apercepo, que encontrei publicado no manual de Starch: Experiments in Educational psychology, e que me pareceu ser uma ilustrao muito apropriada para acompanhar as minhas lies de Psicologia e Pedologia, e particularmente a lio: Inteligencia e apercepo. Estou certo de que a leitura dste livrinho, e a dos livros que nele cito, ser de muita, utilidade para os alunos das Escolas Normais e para os candidatos aos concursos de Inspectores primrios. Belem25XII920. A. Aurlio da Costa Ferreira. O ENSINO DA PEDOLOGIA NA ESCOLA NORMAL PRIMRIA[1] Minhas Senhoras e meus Senhores: Parafraseando o emrito Claparde, direi:como se consideraria uma escola de horticultura onde se no ensinasse a botnica?! Que se poderia dizer de uma escola que preparasse professores para a infncia, seus educadores, e em que se no professasse a pedologia?! Como se chamaria aquele que hoje, no estado em que se encontra a scincia, quizesse como outrora tratar de doenas, empricamente, sem saber, sem nunca ter estudado a anatomia e a fisiologia e as suas aplicaes ao diagnstico e no soubesse examinar convenientemente, scientficamente, um doente, e [8] procurar as indicaes? Seria, hoje, porventura, um mdico? No. Nem mereceria confiana, nem mereceria considerao e as penalidades da lei at sbre le recariam. Como se poderiam considerar aqueles que hoje se obstinassem a pretender desenvolver a inteligncia, formar caractres, corrigir os instintos da criana, sem nunca ter aprendido a estud-la, a medir-lhe a inteligncia e a examinar-lhe o feitio mental, as suas tendncias e as suas aptides? Pois se a psicologia tem progredido tanto que hoje h processos qusi tam seguros para fazer tudo isto, como h na clnica para estudar o pulso ou a respirao, desconhec-los no ser, pelo menos, ser um professor incompleto, atrazado, fra do seu tempo? Sem dvida que sim. Bem posso dizer como eu mesmo dizia no ltimo Congresso Pedaggico de Lisboa: querer e crer que sem conhecimentos de pedologia, de higiene escolar, de metodologia dos trabalhos manuais e da ginstica, possam sar das nossas escolas normais professores dignos da nossa poca, a quem os governos possam confiar a educao das novas geraes, capazes, como dizia, parece-me, numa das suas clebres lies de pedagogia, o meu querido mestre, Dr. Bernardino Machado, capazes no s de transmitirem tda a sua pureza o patrimnio da civilizao dos antepassados, a herclea fra atvica que nos pode permitir reabilitar-nos perante a histriamas tambm capazes de fazer tudo o que fr possvel [9] fazer-se para fomentar o progresso, melhorar a raa, melhorar o solo, melhorar o pas; querer que aqueles a quem compete fazer e refazer a ptria, a faam e refaam como noutros tempos, como no nosso tempo j no deve fazer-se, to estulto como querer confiar hoje a defeza da nossa terra aos heris de outrora, a valentes de cota e malha, ou os progressos do nosso comrcio, s antigas e gloriosas caravelas! Van Bierveliet, da Universidade de Gand, numa das suas magistrais lies de pedagogia scientfica, feitas para professores de instruo primria, exprime-se assim: Consideremos uma classe qualquer e interroguemos o professor; saberemos logo que num conjunto de cincoenta alunos, por exemplo, se encontram dois ou trs que demostram uma grande diligncia, e aceitam com prazer tdas as tarefas que se lhe impem. Constituem os primeiros da classe, o que pode chamar-se a cabea da classe. Na grande massa dos alunos, dominam aqules em que o zlo moderado; cometem erros e sabem as suas lies mais ou menos bem. Finalmente, um nmero mais ou menos considervel da classe acha que a tarefa que se lhe impe demasiado pesada e aborrecida; constitui o grupo dos preguiosos, dos mandries. Estes, fazem os seus exerccios mal, ou nada fazem, e aprendem muito pouco, uma ou outra pequena cousa, um ou outro fragmento de lio. As classes apresentam uma cabea, um corpo e uma cauda; geralmente a cabea composta por dois [10] ou trs indivduos e a cauda, pelo contrrio, muitas vezes notavelmente desenvolvida; as classes so organismos por vezes microcfalos (de cabea pequena) e macrures (de cauda grande). A simples constatao dste facto, basta para demonstrar que o regimen escolar pouco atraente para as inteligncias em formao. Se num jantar de cincoenta talheres se constatasse que trs pessoas smente mostravam bom apetite, trinta comiam com repugnncia e o resto nada comia, concluir-se-ia, com alguma razo, que ou o men era medocre ou que os convivas tinham o estomago caprichoso e que por isso lhes no convinham os pratos que lhes eram oferecidos ou destinados. O mesmo se pode dizer das classes. H inteligncias excepcionalmente vivas que assimilam tudo, como sucede com as pessoas que tm o que se usa chamar estomago de avestruz, que tudo digerem. H outras, pelo contrrio, que perante os conhecimentos apresentados, pelos mtodos mais correntes, se comportam como disppticos da inteligncia. Que se faz em regra a estas? Castigam-se. Melhor fra cur-las. Melhor fra, acrescento eu, saber conhecer o feitio mental dos alunos, agrup-los consoante as suas semelhanas e diferenas, e saber administrar-lhes os mesmos conhecimentos por mtodos diferentes, aqueles que melhor se acomodem e mais convenham ao seu feitio. As mesmas doenas no se tratam sempre do mesmo modo; tem que se atender ao doente. No ensino sucede a mesma coisa. No se ensinam [11] todos pelo mesmo modo; tem que se atender ao aluno. Um professor de instruo primria no pode, no deve desconhecer, ao entrar no exerccio da sua profisso, a psicologia infantil e os processos de a estudar e de a observar. No basta conhecer a metodologia, necessrio a psicologia. A metodologia dever, de resto, ajustar-se psicologia da classe e do aluno. Diz Claparde num livro, cuja leitura muito lhes aconselho (Psychologie de l'enfant):Muitas pessoas supem que s a prtica do ensino pode formar o professor e dar-lhe a verdadeira experincia. Seguramente, a importncia da prtica capital para formar um especialista numa determinada arte. Mas preciso esforar-se por reduzir ao mnimo as experincias, as tentativas, sobretudo quando se trata de seres humanos. O professor que entra na prtica da sua profisso, sem ter o menor conhecimento de psicologia, v-se naturalmente reduzido a tentar, a fazer experincias com que os alunos podem sofrer; obrigado a experimentar in anima vili, e algumas vezes essas experincias so demasiado longas e penveis para as geraes de alunos que as tm de sofrer. Sem dvida, a prtica pode, dentro de certos limites, compensar a insuficincia dos conhecimentos tericos, mas custa de quantos rodeios e de quantos erros! fora de construir pontes que abatem, ou mquinas que estoiram e se escangalham, pode um tcnico sem instruo terica acabar por ser um bom [12] construtor e encontrar empricamente as frmulas que le incapaz de calcular. Mas quem quereria semelhante engenheiro? Um professor sem educao psicolgica est precisamente no mesmo caso, com esta diferena, contudo: que, quando uma ponte tende a abater, no decurso da sua construo, pode ser reparada imediatamente ou pode ser refeita. Enquanto que se se trata de uma inteligncia ou de um carcter que erradamente se forou ou tratou na sua evoluo, s tarde se d pelo mal, quando le j se no pode remediar, e nunca em nenhum caso se pode refazer, reconstruir, fazer de novo outra inteligncia ou outro carcter. Estas parbolas devem convencer as senhoras e os senhores normalistas da utilidade do estudo da psicologia, do estudo das faculdades mentais, na preparao dos professores de instruo primria. Mas que psicologia? Ser a psicologia clssica dos compndios de filosofia? Ser a psicologia especulativa? Ser a psicologia, o conhecimento das faculdades mentais pelo exame introspectivo de indivduos excepcionais, supra-normais qusi sempre, filsofos que se deram ao trabalho de se estudar a si mesmo? No. A psicologia do adulto diferente da da criana e o estudo desta no se pode fundar no exame feito por ela prpria. O estudo da psicologia da criana qusi como o da dos animais. A criana no um homem e qusi tam diferente do homem como a lagarta da [13] borboleta. Que se diria de quem quizesse alimentar ou tratar a lagarta do bicho da sda como a sua borboleta, como le na sua fase de insecto perfeito? E no entanto lagarta e borboleta, tam diferentes na frma e nos hbitos, so o mesmo indivduo. Assim sucede com cada um de ns, na sua fase infantil e na sua fase adulta. A propsito da psicologia clssica, talvez com mais razo do que dizia Binet da antiga pedagogia, se pudesse dizer: deve ser completamente suprimida, no ensino das escolas normais, acrescento eu. Eu sei com que razo se tem apresentado contra o ensino da pedologia, ou estudo da criana, aos professores de instruo primria, o argumento de que le tem levado stes a distrair-se das suas funes docentes, para se dedicarem a estudos e experincias que no s prejudicam, porque afastam o professor da sua principal misso: instruir e educar, como tambm porque o levam a fornecer dados que por insuficincia ou carncia de preparao scientfica, que s em cursos superiores e especiais se pode adquirir, so em regra dados perdidos, cheios de erros, falseados, qusi inteis para a scincia. Mas o que eu pretendo fazer no preparar psiclogos, antropologistas, filsofos; nem eu, nem ninguem deveria pretender faz-los numa escola normal primria, principalmente com as habilitaes que os senhores podem e devem ter. O que eu pretendo fazer ensinar os principais elementos de pedologia, que a [14] sua preparao literria consente e que os professores devem conhecer para melhor ensinar. Procurarei, em suma, ensinar rudimentos de pedologia e as suas aplicaes ao ensino na escola primria. Seria estulto que eu, mdico antropologista, embora director de um instituto de educao, eu que no fiz estudos regulares de metodologia do ensino primrio, nem nunca professei sse ensino, viesse ensinar-lhes todo o programa actual da pedagogia, scincia e arte de ensinar, como seria igualmente estulto e injustificado que se exigisse a um professor de instruo primria, que no tivesse feito estudos especiais de antropologia, e no tivesse suficientes conhecimentos de tcnica-pedomtrica, que ensinasse a pedologia, scincia que conveniente e, mais do que conveniente, indispensvel ensinar ao futuro professor. No preciso exagerar como Chaillou e Mac-Auliffe, quando na sua Morfologia mdica, dizem: A educao e continua a ser puramente pedaggica. Escapa ao nico homem que deve dirigi-la, ao mdico. No. Mas preciso dizer-se, porque fcil provar que o , que necessrio que parte da preparao do professor primrio seja feita por mdico especializado nas aplicaes das scincias mdicas pedagogia, e que o professor seja um auxiliar do mdico. Os exerccios que habitualmente passarei, sero exerccios de educao scientfica e neles terei em vista no s ensinar como se estuda [15] e desenvolve as faculdades da criana, mas tambem o ensinar a estudar e a desenvolver as faculdades dos que a tm de educar. A S. Ex.a o actual Ministro de Instruo Pblica caber a honra de ter introduzido no quadro dos estudos do curso normal, o ensino regular da pedologia. Por minha parte, procurarei corresponder aos desejos de S. Ex.a o Ministro, repartindo com todos os meus alunos o que da matria souber e com les estudando o que fr preciso estudar, pondo ao seu dispr os meus hbitos, os meus recursos e o meu mtodo de trabalho. Que a dedicao e a lialdade com que sempre uso servir nos lugares para que me nomeiam, possam compensar outras minhas faltas, que eu possa provar ao digno director e ao ilustre corpo docente dste estabelecimento de instruo, a que agora muito me honro de pertencer, quanto desejo contribuir para o bom nome e reputao desta Escola, e finalmente que eu possa ter o maior e melhor pago que desejo ter: o poder ouvir dizer aos meus alunos que na vida prtica de bastante lhes serviu o que procurei ensinar-lhes, os conhecimentos que lhes transmiti, os hbitos que lhes criei e as preleces que lhes fiz. A ARTE DE EDUCAR E A PSICOLOGIA EXPERIMENTAL[2] To educate is to bring out all the powers that are in the child and to traim him to use them to the best advantage of himself and indirectly of the nation of which he is a part. (Miss C. Aguther, Child Study, June, 1917). Minhas Senhoras e meus Senhores: A arte de educar fundamentalmente a arte de regular a conduta presente e futura dos que se tm de educar. Implica forosamente o conhecimento da conduta, das causas dela, do seu mecanismo e das possibilidades que o indivduo oferece. A arte de educar assenta [18] como a arte de curar, na anatomia e na fisiologia e assim como o mdico, mdico que tenha de exercer a profisso, tem no s de conhecer as doenas e os remdios, mas tambm conhecer os doentes e encontrar as indicaes, assim tambm o educador, que tenha de educar, tem no s de conhecer os fins da educao e os meios da educao, a pedagogia e a metodologia, mas tambm de saber conhecer o educando e encontrar a frma de educao que mais lhe convenha e se adapte ao seu feitio. E assim como para o estudo do doente no basta conhecer os sintomas das doenas, porque necessrio sab-los observar, assim tambm no basta ao educador conhecer os fenmenos da educao, a psicologia, mesmo que esta tenha a feio moderna e scientfica, e se chame psico-fisiologia ou psicologia experimental, necessrio tambm principalmente possuir a tcnica da observao e da experimentao. Saber psicologia pode no ser saber fazer psicologia, como saber quais os sintomas das doenas pode no ser saber observ-los e fazer diagnstico. Ensinar num curso prtico de psicologia experimental, que como oficialmente se chama o curso que tive a honra de ser chamado a reger, ensinar nesse curso numa Escola Normal, fundamentalmente ensinar o que fr preciso para habilitar os futuros professores a conhecer e praticar os meios scientficos de estudar prticamente os fenmenos mentais, isto , possuir as regras e os meios de condicionar sses fenmenos, por frma a que outros os [19] possam observar nas mesmas condies, e verific-los. Educar no hoje, como noutros tempos se supunha, criar, essencialmente orientar. No lutar contra a natureza. O educador dos homens como o educador dos animais, tem que aproveitar as boas tendncias, os talentos, para os enriquecer e desenvolver, como dos instintos diz o educador e moralista Foerster, falando do ensino dos animais. E quanto s ms tendncias, tem que saber inibi-las, ou sublim-las. Talvez que nesta altura, para lhes dar uma exacta idea acrca do valor e possibilidades do ensino e quebrar-lhes preconceitos que a todos os professores desta Escola pertence o combater, e isto, por minha parte, na inteno de aproveitar o pretexto de demonstrar que a arte de educar hoje assenta e qusi se confunde com a arte de estudar os fenmenos psquicos, com a psico-tcnica, talvez que, para isso, no lhes pudesse de momento aconselhar melhor leitura, como leitura prvia, do que a do livrinho Criminalidade e Educao, do Sr. Padre Antnio de Oliveira que no s, como todos sabem, uma admirvel figura de filntropo, mas, mais do que isso, uma figura notvel de educador, com vocao e larga e valiosssima experincia. preciso que a arte de educar seja como a arte de curar. necessrio ouvir tambm o prtico, ouvir o que educa, ouvir o que cura, sobretudo quando sucede como deve ser, que a arte que praticam [20] seja arte esclarecida pela scincia, e no simples empirismo. Educar condicionar intencionalmente as reaces do indivduo. Educar, portanto, implica, primeiro do que tudo, o saber estudar as causas e mecanismo das reaces individuais. E o estudo dessas reaces feito experimentalmente tem o maior intersse e importncia para o educador. Muitas dessas reaces so de ordem interna e s o prprio indivduo as pode observar directamente, mas essas mesmas so acompanhadas doutras reaces, acessveis ao estudo directo dos outros e portanto podem ser estudadas objectivamente, sem interveno do exame dos prprios em que elas se do. O educador, em resumo, tem de estudar o mecanismo das reaces individuais e a maneira scientfica de as condicionar. De acrdo com estas ideas, j a dentro da velha Escola Normal, onde tive a honra de reger durante alguns anos o Curso de Pedologia, o meu distinto colega naquela e nesta Escola Sr. Professor Dr. Alberto Pimentel, cujo livrinho de lies lhes aconselho, procurou orientar o ensino terico da Psicologia. Eu, por minha parte, completarei sse trabalho ensinando-lhes a tcnica dos estudos psicolgicos, segundo essa orientao. Disse eu que a psicologia experimental se prende tanto com a arte de educar, que por vezes at qusi se confunde com ela. No qusi se confunde, confunde-se at. Em psicologia animal, ramo da psicologia qusi desconhecido entre ns, a psicologia experimental [21] funda-se na educabilidade, o proprio exame da educabilidade, a propria arte da educao exercida com o fim de estudar os fenmenos e os recursos mentais do animal. Vejam por exemplo, para fcilmente e sob uma frma agradvel apreenderem melhor o assunto, o excelente livrinho de Hache-Souplet, director do Instituto de Psicologia Zoolgica, intitulado De l'animal l'enfant (Bibl. de ph. contemporaine) e que se pode considerar um pequeno manual adoptvel na preparao dos professores de ensino infantil. No se surpreendam com ste atrevido conselho de lhes indicar um livro de psicologia zoolgica, como meio de preparao pedaggica. H grandes afinidades entre a psicologia dos animais superiores e a das crianas e sobretudo a estas duas psicologias, a zoolgica e a infantil, que , quando no indispensvel, pelo menos mais necessria a prtica dos mtodos da psicologia objectiva. Num dos melhores e mais modernos livros de psicologia pedaggica, o de Thorndike, notvel professor de psicologia pedaggica numa escola de mestres, tm um livro cheio de estudos interessantes de psicologia zoolgica sbre a inteligncia dos animais, estudada pelos meios da psicologia experimental; e o afamado e emrito psiclogo suisso, cujo nome j vai sendo banal citar entre ns, o Professor Claparde disse, ao publicar o programa do Instituto de Scincias da Educao de Genebra: Para ser completa uma escola de scincias da educao deveria possuir um servio anexo..., [22] quero dizer, um laboratrio de psicologia animal... Adestrar um animal, regular-lhe a conduta, aprender muitas vezes a ensinar uma criana. Algumas vezes, por isso, recorrerei, se as circunstncias o permitirem, a alguns exerccios de psicologia animal, para lhes esclarecer uma ou outra questo psicotcnica pedaggica. O exame objectivo das reaces ser o escopo principal do meu curso. Curso prtico de psicologia objectiva podia bem ser o ttulo a dar-lhe. Psicologia objectiva no quere porm dizer, que seja exclusivamente um curso de psico-fisiologia, como muitos podem supor. A psico-fisiologia apenas uma parte da psicologia objectiva, aquela em que se estudam as variaes fisiolgicas, prpriamente ditas, que acompanham ou condicionam os fenmenos mentais. As reaces exteriorizam-se tambm por outras frmas, que no podem smente ser estudadas pelos mtodos da fisiologia. O estudo das reaces provocadas por certos reagentes mentais um verdadeiro estudo pedaggico. Outra cousa no a maior parte das vezes o estudo dos chamados tests, como por exemplo o dos tests para a medida da inteligncia, de que por certo j tm ouvido falar e talvez tenham j visto descritos. A psicologia experimental ser talvez ainda prefervel psicologia objectiva, porque a psicologia experimental atinge tambm o estudo introspectivo dos fenmenos mentais, o seu estudo directo, e ste h-de-nos ser preciso quando se tratar do estudo da psicologia do [23] professor, da psicologia de quem ensina, porque o ensino no depende s da psicologia do educando, mas tambm da do educador, e bom que ste aprenda a saber examinar-se, a estudar as reaces que o aluno e a escola nele determinam para examinar a sua aptido, e a corrigir vcios de reaco, que so por vezes causa de graves perturbaes escolares. No s o aluno anormal que perturba a classe, o professor anormal, o que no se adapta profisso, o que no a sabe praticar, por falta de cultura ou por falta de intuo. No aluno professor poder-se h com vantagem praticar a psicologia experimental subjectiva. A psicologia experimental no apenas a psicologia objectiva, repito. E a propsito lembrarei as palavras do fisiologista francs Prof. Ch. Richet: A observao interior constitui uma psicologia de observao tam fecunda, tam legtima, como a psicologia a mais experimental que se possa imaginar. Os factos assim adquiridos pelo estudo do eu tm tanto valor como os fenmenos fisiolgicos registados nos laboratrios pelos mtodos mais aperfeioados da tcnica contempornea. Apesar de tudo, porm, o nosso curso ser principalmente um curso de tcnica objectiva, porque le visa, primeiro do que tudo, o estudo psicolgico do educando e porque minha teno, mesmo quando se trate da prtica da psicologia subjectiva, recorrer a ela apenas como um auxiliar da psicologia objectiva. A propsito recordo os dizeres do grande Binet: Em nossa opinio, diz le, no preciso procurar [24] limitar e simplificar as respostas do indivduo em experincia, preciso, pelo contrrio, deixar-lhe a plena liberdade de exprimir o que sente, e mesmo convid-lo a expressamente se observar de perto durante o decurso da experincia; esta maneira de proceder tem a vantagem de no restringir a investigao ao crculo da idea preconcebida: podem-se constatar muitas vezes factos novos e no previstos, que muitas vezes tambm permitem compreender o mecanismo dum certo estado de conscincia. Com felicidade, pois, se chamou Curso prtico de psicologia experimental ao curso de tcnica psicolgica desta Escola, criado pelo Sr. Ministro de Instruo, Prof. Dr. Alfredo de Magalhes, cujo nome deve merecer sempre a todos ns, desta Escola Normal, uma grata homenagem, pela ateno que lhe merecemos e pelo entusiasmo, apaixonado entusiasmo e energia, com que procurou instalar e proteger a nova Escola. O curso prtico, e acentuo a palavra prtico, de psicologia experimental ser uma maneira de logo, desde o incio da freqncia da Escola Normal, habituar o futuro professor, a sentir-se professor, a despertar-lhe e trenar-lhe a aptido, a p-lo em contacto real, directo, concreto com a massa que tem de trabalhar, com a sublime argila que tem de moldar: a alma tal qual ela . Trabalhar a alma da criana com alma e com arte, com arte e com acrto, com acrto e com scincia, tal o nosso escopo. A psicologia que havemos de praticar, ser, [25] mais uma vez o digo, de carcter principalmente objectivo, no s pela dificuldade, se no impossibilidade, do exame subjectivo no meio e com os indivduos que temos de trabalhar, no s porque o exame objectivo constiti uma frma excelente de fazer a educao scientfica do aluno professor, de dar-lhe hbitos de observao e experincia extrospectivos ou melhor exteriores, essenciais arte de educar, mas tambm porque em psicologia, pode-se dizer, que o que mais importa ao educador so os actos psquicos, os fenmenos mentais de que introspectivamente se tem menos conhecimento. Em psicologia pedaggica o sub-consciente vale mais que o consciente. E mesmo quando ao educador compete regular o comportamento do adulto, quando ao educador compete fazer reeducao, compete-lhe principalmente examinar o sub-consciente, porque nele que se guarda a fra que a experincia anterior gerou e que regula e influi, por vezes, mais do que nenhuma, no comportamento do indivduo. A conduta principalmente governada pelo sub-consciente e neste tem tanta influncia a infncia, o que ela foi em cada um, que quando a fadiga ou a doena perturba o exame introspectivo e a fiscalizao, censura e govrno, que por meio dele podemos exercer nos nossos actos, a mentalidade infantil que aparece, se exterioriza e nos revela, tal como fomos e no ntimo somos. Uma escola de psicologia h at, que hoje [26] j invadiu a filosofia, a medicina e a pedagogia, que assenta tda no estudo do sub-consciente e particularmente na pesquisa das impresses que nele gravou a vida sexual. Refiro-me psico-anlise, de Freud e seus sequazes, que, apesar dos ataques violentos que tem sofrido, mormente depois da declarao da ltima guerra (mais talvez por xenofobia do que por outra cousa), contm muito de verdade. Tirado o que h de mstico, de escabroso e de exagerado no seu pansexualismo, a psico-anlise pode e deve ser conhecida pelo educador. E, para terminar com estas referncias questo da importncia do consciente e do sub-consciente em educao, lembrarei a j banalizada definio de Gustavo Le Bon: A educao a arte de fazer passar do consciente para o inconsciente. A reeducao, essa muitas vezes o trabalho oposto, digo eu, o de trazer do inconsciente ao consciente, para transformar e depois voltar a tornar inconsciente. A educao, na idea de Bacon, o conjunto dos hbitos adquiridos na infncia. A reeducao muitas vezes a correco dsses hbitos; mas tanto em educao como em reeducao h que aproveitar a Natureza, porque ela, ainda segundo Bacon, no se governa, seno deixando-a governar, conhecendo-a, aproveitando-a, seguindo-a. [27] Meus Alunos: A arte de educar, como logo no princpio eu disse, a arte de regular a conduta presente e futura do educando, e a psicologia experimental, de escpo pedaggico, a psicologia que pela experincia ensina a conhecer as causas, o mecanismo da conduta do indivduo ou da classe a educar. Psicologia experimental qusi pedagogia experimental. E no imaginem que esta pedagogia experimental menos do que a outra, porque no tem em conta os ideais, a parte poltica, religiosa, social, a finalidade da educao. No. O Ideal quando no factor da aco, produto da aco, ou as duas cousas ao mesmo tempo, factor e produto da experincia pessoal, e o que ns vamos aprender a arte de estudar prticamente, experimentalmente, os factores e o mecanismo da aco, ou melhor das reaces do indivduo sujeito influncia dos meios, isto , ainda a parte prtica, experimental, utilitria, debaixo do ponto de vista educativo, que talvez melhor do que psicologia, se poderia chamar, maneira de Bechterew, a reflexologia pedaggica, e nela bem podemos estudar o valor, a aco e a formao dos ideais. [28] Com isto declaro aberto o Curso prtico de psicologia experimental, que neste semestre ser essencialmente um curso de propedutica, destinado ao estudo das noes preliminares e fundamentais de anatomia, fisiologia e psicologia, que mais importam psico-tcnica... Disse. 15-III-919. O PSO DO CORPO DA CRIANA[3] Meus Alunos Senhoras e Senhores Quiz um pouco o acaso que o pso do corpo da criana fsse o tema da minha ltima lio. O fim do ano, como sabeis, veio-nos surpreender num ponto ainda atrasado do programa a que me obrigra: o estudo dos mtodos da pedologia somtica, particularmente da pedometria e com ela o dos principais caractres mtricos da criana. O pso do corpo da criana ter que ser o tema da lio de encerramento do meu curso dste ano. E, embora parea o contrrio, talvez no pudesse encontrar melhor tema para encerrar o concurso. A lio de abertura que vos li foi, como [30] devia ser, uma lio-programa e uma lio-promessa. Na lio de encerramento que vou ler-vos tambm, procurarei fazer com que ela seja o que deve ser uma lio de encerramento: uma lio em que at certo ponto se recapitulem as noes principais expostas durante o curso, uma lio-concluso, e uma lio em que se procure provar a realizao de algumas das promessas que se haviam feito na lio inicial. A criana fundamentalmente um ser humano em via de crescimento; um homem ou uma mulher em via de formao. A sua principal funo crescer, procurando atingir a grandeza que a hereditariedade lhe destinou e alcanar o equilbrio morfolgico e fisiolgico do adulto, que constitui a perfeio do ser. Respeitar o crescimento, a lei natural do crescimento, o principal dever do educador, e tda a educao se tem de subordinar a esta questo de medida: no perturbar a lei natural do crescimento. O pso no cresce como deve ser? Diminui, pra, aumenta de mais ou de menos? Um problema se pe. O regimen de vida ou de educao provavelmente no o que convm. Modifique-se e observe-se, por exemplo por meio da balana, a influncia das modificaes. A balana guia a higiene, e na higiene assenta a educao. Por isso, com razo dizia eu no Congresso da Liga Nacional contra a Tuberculose, em 1907, e o repetia no Congresso Pedaggico do ano passado: O problema escolar essencialmente um problema mtrico. Mas mesmo que a medida do pso e sobretudo [31] a da sua evoluo no servisse, como serve, para julgar da sade e do estado da nutrio da criana e por le aferir o valor do meio em que a criana vive e dos meios educativos de que se serve quem dela cuida, mesmo que o estudo das variaes do pso no tivesse grande significao para os educadores, ainda assim, como muitas vezes vos tenho dito, valeria a pena ensinar o professor a pesar a criana. Mais do que uma vez, na realidade, vos tenho afirmado que uma das vantagens do ensino da pedologia aos futuros professores est e ......Buy Now (To Read More)

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Shipping

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