Memoria dos feitos macaenses contra os piratas da China

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Author: Andrade, José Ignacio de,1780-1863
Format: eBook
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Memoria dos feitos macaenses contra os piratas da China

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Author: Andrade, José Ignacio de,1780-1863
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Memoria dos feitos macaenses contra os piratas da China - e da entrada violenta dos inglezes na cidade de Macáo

Title: Memoria dos feitos macaenses contra os piratas da China Subtitle: e da entrada violenta dos inglezes na cidade de Maco Author: Jos Ignacio de Andrade Release Date: May 17, 2011 [EBook #36163] Language: Portuguese Credits: Produced by Rita Farinha, Alberto Manuel Brando Simes and the Online Distributed Proofreading Team at https://www.pgdp.net (This book was produced from scanned images of public domain material from the Google Print project.) Nota de editor: Devido quantidade de erros tipogrficos existentes neste texto, foram tomadas vrias decises quanto verso final. Em caso de dvida, a grafia foi mantida de acordo com o original. No final deste livro encontrar a lista de erros corrigidos. Rita Farinha (Maio 2011) MEMORIA DOS FEITOS MACAENSES CONTRA OS PIRATAS DA CHINA: E DA ENTRADA VIOLENTA DOS INGLEZES NA CIDADE DE MACO: AUCTOR JOS IGNACIO ANDRADE. SEGUNDA EDIO. LISBOA: NA TYPOGRAFIA LISBONENSE 1835. Largo de S. Roque N. 12 A C. Dias. Rien ne peut arretr dans leurs projets nouveaux Ces Portugais ardens qui volent sur les eaux, O' com bien de hros guiderent leur audace! Que de faits immortels ont signal leur trace! Esmenarde, C. V. pg. 26. PROEMIO. Quanto arriscado escrever feitos gloriosos de homens, que ainda vivem! No s os seus inimigos, mas tambem os feridos do orgulho, ou da inveja, saro a vociferar contra a mesma evidencia. Ha quem julgue mais prudente calar as grandes aces dos heroes em sua vida. Mas porque se ha de recusar este premio s pessoas, que o ganharam a risco da vida e fazenda?[1] Por se temer a mordacidade dos zoilos? Eis a fraqueza, que no tenho. Transmittindo a verdade aos vindouros, e dizendo o que fizeram os Portuguezes dignos deste nome; se fr censurado por alguns, louvaro outros o meu zelo. [5] INTRODUCO. De todos os espectaculos, que a industria humana tem dado ao mundo nenhum mais admiravel do que a navegao. Entes fracos e mortaes filhos da terra ousaram transportar-se sobre elemento inestavel e perigoso, levantar edificios em cima das aguas, dominar os ventos, e voar s extremidades do mundo por baixo de Ceos desconhecidos. Mas qual a sorte do homem? Dotado de corao to perverso, quanto o espirito grande; o crime assenta-se ao lado do genio. De todas as invenes sublimes tem os homens abusado. Dos vegetaes extraram venenos: do ouro a moeda que tudo corrompe. As artes serviram-lhe para multiplicarem os meios de se destruirem. A navegao , sobre tudo, origem de mortandades; o mar tornou-se campo de carnagem; e as ondas foram ensanguentadas pela guerra. As duas partes do globo oriente, e occidente, [6] terra e mar, so igualmente o theatro das desgraas e crimes do homem: com a differena, que dilatando as vistas e passos ao longo do continente, descobrimos ruinas e despojos do ferro e fogo; campos e ermos incultos; porm o mar sendo tumulo de grande parte da humanidade, nenhum vestigio offerece de tantos estragos. Todos os dias passa o navegador com despejo por cima das ondas, que tem engolido milhares de homens. Quem no desejar voltar aos tempos felizes de ignorancia e parcimonia, em que nossos avs menos grandes, porm menos criminosos, sem industria, mas sem remorsos, viviam pobres e virtuosos, e morriam nos campos que os tinham visto nascer.[2] custa das vidas portuguezas formaram os nossos antepassados um estabelecimento na China: os nossos contemporaneos foram de novo obrigados a ensanguentar as ondas para submetter Cam-pau-sai s leis do imperio; e a usar prudencia consummada alm [7] do valor, a fim de livrar Maco da invaso britanica.==Nada ha mais proveitoso que a historia para adquirir prudencia, (diz Jeronimo Osorio) nem mais poderoso do que ella para despertar virtudes, mais saudavel para sanar as feridas da republica, nem mais aprasivel para o deleitamento da vida. Mas segundo os homens foram sempre, no crm nunca feitos, quem sahm lm do seu engenho e posses; nem ha meio que admittam o que sobrepuja os termos de trivial esforo, e usada industria.==Todavia os feitos exarados nesta memoria jmais sero desmentidos; e podem despertar virtudes. A China por ns ha muito tempo ignorada, depois inteiramente desfigurada, e hoje melhor conhecida do que algumas provincias da Europa, o imperio mais antigo, extenso, e florecente do globo. Pelo ultimo censo, feito no seculo passado, foram avaliados os seus habitantes em duzentos milhes de almas. O rendimento annual sobe a quinhentos milhes de cruzados. Sustenta oitocentos mil soldados, e trezentos mil cavallos, que emprega nas armas, e correios publicos. [8] Ha tempo immemoriavel so os imperadores tambem pontifices do imperio; para que as authoridades civil, e religiosa nunca se achem em conflicto. Adoram um Deus unico; e offerecem-lhe as primicias de um campo lavrado, todos os annos em dia solemne, por suas proprias mos. Alento exemplar agricultura, primeira base da independencia e prosperidade nacional. Pela maxima da tolerancia geral seguida no oriente, admittem-se os bonzos de todas as religies, e deixam-os espalhar os seus desvarios: mas se chegam a amutinar o povo, so logo enforcados. Assim os toleram e os reprimem. O imperador Cham-hi mandou gravar no frontispicio da sua capella:==O Chang-ti no tem principio nem fim: creou e governa tudo: summamente bom e justo.== Os Chinezes em geral so polidos e virtuosos. O Imperador tem uma s mulher legitima, mas pde segundo as leis do Imperio ter grande numero de amasias. A sorte destas triste, por viverem encerradas. Pagam com a privao em que vivem da [9] sociedade, a honra de satisfazer ao imperante, a qual devem formosura, e no ao nascimento, que os Chinezes desapreciam, quando no accompanhado da virtude. Os Colos e mandarins letrados so mais estimados no imperio do que os militares. Entre o grande numero dos primeiros ha seis que acompanham a crte. O colo mais antigo e de maior merito nomeia os mandarins para todos os empregos superiores, e os manda punir se no cumprem com o seu dever; o segundo cuida nos cultos, e dispe as ceremonias da crte; o terceiro o Ministro da Justia; o quarto administra a fazenda; o quinto preside no ministerio da guerra, e determina tudo, quando preciso sustentala; o sexto tem a seu cargo as obras publicas. Ha outros que deliberam com o Imperador sobre os negocios do Estado. Alm disso tem censores publicos de officio. Em cada uma provincia ha um Sunt (delegado imperial) com tres mandarins letrados debaixo das suas ordens. O primeiro conhece das causas civis e criminaes; o segundo recebe [10] os tributos; o terceiro mantm a segurana publica. Para chegar a ser mandarim preciso passar por tres gros, como os nossos de Bacharel, Licenciado, e Doutor: destes so tirados os colos. O governo no despotico como se pensa. Os mandarins oppem-se aos seus decretos, quando so contrarios s leis do Estado. Querendo certo Imperador abusar do poder, um mandarim escreveo-lhe pelo modo seguinte:Senhor sei que me arrisco em offender o vosso amor proprio, mas devo preferir a morte perda da honra: no posso deixar de vos advertir, que o mo exemplo dado por vs ao Imperio nos lana a todos no abysmo.O Imperador foi generoso para no se agravar, mas no o foi para mudar de conducta. Todos os mandarins esperaram occasio para lhe mostrar serem dos sentimentos do primeiro. No tinha o Imperador filhos legitimos, e pelas leis do Estado devem ser chamados successo do Imperio os bastardos, preferindo sempre o primogenito. O Imperador tinha grande affeio a um dos outros: pretendeu [11] que o reconhecessem, com perjuizo do mais velho. Os mandarins representaram ao Imperador a injustia que pretendia fazer: este por isso privou alguns dos empregos. Aquelles publicaram um aviso dirigido a todos os mandarins anexos crte para se acharem um dia aprazado no logar ordinario. Ahi decidiram em junta que visto o Imperador desprezar as leis do Estado, deviam elles desistir dos seus empregos e ir para suas casas viver como particulares: assim o executaram. O Imperador entrou em seus deveres: mandou aos mandarins que tornassem aos seus empregos, que estava pelo que elles entendiam. Assim obedeceram todos lei. Os mandarins ganharam nesta occasio honra por sua firmeza, e o Imperador por sua prudencia. O tribunal da historia, para tudo ser conforme, surdo s supplicas, ou ameaos dos imperantes. Na sala do tribunal ha um cofre, onde cada historiador lana suas memorias sem as communicar a pessoa alguma. No fim de cada reinado abre-se o deposito, e dos escriptos alli achados formam os annaes [12] do Imperio: Para conhecer o espirito deste tribunal basta o caso seguinte: Tai-te-song, Imperador da dynastia de Tang, rogou ao presidente do tribunal, que lhe mostrasse as memorias que deviam formar a historia do seu reinado. Senhor, deveis saber, que damos conta exacta dos vicios e das virtudes dos Soberanos, e que deixariamos de ser livres se consentissimos no que exigisO Imperador tornou:Pois vs que me sois to obrigado, pretendeis levar posteridade os meus defeitos?Com summa dr os escreverei, mas tal o dever do meu emprego, que me obriga a levar posteridade a preteno, que hoje tivestes de mim. Em todos os paizes as leis punem os crimes, na China fazem mais premeiam a virtude. A noticia de uma aco generosa, de uma virtude extremada, assim que se divulga em qualquer provincia, obrigado o mandarim de policia a participala ao Imperador: este manda logo quelle subdito um signal, que o distingue no caminho da virtude. O certo , que os vicios e as virtudes dos povos nascem da sua legislao: esse conhecimento [13] deu talvez motivo a esta boa lei dos Chinezes.Para fecundar o germen da virtude, os mandarins participam da gloria, ou da vergonha das aces virtuosas ou injustas commettidas em seu governo. A moral, a obediencia s leis, e o culto ao ente supremo, formam a religio do Estado. O Imperador no s pontifice, mas tambem o primeiro orador do Imperio. Seus decretos so quasi sempre lies de moral. Subsistem ha mais de quatro mil annos com a mesma forma de governo, as mesmas leis e costumes, sempre estudiosos e apreciadores das letras. Com tudo o povo idolatra; os letrados deistas, sem acreditarem em revelao alguma, nem na vida eterna. Dados ao estudo das leis, desprezam por ellas os dogmas e ritos de seus bonzos. Em verdade estes so ignorantes, supersticiosos, credulos e ambiciosos de riquezas. A maior parte dos Chinezes observam as seguintes maximas de Confucio. Lembra-te que s homem, a tua natureza fraca, podes succumbir. Afasta de ti os obstaculos que te embaracem o caminho da virtude. [14] O homem bom occupa-se de suas virtudes: o mo de suas riquezas. Aquelle trata do interesse da patria: este s no seu cuida. Faze aos outros o que desejas te faam: eis a unica lei que te precisa. O silencio indispensavel ao sabio; este despreza sempre os rasgos da eloquencia por inuteis; explica-se por suas aces. O ceo falla, mas por que modo nos diz elle ser o Soberano principio de todas as cousas? O seu movimento a sua linguagem: creou e deu impulso natureza, e esta como filha sua obedece-lhe e produz. Quando se trata da saude da patria despreza-se o perigo da vida. O ganho do imperante avalia-se pela felicidade publica. Estas poucas regras bastam para se fazer perfeita ida da moral Chineza. Por morte de Afonso de Albuquerque, em 1515, succedeu-lhe no governo da India Lopo Soares de Albergaria: no principio do anno de 1517, mandou este uma esquadra de nove embarc, em 1515, succedeu-lhe no governo da India Lopo Soares de Albergaria: no principio do anno de 1517, mandou este uma esquadra de nove embarcaes commandadas por Ferno Peres de Andrade, levar ao Imperador dos [15] Chinezes o Embaixador Thom Pires, como El-Rei D. Manoel lhe tinha ordenado. Por motivo de grande temporal arribou a frota a Malaca, e s pde sair daquelle porto, para estrear as quilhas portuguezas no mar da China, em Junho do mesmo anno. J os nossos sabiam, pela amisade contrahida em Malaca, com os Chinezes, a que rumo lhe demorava Canto: foram s ilhas visinhas daquella cidade por onde enviaram o nosso Embaixador crte. Quando alli aportou o nosso Andrade, achou uma frota Chineza destinada a combater os piratas, que infestavam aquelles mares. Sendo Ferno Peres de Andrade benefico e destemido, anniquillava preversos, e attrahia qual iman os discipulos de Confucio. Largou aquelle Imperio deixando nelle as cem trombetas da fama apregoando sua magnanimidade. Do meu arco possante Hoje o famoso Andrade Alvo ser: seu nome triunfante No porto surgir da Eternidade.[3] [16] Assim que largou de Canto chegou alli Simo de Andrade, com outros: procederam de forma, que perderam, em credito, tudo quanto Ferno Peres tinha adquirido. Usaram to grandes violencias, que os Chinezes resolveram tratalos como a piratas. Equiparam grande frota, e cercaram os portuguezes por todos os lados. Se no fra um temporal, que abrio caminho por onde fugiram, ficariam todos prisioneiros. Depois de tal desar das armas e da honra portugueza, chegou alli Afonso Martins de Mello, ignorando o que se tinha passado. Assim que os mandarins o descobriram reuniram a sua frota para atacalo. Martins de Mello, dizia-lhe, que ia levar paz e no guerra; mas estes s lhe respondiam por bocas de fogo. Travou-se o combate; os nossos succumbiram. Assim que Martins de Mello vio perdidos todos os recursos, cortou a linha inimiga como raio abrazador, e ganhou o mar largo, deixando os Chinezes pasmados de tal audacia. Foi preciso que os portuguezes com seu valor e prudencia, fizessem esquecer aos Chinezes a memoria do immoral Simo, para [17] serem outra vez recebidos em seus portos. Recuperada a boa f entre as duas naes obtiveram os portuguezes, em recompensa de servios prestados ao Imperio, o isthmo do Sul na ilha de Maco, para levantarem casas, debaixo de certas condies; mas fizeram delle uma cidade a que deram o nome da ilha. Foi no anno de 1557, que o Imperador da China concedeu aos portuguezes aforarem aquelle isthmo em premio de terem anniquilado a esquadra do pirata Chang-Silau. Em 1584 prometteram os macaenses obediencia a Filippe II, porm a bandeira portugueza tremulou sempre nas fortalezas de Maco. Em 1586 recebeu Maco o titulo de cidade do nome de Deus na China, e todas as liberdades e preeminencias, que tinha a cidade de Evora, cujos foros se confirmaram em 1709. Em 1622 tendo Maco apenas 80 portuguezes, e alguns cafres, foi atacado por 800 hollandezes: deixaram 500 mortos, e 100 prisioneiros; os restantes fugiram largando em [18] nosso poder 8 bandeiras, armas e bagagens. Antes de fazerem o desembarque, pediram a dois navios inglezes, surtos na bahia, para ajudalos; estes no duvidaram, mas exigiam o fruto de todo o saque. Os hollandezes rejeitaram: julgaram muito excessiva a ambio dos inglezes. De 1557 at 1625 foi Maco governado pelos capites de navios do Estado, que todos os annos iam de viagem ao Japo, e faziam escala naquella cidade. Com esses governadores teve prosperidade. Em 1626 foi de Goa para Maco D. Francisco Mascaranhas para Governador com o titulo de Capito Geral. Comeou no seu governo a desintelligencia com o Senado, e a dissoluo praticada pelos Governadores. Este foi grande assassino, grande roubador e forador cruel das mulheres e filhas dos cidados. Levou os macaenses a tal desesperao, que o mataram, a fim de se verem livres de to horrendo monstro. Em 1641 chegou alli a noticia da feliz aclamao do Senhor D. Joo IV: os macaenses logo romperam os grilhes de Filippe, e [19] mandaram grande donativo capital do Rei legitimo. Em 1709 soffreram segundo Verres; Diogo de Pinho Teixeira; chegou a mandar bombardear o Senado, onde ferio e matou, por no consentir em suas prepotencias. Em 1726 chegou a Maco o Embaixador Alexandre Metello de Sousa Menezes, mandado por El-Rei D. Joo V. ao Imperador da China. Os moradores daquella cidade cooperaram muito para sustentar-se o decoro nacional naquella embaixada. Em 1747 foi governar Maco, Antonio Jos Telles: espantou os algozes do Imperio Chinez por suas crueldades. Levou aquelle estabelecimento aponto de perder-se. Esta cidade celebre pela riqueza de seu trato, illustre pela fama de nossas victorias, situada na latitude de 22 14 gros ao Nrte do Equador, e 122. ao Oriente de Lisboa. Seus habitantes pouco distam dos nossos periecos; motivo talvez por que o Padre Antonio Vieira disse: que a espada dos portuguezes tinha chegado, onde no alcanou a penna de Santo Agostinho. Tem de extenso a cidade pouco mais [20] de uma legua. Do lado do Norte defendida por grossa muralha guarnecida de fortins: e do Sul por tres fortalezas. A de S. Francisco na parte oriental da Praia Grande; a do Bom porto na ponta occidental e a de Sant-Iago que defende a entrada da barra: tem mais entre as primeiras duas, o forte de S. Pedro. No centro a fortaleza do monte domina toda a cidade. Alm destas fortalezas tem outra sobre o monte da Sr.a da Guia, fora dos muros da cidade. As casas so bem edificadas, mas as ruas desiguaes. O porto bom: podem entrar nelle navios em lastro de oitocentas tonelladas. Tambem podem surgir ao largo nos de 74. A povoao de 20 mil individuos, a maior parte Chinezes. O Governo o Senado composto de dois Juizes ordinarios, tres Vereadores, um Procurador, e um Escrivo. O Governador militar ou Capito Geral, e o Ouvidor, so chamados ao Senado, quando ha negocios politicos, ou de fazenda. Neste caso preside no Senado o Capito Geral, e tem voto de qualidade. A tudo o que relativo ao governo municipal preside o Vereador do mez. Os macaenses so to zelozos das suas liberdades, [21] que at na meza das sesses do Governo tiraram ao Presidente a regalia de ficar isolado no extremo della. Sendo nove os membros, collocaram a meza dentro de uma tribuna de modo, que ficam tres de cada lado; a frente livre para entrar e sair. Sobre a meza descana um extremo da vara da Justia, e o outro fica encostado na parede por cima da cabea do Ministro: um delles (Lazaro da Silva Ferreira) assombrando-se com ella tocou-lhe de proposito para a fazer cair, e mandou-a tirar, dizendo lhe ferira a cabea. Os Senadores mandaram por-lhe um gancho no extremo, e uma argola na parede para segurar assim a insignia da Justia. Outro dia o Ministro ao entrar tocou-lhe para caindo lanala fora: ficou surpreso ao ver, que estava segura. O Vereador do mez tirou-o do embarao dizendo:Tributamos to grande respeito a nossos maiores, que no podemos prescindir deste seu costume; e presamos tanto a V. S.a, que para no o ferir a vara da Justia mandamo-la segurar. Ha um Bispo, e um Batalho de naturaes de Goa, commandados por Officiaes macaenses; [22] guarnece as fortalezas, e faz as rondas da cidade. Seus rendimentos so os direitos da Alfandega. As minhas viagens China deram-me occasio para conhecer os descendentes dos honrados portuguezes, que no tempo do nosso captiveiro debaixo do pezado grilho dos Filippes tivero a constancia e valor de conservar illesos os foros nacionaes naquelle canto do mundo. Ainda que logravam a amizade dos Chinezes, s tinham seus braos para se defenderem das naes da Europa, que alli foram atacalos. A historia diz pouco cerca dos grandes feitos macaenses daquella poca.[4] Apenas dessas grandes aces ha hoje pintadas algumas mais notaveis na S e Senado de Maco. Tudo o mais se tem perdido com os heres, que to dignos eram de memoria eterna. Em 1808 foram os macaenses atacados por tal forma, que a no terem herdado o valor de seus maiores, de certo succumbiriam[Nota 1]. Fui testimunha de feitos mui gloriosos. Os portuguezes [23] nesta poca mostraram-se grandes nas armas, e na politica; nas armas pelo valor com que tomaram a grande esquadra de Campau-sai, na politica, pelo bem que se houveram com os Chinezes e Inglezes. Salvaram Maco de nadar em sangue; acreditaram-se com os primeiros; e foram uteis aos segundos. Deixarei to nobres aces no esquecimento maneira de nossos maiores? No: farei diligencia para as transmittir posteridade. Se no forem uteis aos presentes, se-lo-ho por certo aos vindouros. No ha cousa mais capaz de fortalecer nossas almas, do que as proezas de nossos avs. Julgo de obrigao referilas a nossos ntos. Maco monumento precioso da gloria portugueza. Ferno Peres de Andrade, foi quem primeiro immortalisou os portuguezes naquella parte do mundo. Ver-se-ha firmado pela mo dos Chinezes, que ainda temos grande considerao naquelle imperio. Contendo esta memoria dois objectos differentes, julguei a proposito lanalos em separado; ainda que um principia antes e acaba depois do outro. Pegaram os macaenses s mos com os piratas em 1805: A esquadra [24] ingleza aportou em Maco a 18 de Setembro de 1808, e saiu a 10 de Dezembro do mesmo anno. O Tratado entre o Governo Chinez e o Macaense, para a completa derrota da esquadra de Cam-pau-sai, foi assignado em 23 de Novembro de 1809, e concluido to importante negocio em Abril de 1810. Para o leitor vr sem custo as grandes difficuldades, que em Maco se venceram, dividirei, esta memoria em duas partes. Tractarei na primeira da extinco dos piratas. Cousas ha nesta parte, que se fossem praticadas em tempos mais tenebrosos, seriam tidas por milagres, sendo s o esforo de almas valorosas que mandaram seus braos com a penna e espada obrar taes prodigios. Na segunda fallarei da invaso dos inglezes em Maco, da sua e nossa conducta, assim como da politica Chineza, e do final resultado. Em Athenas, eram os famosos oradores quem celebravam os heroes de Salamina; e tinham por ouvintes os Socrates e os Pericles. Eu no tenho os mesmos talentos, e tenho juizes no menos temiveis. Mas em objecto desta natureza a eloquencia consiste em ser sincero. [25] PRIMEIRA PARTE. Ao valor dos Portuguezes deve o Imperio da China ver-se livre dos piratas, que por duas vezes pertenderam dominalo. A primeira foi obra dos Lusitanos do seculo XVI: a segunda de seus descendentes nossos contemporaneos, a tempo que seus irmos na Patria anniquilavam as aguias do oppressor da Europa. Depois que no seculo XVI os piratas foram destruidos, tentaram formar novo partido; e pouco a pouco engrossaram seu numero e fora de modo, que em 1805 estavam senhores de grande esquadra, bem guarnecida de artilheria, e com perto de quarenta mil homens de tripulao. Tendo morrido o Chefe dos piratas ficou sua mulher, no s herdeira do posto, mas tambem da sua audacia no exercicio da piratagem. Assim que tomou posse do commando de to grande poderio, dividio-o em duas esquadras, e deu o commando dellas a dois parentes do marido, que mais se tinham acreditado debaixo das suas ordens. A primeira e mais possante coube ao [26] celebre Apcha, que depois se chamou Cam-pau-sai, e onde sempre residio a viuva. Apau-tai foi commandar a segunda, composta de 130 embarcaes, e com bandeira preta. Cam-pau-sai, homem forte, ardiloso e emprehendedor, depois de ter ganhado o affecto dos seus, teve arte de dispolos a executar qualquer empreza que imaginasse. Com effeito concebeu projecto to elevado, que bem se pode comparar com o de Afonso de Albuquerque, quando pertendeu tirar da Meca o corpo do Profeta, e mudar a direco do rio Nilo, fazendo-o desaguar no mar roxo para anniquilar desse modo os Turcos no Egypto! Cam-pau-sai tentou coroar-se Imperador dos Chinezes, e lanar a dynastia Tartara para o Norte da grande muralha, que a divide da China. Comeou a fazer guerra to atroz, que no s paralisou o commercio maritimo nas costas meredionaes do Imperio, mas tambem fazia desembarques no continente, e arrasava todos os logares por onde passava. Sendo a Cidade de Canto a mais rica e a mais commerciante, quiz embaraar alli o negocio com os europeos. Para esse fim veio postar [27] suas foras na emboccadura do rio Tygre, e em todos os canaes que formam as ilhas visinhas de Maco. Assombrando assim Cam-pau-sai os mares das ilhas da China com seu poder, no se limitou a perseguir seus irmos Chinezes, tambem se atreveu a insultar os navios da Europa. Vendo o Governo de Maco o risco em que ficava, rodeado de immensa fora inimiga, na estao em que todos os navios da praa se achavam ausentes; mandou a Bengalla fazer um brigue para ficar de guarda costa, em quanto estes no se recolhiam: porque em os piratas sabendo, no haverem navios dentro do porto, que os fossem acommetter, chegavam quasi ao alcance da artilheria das nossas fortalesas, para embaraarem os mantimentos, que todos os dias entram na Cidade. Deu-se tanta pressa factura do brigue, que do momento em que se lanou a quilha no Estaleiro, at sair da barra fra, s mediaram vinte e oito dias! Quando chegou a Maco estavam os piratas tam destemidos, que o Governo julgou ser insufficiente to [28] pequena fora, para os afastar da Cidade. Comprou mais o navio Arriaga, a que deu o nome de Ulises, e mandou-o armar, abrindo-lhe uma bateria na coberta. Assim que estas duas embarcaes comearam a bater os piratas, estes no ousavam aproximar-se dellas. Com tudo ainda faziam damno ao commercio; porque os nossos vasos no podiam entrar nos pequenos canaes, onde elles o interceptavam. Alli podia a esquadra Imperial fazer-lhe algum ataque; mas o respeito devido a Cam-pau-sai, tirava a lembrana de o acommetterem. Passou o anno de 1806, e parte de 1807, sem que os piratas arriscassem entrar em combate com os nossos. Esperavam achalos separados, e em parte onde no se podessem soccorrer; no entanto iam devastando a provincia de Canto. Meado o anno de 1807 achou o nosso brigue em boa posio para atacalo. Mandou uma diviso commandada por um de seus Capites mais experimentados, que o fosse combater. Commandava o nosso brigue, o valente e destemido Pereira Barreto. J nesse tempo havia adquirido tam grande credito [29] entre os Chinezes, que lhe chamavam o Tygre do mar.[5] O impavido Barretotinha valor para investir com toda a esquadra de Cam-pau-sai, quanto mais com uma de suas divises. Assim que a julgou ao alcance da artilheria, virou sobre ella fez-lhe fogo to vivo, e estrago to grande, que todos fugiram deixando a Capitana s mos com o brigue. Vendo o forte Barreto, que a artilheria inimiga ra de maior calibre, resolveu abordar o Ta[6]. Deve imaginar-se uma grande lancha dando abordagem a uma No. Assim parecia o brigue junto ao Ta, e apenas tinha um quinto da equipagem do navio inimigo. Todavia o forte Barretodirige a sua embarcao ppa do Ta. Quando se lhe botavam os arpos lanaram os piratas uma bala de fogo dentro da pra do brigue, que decerto o abrazaria, se o previdente Barreto no corresse a lanala ao mar. A este tempo unem se as embarcaes; Barreto o primeiro que trpa pelo Ta acima, e to depressa pde firmar os ps sobre a tolda inimiga, cantou victoria: [30] Saltando a far s com lana e espada De quatro centos mouros despejada[7] Barretousava de espada colubrina, e manejava de sorte que dos setenta homens, equipagem do brigue, os que poderam subir disseram, que chegando acima, viram a tolda coberta de mutilados! Achou o nosso heroe to porfiada resistencia, que todos foram mortos porm nenhum vencido, ou aprisionado. Os que pertenderam escapar aos golpes do nosso Marte irado, lanaram-se ao mar. O seu Chefe, vendo-se perdido desceu camara, pegou em sua mulher pelos cabellos, cortou-lhe a cabea com o alfange, e sepultou-se no mar com ella.[8] Este combate foi dado perto de Maco; Barretoconduzio immediatamente a preza ao porto. Os macaenses e muitos estrangeiros, foram logo dar o parabem a to valente Capito, e ver o navio inimigo. Ficaram horrorisados da carnagem, porque os piratas s se rendiam com a morte. Haviam seculos, que j se no faziam d'estas proezas; e at [31] nos parecia impossivel, que no tempo de Cames, D. Loureno de Almeida fosse bastante para debellar em uma No da Mca quatro centos mouros. Mas ainda em nossos dias mostra o entendimento supremo, que um portuguez s com seu brao sufficiente para destruir em um Ta mais de 300 Chinezes. Esta verdade precisa quasi de tanto valor para escrevela, como para obrala, ainda sendo evidente ao escriptor; mas qualificada pelos habitantes de uma cidade, onde residiam subditos de varias naes. J o nosso Diniz cantou as victorias de outro Barreto; justo que to divino estro sirva para immortalisar os dois. Lavremos pois, oh! Musa, gran memoria Com argivo buril padro sagrado: Morda-se o tempo irado, Que ella eterna far a clara historia Alma que atraz da fama immenso espao Corre, veja em meus hymnos Que em vo no sua bellicoso brao.[9] Por feito to assombroso ficou Maco em socego. Os piratas retiraram-se para longe, mas sempre fazendo estrago em tudo que podiam [32] vencer. A esquadra imperial com a noticia d'esta victoria animou-se a sair de Canto e aproximar-se de Maco, cruzeiro que ella j no ousava fazer com receio dos piratas. A brilhante proeza do invicto Barreto fez desapparecer das ilhas da China aquella praga devastadora: por consequencia o Governo de Maco mandou recolher as suas embarcaes. Sabendo-se na China, que o Sr. D. Joo VI tinha deixado Portugal para reinar no Brazil; lembraram-se os macaenses de mandar cumprimentar o Rei dos Lusos nas suas possesses do polo antarctico. Apromptaram o navio Ulises, nomeando para ir saudar El-Rei, pelo Senado, ao honrado cidado Antonio Joaquim de Oliveira Matos; e deram o commando da embarcao ao denodado Barreto. Destinando-se aquella enviatura a obsequiar o Chefe dos Lusos, pensaram no ser pequeno mimo fazer-lhe conhecer quem tanto honrava o nome portuguez. Foi o nosso heroe recebido no Brazil, quasi da mesma sorte que os Dias, e os Gamas, recolhendo-se de suas trabalhosas viagens, eram recebidos pelos antigos [33] reis portuguezes. O Sr. D. Joo VI o elevou de primeiro Tenente a Capito de Fragata: Premiou os macaenses: deu-lhes distinctivos, que foram assaz estimados, talvez por se esquecerem das altas virtudes de seus maiores, que os despresavam por bons costumes. Affastado Cam-Pau-Sai de Maco por temer os portuguezes, no esfriou em sua empreza. Comeou ento a proclamar a todos os do seu partido a tyrannica oppresso, que sofria o imperio, por consentirem no thorono a intrusa dinastia barbara. Demonstrou-lhe quo facil ra depr aquella, restabelecer a Chineza, e fazer a cada um dos seus regulo do imperio. Tal pericia desenvolveu na piratagem, e na persuaso, que j os seus no duvidavam ser elle o unico capaz de restaurar a dignidade da Patria. Andavam assim de animo affeito guerra, quando tiveram a feliz noticia, de j no existir em Maco o tygre do mar. Voaram como bando de Aores famintos a devorar tudo quanto podiam encontrar pelas ilhas visinhas de Maco. No esperando o Almirante Chinez aquelle infausto encontro, cruzava afoito na [34] bocca do Tyre. Assim que foi descoberto por Cam-pau-sai, carregou sobre elle. Uma diviso imperial de 28 navios de 15 a 20 peas cada um, que no fugio para fazer-lhe frente, ficou prisioneira. Soberbo com essa victoria, comeou de novo a investir as embarcaes da Europa, e as macaenses. Nesta epoca alguns navios Americanos se poderam escapar ao abrigo das nossas fortalezas. Recolhendo-se de Goa o brigue do Botelho, Capito Manoel Jos Vianna, foi visto dos piratas; carregaram sobre elle; mas acharam to grande resistencia naquelle esforado Capito, que restando apenas seis homens da sua equipagem, com elles fazia grande estrago ao inimigo. Com tudo o fogo abrandou, pelo cansao; mas vendo Apautai, que no arreavam bandeira, mandou abordalos. O impavido Vianna ao ver-se rodeado de torres ambulantes e coberto de lanas, longe de esmorecer, tomou em sua alma o espirito de Duarte Pacheco; e imitao dos nossos Barretos, quantos inimigos lhe saltavam na sua embarcao, tantos a sua espada lanava no abysmo. Os Chinezes espantados j no o julgavam [35] homem, mas sim algum ente superior especie humana. Parecia invulneravel! Com tudo morreu no combate. Mas como? Canado de matar piratas. Cem paros torreados, Donde por boccas mil brota Mavorte; Entre horrorosos brados Em fogo, em fumo, em sangue envolta a morte Zarguchos, flexas, que em chuveiro voam.[10] Tal foi o combate supportado pelo Magnanimo Vianna. Com a sua morte ganharam os piratas tal audacia, que tiveram a ousadia de passar com o navio prisioneiro, e com a bandeira de rasto, vista de Maco. ......Buy Now (To Read More)

Product details

Ebook Number: 36163
Author: Andrade, José Ignacio de
Release Date: May 17, 2011
Format: eBook
Language: Portuguese

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