A princeza na berlinda

A princeza na berlinda

A princeza na berlinda - Rattazzi a vol d'oiseau, com a biographia de sua Alteza Title: A...
CHF 5.94
CHF 11.88
CHF 5.94
SKU: gb-20103-ebook
Product Type: Books
Please hurry! Only 10000 left in stock
Author: Castro, Urbano de,1850-1902
Format: eBook
Language: Portuguese
Subtotal: CHF 5.94
10 customers are viewing this product
A princeza na berlinda

A princeza na berlinda

CHF 11.88 CHF 5.94

A princeza na berlinda

CHF 11.88 CHF 5.94
Author: Castro, Urbano de,1850-1902
Format: eBook
Language: Portuguese

A princeza na berlinda - Rattazzi a vol d'oiseau, com a biographia de sua Alteza

Title: A princeza na berlinda Subtitle: Rattazzi a vol d'oiseau, com a biographia de sua Alteza Author: Urbano de Castro Release Date: December 13, 2006 [EBook #20103] Language: Portuguese Credits: Produced by Rita Farinha and the Online Distributed Proofreading Team at http://www.pgdp.net (This file was produced from images generously made available by National Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal).) RATTAZZI A VOL D'OISEAU URBANO DE CASTRO CHA-RI-VA-RI A PRINCEZA NA BERLINDA RATTAZZI A VOL D'OISEAU COM A BIOGRAPHIA DE SUA ALTEZA (segunda edio) LISBOA TYPOGRAPHIA PORTUGUEZA 7, Rua da Paz, 7 1880 A PRINCEZA NA BERLINDA No ser talvez mo comear por fazer uma declarao:nunca passei pelos beios os guardanapos da princeza... Parece-me conveniente dizer isto. A minha terra, que era pequena no tempo de Garret, no me consta que tenha crescido, depois da sua morte... Tem at diminuido um pouco... talvez! Foi pelos jantares que a princesa conseguiu tornar-se conhecida em Lisboa. Quando aqui chegou, vendo que ninguem a procurava, que a litteratura no corria pressurosa ao Bragana, cumulando-a de elogios banaes e de bilhetes de visita baratos, sentio dentro da sua alma a mordedura cruel do amor proprio offendido. E amor proprio de mulher, amor proprio de princeza! Calculem que dentada! Esperou, um, dois, tres dias... uma semana, outra... a litteratura no apparecia!Pois ha de apparecer! exclamou ellaE convidou-a para jantar. E a litteratura appareceu. [6] Os livros da princeza, que at ento ninguem conhecia em Lisboa, e que ella mandara adiante para os livreiros, como batedores da sua fama, comearam por essa epoca a ter uma tal ou qual extraco. No difficil advinhar quem os compravaeram os convivas dos seus jantaresComprehende-se. Realmente seria pouca amabilidade comer o foie gras de Rattazzi, e no dizer ao menos, no fim, que era admiravel o seu livro Si j'etais reine; beber o champagne da princeza, e no lhe segredar que nunca mulher nenhuma escrevera um volume como Nice la Belle. E a proposito dos livros citavam-se os trechos das paginas abertas, abril-os seria muito, e bebia-se mais um copo. A princeza, que inquestionavelmente uma mulher d'espirito, percebeu, o que de resto no era muito difficil, a manobra fraudulenta, como diz o sr. Duc nos livros de mortalhas, dos litteratos de Lisboa... Callou-se porm muito bem callada e continuou a dar-lhes jantares hebdomadarios. A concorrencia cada vez era maior. Houve sujeito que se fez litterato, s para jantar com a princeza. C fra, no Martinho e na Havanesa, esses jantares eram digeridos e commentados com a face vermelha e a palavra quente... Contavam-se anecdotas, que deveras pena no terem chegado aos ouvidos da princeza, porque, algumas d'ellas no so em nada inferiores a muitas que lmos no seu livro... E aqui est como madame Rattazzi conseguiu durante um mez ser uma notabilidade em Lisboa. Sua altesa, porm, em vez de contentar-se com esta gloria, embora de 2. ordem, lembrou-se um dia de querer uma gloria de 1. sorte, e escreveu uma comedia que, depois de muito applaudida em sua casa pelos seus commensaes, foi representada no theatro dos Recreios, a quem ella, com carradas de raso chama um calvario, visto que l teve... a cruz da pateada... Tambem que diabo de publico este de Lisboa... atrever-se a patear uma princeza... Se sua alteza tem a mania dos cumulos,e porque no a ter?sim, porque no ter sua alteza a mania dos cumulos, se a tem, impossivel que pelo seu preclaro espirito no tivesse passado esteo cumulo da selvageria:Patear uma princeza... [7] Ah! decididamente sua alteza no estava em sorte... Pas de chance! No hotel os convivas faziam muito mais despeza de iguarias do que de elogios; nos Recreios, o publico muita mais despeza de botas do que de luvas... Pas de chance! Foi ento, naturalmente, que o seu espirito se orientou na direco a dar ao Portugal vol d'oiseau. Ah! os senhores julgam que no mais do que comerem-me os meus jantares, do que patearem-me as minhas peas, esperem ahi que j os ensino! At aqui tenho-os recebido como convivas, agora vou passar a tratal-os como assumptos! Os senhores pensam, quando esto minha mesa, que so meus commensaes?pois enganam-se, so paginas para o meu livro! No sou eu quem os obsequeio aos senhores, os senhores que me obsequeiam. Escusam de dizer muito obrigado! eu que tenho que dizer-lhes merci! E escreveu Le Portugal vol d'oiseau. Lisboa j sabe pouco mais ou menos o que o livro . Os jornaes tem dado excellentes amostras d'aquella famosa pea... Porque no havemos ns de dar tambem algumas? Estes dois perfis da nossa nobreza, por exemplo... Venha primeiro o conde de *** O conde *** um dos meus valsistas, e um valsista encantador, entre parenthesis, no menos notavel. De muito antiga e nobre familia, verdadeiramente um dos typos mais salientes de Lisboa. Ora pelos cincoenta, mas [8] no obstante apparenta um grande ar de mocidade. Baixinho, apurado, e elegante, ha em toda a sua pessoa uma excessiva vivacidade. Esta vivacidade ser natural ou o resultado d'um estudo paciente para parecer ainda mais novo? Talvez que sim a avaliar a sua petulancia pelo mais. Os bigodes do conde de *** so mais negros do que o ebano. Mas isto no nada comparado ao craneo do encantador conde; o proprietario d'este craneo conserva n'elle alguns cabellos, raros, semeados aqui e ali, tratados com zelosos cuidados, e que puchados artisticamente para a testa, ahi occupam o maximo espao possivel para assim substituirem os ausentes. Para suprir os defuntos pe no cucuruto uma especie de pequeno crescenteno, eu nunca ousaria dizer chin fallando de to perfeito cavalheiroque se confunde graciosamente com os cabellos: depois cobre tudo isto com uma espessa camada de pez e summo de alcauz de que faz uma pomada a fogo lento; por fim o seu creado de quarto, confidente d'esta excentricidade, traa no meio d'esta pasta de raisin breton, uma risca d'uma delicadeza, d'uma puresa, d'uma nitidez a causar inveja a uma rapariga de quinze annos. Quando a cataplasma est secca, o conde pde apparecer no meio dos seus concidados. Todos conhecem o mysterio d'aquella cabea e ha delirios de alegria quando o excellente homem obrigado, em pleno sol ou em pleno baile, a andar de chapeu na mo, porque o calor tendo aco dissolvente sobre aquella untura, resulta d'ahi comear ella a mover-se, a palpitar, a derreter-se, acabando por escorrer pelo pescoo e pelo nariz do seu proprietario. No obstante o conde de *** um grande conquistador, um namorador que no perde occasio de deitar a sua olhadella, sendo porm capaz de praticar heroismos, como o demonstram varias circumstancias da sua vida. Conta-se este facto digno dos melhores tempos da monarchia. O conde era camarista da infanta D. Izabel, que morreu ha annos, em avanada edade, no seu palacio de Bemfica nos arrebaldes de Lisboa. Sendo os principes da familia real depositados na egreja de S. Vicente, situada n'um dos extremos da cidade opposto a Bemfica, o cortejo [9] funebre teve de percorrer duas leguas, a passo, em pleno mez de julho. O conde devia seguir a cavallo, uniformisado e de cabea descoberta, o corpo da sua real ama, debaixo d'um sol torrido, o que elle fez magnanimamente, sem trepidar, entregando aos abrasadores raios de Phebo a sua untura quotidianafacil presasem temer a troa dos graciosos que, no dia seguinte, alludindo liquefao do cosmetico, diziam por toda a parte que ninguem figurara no cortejo com o rosto mais tristemente cheio de luto do que o infeliz conde de ***. Igual a isto s aquella celebre caricatura do Antonio Maria... D-lhe cuspo... Agora o marquez de V. *** Como exemplo no, quero citar seno um dos meus amigos o marquez de V. ***. Vale bem a pena. uma personalidade, uma celebridade, uma curiosidade de primeira ordem. Em vo lhe procurariam rival na galeria do duque de Saint-Simon, e ainda menos na colleco to rica de Molire. Em certas festas de gala ou de representao exterior, o marquez de V. *** julga-se obrigado a seguir as carruagens da crte na sua equipagem, e esta equipagem que faz do nobre marquez uma curiosidade unica do mundo. Imagine-se um coche do seculo passado, envidraado de modo a ver-se todo o interior, montado sobre molas e rodas que fazem pensar nas machinas de Leviathan, tudo isto pintado de verde, cheio de dourados em alto e baixo relevo. No meio d'esta caixa throno, o marquez de V. *** s, de cabea descoberta, com o grande uniforme [10] d'uma ordem qualquer, com os olhos fitos na sua frente, parecendo contemplar em extase as abas da libr do seu cocheiro, no voltando a cabea nunca, nem para a direita nem para a esquerda: dir-se-hia uma estatua e no um homem. A carruagem atrelada a quatro cavallos, montados por dois postilhes e guiados por um cocheiro gorducho sentado n'uma almofada que parece um divan. Na taboa da carruagem dois enormes lacaios em p. Todo este pessoal vem empoado e veste uma libr verde claro que deslumbra a vista e faz piscar os olhos. No se pde imaginar nada mais original. Quando a cerimonia terminou e a parte official do programma est cumprida, o marquez faz gravemente o giro das principaes ruas e praas de Lisboa para se fazer admirar. Em Paris entraria em casa corrido a batatas cozidas. Aqui deixam-o em paz costume. Se eu fosse rei de Portugal prohibia a este fidalgo, sob as mais graves penas, de me fazer assim cortejo com a sua entrudada, mas, com isso, arriscaria talvez a minha cora. de justia acrescentar que o marquez de V. um homem instruido. Que seria, Deus meu, se o no fosse! Realmente est parecido... O Antonio Maria no o faz melhor... Depois d'estes perfis hilariantes como o protoxido de azote, tenha o leitor a paciencia de me acompanhar ao capitulo em que sua altesa nos d a honra de fallar dos nossos enterros. Dmos a palavra princeza: realmente coisa curiosa que acompanhando o pae os filhos ao cemiterio, estes no acompanhem os paes: no costume. Deixa-se este cuidado aos parentes mais affastados ou aos amigos. Porqu? No m'o poderam explicar: acho porm esquisito. Est no seu direito. Foi porm mal informada. Os paes [11] tambem no acompanham os filhos. Quanto a achar o caso estranho no tem de qu. O facto de em Frana os parentes mais proximos acompanharem os cadaveres dos seus defunctos no prova nada, seno que at na morte verdadeiro o dictado:Cada terra com seu uso... O que deveras esquisito, querer sua altesa que os costumes sejam os mesmos em todos os paizes. Para quem se prope escrever livros de viagem, no pde haver ponto de vista mais ridiculo nem mais acanhado. Continua a auctora:Quando uma pessoa morre, a familia no envia cartas de participao. Faz um annuncio nos jornaes, e est tudo prompto, visto que o dito annuncio termina invariavelmente por este clich: No se fazem convites especiaes attendendo ao estado de consternao indizivel em que a familia est... Comprehendo muito bem que a familia esteja n'um estado de consternao indizivel: entretanto, visto que esta consternao lhe permitte fazer annuncios nos jornaes, parece-me que, com um pequeno esforo, lhe permittiria tambem enviar cartas de participao impressas a casa de cada um, como se faz nos outros paizes. Resulta com effeito d'este costume que, se no se lerem os jornaes, ou antes os annuncios dos jornaes, pde muito bem acontecer deixar uma pessoa de acompanhar ao cemiterio o seu tio, primo, ou o seu melhor amigo. Foi ainda mal informada sua alteza. verdade que muitas vezes o annuncio funebre termina por aquelle molho, mas no menos verdade que rarissimas vezes se deixa de enviar cartas de participao. Sua alteza no recebeu nenhuma, e por isso naturalmente lembrou-se de nos ensinar como estas coisas se fazem nos paizes civilisados. Obrigado princeza. Quanto a no ter recebido carta alguma de participao desculpe:hei de mandar-lhe uma... quando morrer o meu Tareco. Coitada! Infeliz princeza! Ninguem lhe mandou carta de participao. Ento que se lhe ha de fazer, no nosso paiz os enterros sero tudo quanto quizer... mas no so entrudadas... A respeito dos chaves com que costume fechar annuncios funebres faltou-lhe ainda um. este:no se fazem [12] convites especiaes por expressa determinao do finado. Foi pena escapar. Que bella pagina humoristica no escrevia a princeza com thema to divertido! Mas nem s os enterros tem a honra de espantar sua alteza... O livro est cheio de exemplos do mesmo genero. Sente-se mesmo em algumas paginas que a princeza no chega a contar metade dos seus espantos... Qual metade!nem a decima, nem a centesima, nem a milesima parte... Porque a verdade esta:sua alteza apenas transpoz a fronteira comeou a sentir as dres... do espanto... Exactamente, agora que eu acertei... comeou a sentir as dres do espanto, e o seu livro, que at hoje ninguem sabia bem o que , passa agora muito logicamente a ser o feliz parto que a alliviou das citadas dres, logo que ella se viu em terreno conhecido, que como quem diria:logo que a natureza permittiu que o robusto menino visse a clara luz do dia... Espanto! Espanto! sempre espanto! Os portuguezes no dizem at manh dizem at manh se Deus quizerespanto: no acompanham seus paes ao cemiterio,espanto: as varinas carregam-se de oiro,espanto: vae muita gente aos bastidores de S. Carlos,espanto: dizemos um copo d'agua e no un verre d'eau,espanto: estamos a uma latitude e a uma longitude differentes de Paris,espanto: as nossas pulgas mordem,espanto: o nariz do sr. Minhava enorme,espanto: pomme de terre, chama-se batatas,espanto: uma precieuse ridicule uma tola... espanto! Espanto, espanto, sempre espanto! Porque no escreveu o seu livro tal qual o pensou princeza? Porque no nos deu, por exemplo, uma pagina n'este genero:Uma vez, tendo entrado casualmente n'uma egreja, approximei-me d'uma mulher que estava rezando, [13] em voz sufficientemente alta, para que se podesse perceber o que ella dizia... Approximo-me mais, e calculem o meu espanto, ao ouvir estas palavras:Padre, nosso, que estaes nos cus santificado... Accreditaro agora que isto quer dizer em portuguez:Notre pre qui tes aux cieux, que votre nom soit, santifi... Como diabo, perdoe-se-me a heresia, querero os meus bons amigos portuguezes que Nosso Senhor os entenda? E no seria este por certo o menos notavel dos seus espantos. Antes de passarmos adiante contemos um disparate que no deixa de ter graa. A paginas, no sei quantas, escrevendo a princeza que ns no fazemos uso de foges para aquecer as casas, diz pouco mais ou menos o seguinte:De resto, se fizessem uso d'elles, no se haviam de vr em pequenos embaraos para arranjar o combustivel, a no ser que deitassem a mobilia ao fogo. A lenha absolutamente desconhecida em Portugal, e custa cada kilo... tres mil ris! Oh! princeza, se vossa alteza quando esteve em Lisboa pagou a lenha por aquelle preo, devo dizer-lhe duas coisas:a primeira, que o seu livro passa a ser um favo do Hymeto, a segunda... que foi roubada! O que verdade porm que Lisboa deve um grande servio princesa. Nem mais nem menos do que a rusga feita s casas de jogo nos principios d'este mez. Se duvidam, leiam. Ha muito que no governo civil havia uma tal ou qual suspeitasinha, uma vaga desconfiana, de que a roleta, esse [14] terrivel philloxera das algibeiras, tivera o inqualificavel arrojo, o descaro inaudito de assentar os seus arraiaesaquina patria de Cames, nas bochechas do sr. Rosa Araujo, representante da dita patria. Mas tudo era vago, incerto, nebuloso... A policia posta em campo nada descobrira. Procurara-a,oh! se a procurara!como o nauta procura o norte, como a ave procura o ninho, como a fra o seu covilmas, apesar de a procurar com todo este excesso de poesia, o resultado era sempre o mesmo... nada, nada, nada, tres vezes nada coisa nenhuma! O habil Antunes, o eximio Castello Branco, o nunca asss cantado 37e muitos outros egualmente habeis, egualmente eximios, egualmente nunca asss cantados, encarregados secretamente de a descobrirem, pozeram em pratica as maiores subtilesas policiaes. Um d'elles chegou a disfarar-se em G. L. P... Nem assim a encontrou! Nada os fazia recuar, nada os intimidava, desconheciam... e creio que ainda desconhecem, o verbo trepidar! Passeios, botequins, theatros, tudo assaltaram em busca da criminosa... Era um phrenesi, um delirio, uma raiva... Mas a scelerada no apparecia! E comtudo ella existe! exclamava o governo civil com o tom solemne com que por muito tempo se julgou que o sabio Gallileu dissera o legendario:E pur si muove! Era para perder a cabea. Estavam as coisas n'estes termos quando chegou o livro da princeza. O governo civil compra-o, comea a ll-o e ao chegar a paginas 149, j no diz: E comtudo ella existe! no tom de Gallileu, mas, qual outro Archimeds, toilette aparte, solta do fundo do seio um jubiloso Eureka! Ah! que effectivamente o caso no era para menos. A pagina 149, fallando das batotas, diz a princeza: Ha uma na rua do Alecrim. Uma, rua das Gavias. Uma, praa de Cames. [15] Duas, rua da Emenda. Uma, rua de S. Francisco. Uma, travessa de Santa Justa. Tres ou quatro Ribeira Velha. Obrigado meu Deus! exclamou ento o governo civil imitando d'esta vez a sr.a Emilia das Neves, obrigado meu Deus! E aqui est como a policia conseguiu saber onde eram as batotas. Ah! princeza, princeza, vossa alteza merecia que pelo menos a fizessem... chefe d'esquadra. E note-se mais, ella, ella quem ensina no seu livro como se faz uma rusga. Duvidam? Leiam. Em Paris a policia tem um servio especial para este genero de industria prohibida. Os agentes d'este servio espiam os batoteiros, estudam cuidadosamente o terreno, e uma bella noite cahem l dentro como um raio e prendem todos, levando o dinheiro que est em cima das mesas. A policia seguiu as instruces da princeza tanto risca, que at escolheu uma bella noite, une belle nuit, para fazer a sua rusga! Diz ainda sua alteza:A mobilia confiscada... e a policia confiscou a mobilia. Decididamente, a princeza tem todo o direito... a um apito honorario! Vejamos agora como sua alteza falla de alguns dos nossos escriptores. Camillo Castello Branco, que parece o condemnado aos trabalhos publicos da litteratura portugueza, escreve, [16] escreve, escreve, escreve sempre: superiormente, questo controversa; enormemente, com certesa. A quantidade excede em muito a qualidade, diz-se, (diz ella); dotado de uma actividade laboriosa, infatigavel, comparavel de uma legio de formigas, construe romances contemporaneos sobre romances historicos, com uma preseverana e uma sequencia que intrigam a imaginao. uma especie de Quevedo com certo sentimentalismo catholico. Particularidade curiosa: em todos os seus romances entram infallivelmente um brazileiro, uma menina que se mette n'um convento, um fidalgo provinciano, e um namorado amorudo e transparente. invarivel como a chuva e o bom tempo. De frma, que o primeiro romance que se l do sr. Branco parece muito interessante, o segundo accorda remeniscencias, e o terceiro adivinha-se; o quarto sabe-se de cr, volta-se a pagina sabendo-se o que vae passar-se. uma galeria de personagens que raramente se renova, como a dos museus de figuras de cera. Os seus principaes romances so: Onde est a felicidade, Doze casamentos felizes, O que fazem mulheres, Historia d'um homem rico; so feitos com este arcabouo em que as vigas, as asnas e os alicerces so invariavelmente os mesmos. Bulho Pato. um peninsular, um sybarita, um camaleo. Como muitos rapazes que se dizem artistas pintores ou esculptores, para terem o direito de usar umas enormes cabelleiras e de adoptarem umas maneiras e um modo de fallar desbragado, este, fez-se poeta, o que na alta sociedade de Lisboa um titulo de apresentao. O sr. Bulho Pato incontestavelmente um homem d'uma conversao encantadora. Passando por espirituoso e mordente, imaginou que para ser um genio lhe bastava o querer sel-o, esquecendo que no poeta quem quer. Assim, creou-se por si s, e por si s, ainda, se julga um grande poeta. O seu poema, a Paquita, uma imitao dupla do estylo aggressivo de Byron e da finura de Musset, um [17] urso fazendo rendas de Alenon. Escreveu muitos volumes de versos, satiras, novellas, etc., onde se no encontra o reflexo do espirito notavel que tem a fallar. O que escreve no traduz o que diz (Sa plume ne traduit pas sa langue). Para acabar este retrato necessario acrescentar que impertinente, irritavel, invejoso, que pouco sabe da vida, julga-a mal, e por isso mesmo declara-se descontente com cada um e com todos, passando a vida a lamentar-se sem rima nem raso. N'uma nota contina no mesmo tom amavel chamando-lhe o poeta da melena (pote aux longs cheveux). Ernest Biestero, o grande magro litterario de quem Castilho dizia: um fructo de inverno, por mais que o expremam no deita nada! O que elle traduziu, apanhou, pilhou, incalculavel: seriam necessarios volumes s para fazer a sua rapida enumerao. Os seus dramas originaes, Caridade na sombra, Moscovellos, Natureza de alma (?) so uma galeria de manequins sem vida e at sem cordeis. Deve accrescentar-sesegundo a chronicaque os seus dramas so retocados por seu cunhado Mendes Leal. O que os no embelleza! Biester teve a gloria de ser um dos fundadores da Revista Contemporanea de Portugal e Brazil, que durou cinco annos, onde se acham associadas todas as individualidades do elogio mutuo. Mendes Leal (Jos da Silva) nasceu em Lisboa em 1820. Sem talento e at sem disposies dramaticas escreveu muitos dramas e romances historicos. o litterato portuguez que fez mais plagiatos, e isto com a maxima audacia e sem-cerimonia. O seu theatro pertence escola [18] do ultra-romantismo, e os Dois renegados, que passam por ser a fina flr da sua cora litteraria, so um drama insipido, cheio de punhaes, venenos e ciladas. O seu romance Calabar completamente tirado do Bateur d'Estrade, de Paul Duplessis; as suas poesias formam um volume no qual s uma poesia digna de meno, a Morte de Carlos Alberto. Este fructo secco da litteratura foi bibliothecario de Lisboa, ministro, e finalmente ministro plenipotenciario em Paris. O que prova que as mediocridades so muita vez empregadas. Agora querem saber como apparecem os nomes portuguezes no livro da princeza? Ahi vae uma amostra. Odio velho no cana, o notavel romance de Rebello da Silva, :Odio, velho, vra cauca. O prato de arroz dce, de Teixeira de Vasconcellos, chama-se:O Porto de oroz dou. As tempestades sonoras, de Theophilo Braga, so:As tempos tades sanoras. Moos e velhos, que a princeza erradamente attribue a Ernesto Biester, apparece assim no livro:Mocosvellos. Aos theatros de Lisboa faz sua alteza a honra de lhes consagrar um capitulo do seu livro. E como a princeza mulher coherente em todos os actos da sua vida, no quiz deixar de ser mexiriqueira tratando de assumpto que tanto a mexericos se presta. Assim diz, por exemplo, fallando do theatro do Gymnasio:Este theatro no tem praso determinado para as suas representaes pela excellente raso de que as receitas so mais de que mediocres. Os artistas e directores do Gymnasio acham-se constantemente, uns para com os o Assim diz, por exemplo, fallando do theatro do Gymnasio:Este theatro no tem praso determinado para as suas representaes pela excellente raso de que as receitas so mais de que mediocres. Os artistas e directores do Gymnasio acham-se constantemente, uns para com os outros, [19] na situao de um credor importuno para com Mr. de Tayllerand. O senhor no me dir quando me paga o que me deve? dizia o credor. Ora sempre muito curioso, respondeu o principe. Realmente difficil perceber a que vem isto. Pela nossa parte entendemos que so profundamente ridiculos todos estes promenores da vida intima dos theatros... Julgamos alm d'isso haver falsidade no mexerico da princeza. Mas ainda que seja verdade o que ella diz, no ser de mau gosto trazer questesinhas de soalheiro para um livro de viagens? Do Gymnasio, diz ainda, que viu ali representar magistralmente o actor Pedro, secundado por duas jovens e formosas mulheres Candida e Lora? Dou-lhes um doce se adivinharem quem so estas duas jovens e formosas mulheres. Candida e Lora quer dizer Amelia Vieira e Emilia dos Anjos. Ha porm uma difficuldade, e desde j nos confessamos incompetentes para a resolver:Qual ser a Lora? Mysterio que s a princeza poder decifrar. Do theatro da Rua dos Condes diz que se representa ali Lazaro, o pastor... possivel. Em todo o caso devemos declarar que essa pea subiu scena expressamente para sua alteza a ver, e que foi ainda sua alteza a unica espectadora... O publico no a viu nunca. No capitulo Theatros trata muito natural e judiciosamente o assumpto pateadas. No gosta d'ellas, parecem-lhe estupidos e injustos os sujeitos que pateiam. Abre curso de sensibilidade no artigo pateader. Comprehende-se:ella [20] que est sensibilisada ao escrever tudo isto, recordando-se do modo porque a plateia dos Recreios recebeu a sua insipida e soporifera comedia. Tenha paciencia. Diz no seu livro que esta phrase se applica a tudo no nosso paiz. verdade. Applica-se a tudo. At s princezas infelizes que so pateadas. Diz sua alteza fallando nos hoteis que os colches so durissimos em todos elles; no Braganza parecem at cheios de cacos de garrafas... Mas afinal sempre temos por c alguma coisa mais dura do que os colches... as pateadas... Custam a roer, custam... Mas que se hade fazer? Ra, ra. De resto parece-nos que sua alteza tem deveras a bossa do estylo lacrimoso... Chorea lagrima livre. Depois da nenia das pateadas passa sua alteza a fallar da vida dos bastidores em Lisboa. Dmos-lhe mais uma vez a palavra:A vida dos bastidores em Portugal est ainda no estado primitivo. mais burgueza que desregrada. Na maioria dos theatros as actrizes so casadas ou vivem maritalmente com pessoas da sua escolha, dando, com rarissimas excepes tanto que fallar pela sua conducta como pelo seu talento. Se quizesse citar alguma que se distinguisse das suas collegas pelo seu luxo ou pelos seus amores, ver me-hia deveras embaraada, no obstante ter pedido informaes a toda a gente. Sim, a princeza pedio informaes a toda a gente. Apenas qualquer sujeito tinha a honra de lhe ser apresentado, a primeira coisa que a princeza fazia era disparar-lhe esta pergunta queima roupa:Ora diga-me meu bom amigo, sabe alguma coisa da Emilia das Neves?Que Sim, a princeza pedio informaes a toda a gente. Apenas qualquer sujeito tinha a honra de lhe ser apresentado, a primeira coisa que a princeza fazia era disparar-lhe esta pergunta queima roupa:Ora diga-me meu bom amigo, sabe alguma coisa da Emilia das Neves?Que lhe consta [21] da Delfina?No se rosna coisa nenhuma d'aquella Joanna Carlota da rua dos Condes? Esta febre da princeza em indagar a vida intima das nossas actrizes faz-me lembrar a historia de um provinciano que vindo a Lisboa pela primeira vez, com ideas muito errados acerca das nossas mulheres de theatro, comeou durante a representao, de no sei que pea em D. Maria, a interrogar o visinho do lado, pelo theor que vae vr-se, sempre que apparecia em scena alguma actriz. Entrava por exemplo a sr.a Emilia das Neves, o provinciano voltava-se para o sujeito e dizia-lhe piscando-lhe o olho intencionalmente: Esta...? E o sujeito: No sei... Entrava a sr.a Virginia: E esta...? Homem deixe-me... Entrava a sr.a Amelia Vieira. E esta...? Diabo, o senhor inconveniente! No sei nada... O provinciano porm no se dava por vencido. E esta...? continuava elle sempre a perguntar. De repente entra o Theodorico. Ento o sujeito, desesperado, fulo, volta-se para o pobre provinciano e diz-lhe muito serio: Olhe este... com certesa... A princeza fez exactamente o papel do provinciano, e, to infeliz como elle, no ficou sabendo coisa nenhuma... Ficou at sabendo menos que o provinciano... Em todo o caso registe-se que no entender de sua alteza a vida dos bastidores em Portugal uma pulhice... Mais burgueza que desregrada... chega a ser infame, no assim princeza? E depois que mulheres estas de theatro! Que impossiveis [22] creaturinhas! Do tanto que fallar pela sua conducta como pelo seu talento... O mesmo no se pode dizer que acontea com certa pessoa que ns sabemos... Essa d muito mais que fallar pela sua conducta do que pelo seu talento... Foi devras infeliz a princeza em questes de theatro. Viu-se sempre embaraada. At se quizesse citar alguma actriz que se distinguisse das suas collegas pelo seu luxo ou pelos seus amores, at n'essas circumstancias os embaraos lhe no permittiriam a citao... realmente estar com azar. Pois ns se quizessemos citar alguma princeza que se distinguisse de todas as outras pelo seu luxo tapageur ou pelos seus amores, faziamos isso sem a mais pequena difficuldade... Termina sua alteza o capitulo dos theatros fallando das danarinas de S. Carlos. Diz sua alteza:As danarinas no do que fallar de si. Ha para isto duas razes:a primeira que, salvo duas ou tres excepes so feias que mettem medo a segunda que a maioria d'ellas parece-me ter chegado, a esta edade feliz em que se tem jus venerao e ao respeito. Ora aqui est o que aconteceria a sua alteza se em vez de ser uma bas bleue pretenciosa fsse danarina de S. Carlos. Ninguem fallaria n'ella... Por tudo, e principalmente... pela segunda razo... Deixemos porm os theatros e vejamos o que a princeza diz a respeito do nosso mais notavel monumentoo mosteiro da Batalha. Batalha, tambem pequena cidade, (que disparate!) alguns kilometros mais longe (do que Alcobaa, que descreve [23] antes) possue um mosteiro mais pequeno; mas tambem gothico, e de um estylo ainda mais puro que o de Alcobaa. Este mosteiro foi fundado pelo rei D. Joo I, que ahi repousa. Nota-se particularmente a sala do capitulo, cuja elegancia superior a toda a expresso, bem como o claustro. Decididamente, os senhores frades d'aquelles tempos tinham bem boas habitaes, e pena que se no tivessem construido mais, to encantadoras, no para lhe servirem unicamente de residencia, mas para alegrarem os olhos dos touristes. Ter visto a Batalha, ter entrado n'aquelle monumento, que uma verdadeira epopeia de pedra, e escrever o que ahi fica, sabe o que , princeza? um diploma. Simplesmente no lhe digo de qu.V ter com alguns dos muitos estrangeiros illustres que visitaram aquelle mosteiro, francezes, inglezes, italianos, hespanhoes, russos, allemes, ou de qualquer outra nacionalidade, diga-lhes que viu a Batalha, mostre-lhes depois o que escreveu no seu livro... qualquer d'elles lhe dir de que o tal diploma... Mas, que diabo! tambem no pode haver tempo para tudo, e, ella por ella, a equipagem do marquez de V. decerto muito mais digna de atteno do que o monumental edificio da Batalha! pena, diz sua alteza, que no se tivessem construido mais monumentos para alegrar os olhos dos touristes... Ah! sim, pena! pois no! chega a ser uma dr d'alma no estar o reino de Portugal cheio de monumentos, como a Batalha, para que sua alteza, a muito alta e muito nobre princeza Rattazzi, podesse percorrer o paiz com os olhinhos alegres! Porque afinal de contas, o magestoso e sublime mosteiro no lhe causou nenhuma outra impresso... alegrou-lhe o olho. Frei Luiz de Sousa, descreve-o com a sua penna de ouro, o inglez Murphy estuda-o maravilhado durante largos annos, [24] o erudito patriarcha D. Francisco de S. Luiz dedica-lhe uma extensa memoria:n'uma palavra, nacionaes e estrangeiros, curvam-se reverentes em presena do patriotico e veneravel monumento... Rattazzi vae vel-o... faz-lhe a honra de conceder-lhe doze linhas... e alegra-se-lhe o olho... Isto , o mosteiro produz-lhe o mesmo effeito que um copinho de chartreuse... Vamos compatriotas, sirvam caf princeza, e tragam n'uma bandeja... mosteiro da Batalha e copos... Sua alteza tem o olhar basso e triste... alegremos-lhe o olho... dmos-lhe um calicesinho da sala do capitulo... Ento princeza, nada de ......Buy Now (To Read More)

Product details

Ebook Number: 20103
Author: Castro, Urbano de
Release Date: Dec 13, 2006
Format: eBook
Language: Portuguese

Returns Policy

You may return most new, unopened items within 30 days of delivery for a full refund. We'll also pay the return shipping costs if the return is a result of our error (you received an incorrect or defective item, etc.).

You should expect to receive your refund within four weeks of giving your package to the return shipper, however, in many cases you will receive a refund more quickly. This time period includes the transit time for us to receive your return from the shipper (5 to 10 business days), the time it takes us to process your return once we receive it (3 to 5 business days), and the time it takes your bank to process our refund request (5 to 10 business days).

If you need to return an item, simply login to your account, view the order using the "Complete Orders" link under the My Account menu and click the Return Item(s) button. We'll notify you via e-mail of your refund once we've received and processed the returned item.

Shipping

We can ship to virtually any address in the world. Note that there are restrictions on some products, and some products cannot be shipped to international destinations.

When you place an order, we will estimate shipping and delivery dates for you based on the availability of your items and the shipping options you choose. Depending on the shipping provider you choose, shipping date estimates may appear on the shipping quotes page.

Please also note that the shipping rates for many items we sell are weight-based. The weight of any such item can be found on its detail page. To reflect the policies of the shipping companies we use, all weights will be rounded up to the next full pound.

Related Products

Recently Viewed Products