Bibliotheca de Classicos Portuguezes Volume LIII

Chronica de El-Rey D. Affonso II Title: Chronica de El-Rey D. Affonso II Author: Rui de Pina...
€6,15 EUR
€6,15 EUR
SKU: gb-22826-ebook
Product Type: Books
Please hurry! Only 10000 left in stock
Author: Pina, Rui de,1440-1521
Format: eBook
Language: Portuguese
Subtotal: €6,15
10 customers are viewing this product
Bibliotheca de Classicos Portuguezes
Volume LIII

Bibliotheca de Classicos Portuguezes Volume LIII

€6,15

Bibliotheca de Classicos Portuguezes Volume LIII

€6,15
Author: Pina, Rui de,1440-1521
Format: eBook
Language: Portuguese

Chronica de El-Rey D. Affonso II

Title: Chronica de El-Rey D. Affonso II Author: Rui de Pina Release Date: October 2, 2007 [EBook #22826] Language: Portuguese Original Publication: , Lisboa: Escriptorio 147--Rua dos Retrozeiros--147 1906 Credits: Produced by Manuela Alves and Rita Farinha (This file was produced from images generously made available by National Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal) BIBLIOTHECA DE CLASSICOS PORTUGUEZES Proprietrio e fundador--Mello d'Azevedo (VOLUME LIII) CHRONICA DE EL-REI D. AFFONSO II POR RUY DE PINA ESCRIPTORIO 147--Rua dos Retrozeiros--147 LISBOA 1906 CHRONICA DO MUITO ALTO, E MUITO ESCLARECIDO PRINCIPE D. AFFONSO II. TERCEIRO REY DE PORTUGAL, COMPOSTA POR RUY DE PINA, Fidalgo da Casa Real, e Chronista Mr do Reyno. FIELMENTE COPIADA DE SEU ORIGINAL, Que se conserva no Archivo Real da Torre do Tombo. OFFERECIDA MAGESTADE SEMPRE AUGUSTA DELREI D. JOA V. NOSSO SENHOR POR MIGUEL LOPES FERREYRA LISBOA OCCIDENTAL. Na Officina FERREYRIANA. M.DCC.XXVII. Com todas as licenas necessarias. SENHOR Ponho na Real presena de V. Magestade a Chronica do Senhor Rei D. Affonso II que ainda que breve no volume, larga na qualidade dos successos. Nella ver V. Magestade que os seus gloriosos Predeccessores no cessaram em tempo algum do augmento dos seus Estados, e da Religio Christ pois a este fim vestiam as armas, e tomavam a lana com perigo das suas Reaes vidas, como o experimentou este mesmo principe, vendo-se quasi suffocado na campanha. Aceite V. Magestade este tributo do meu obsequio, que prostrado a seus Reaes ps lhe deseja todas aquellas felicidades, que s podem vir da mo de Deos que guarde a Real Pessoa de V. Magestade por muitos annos, como seus vassallos lhe dezejamos. Miguel Lopes Ferreira. AO EXCELLENTISSIMO SENHOR FERNO TELLES DA SILVA Marquez de Alegrete dos Concelhos de Estado, e Guerra del-Rei Nosso Senhor, Gentil homem de sua Camara, Vdor de sua fazenda, seu Embaixador extraordinario na Corte de Vienna, ao Serenissimo Emperador Jos, Condutor da Serenissima Rainha Nossa Senhora a estes Reinos, Academico, e Censor da Academia Real da Historia Portuguesa, &c. Terceira vez busco a V. Excellencia como protector, e amparo commum dos que servem a Patria. A benignidade natural de V. Excellencia tem a culpa desta repetio. Offereo a V. Excellencia esta Chronica del-Rei D. Affonso II chamado vulgarmente o Gordo, para que V. Excellencia se digne de a pr na Real presena de Sua Magestade. Espero que lembrado V. Excellencia de j me haver feito duas vezes este mesmo beneficio, mo queira continuar agora, porque certo que suprir a grandeza da Pessoa de V. Excellencia o que eu no mereo. A Excellentissima Pessoa de V. Excellencia guarde Deos muitos annos. Criado de V. Excellencia Miguel Lopes Ferreira. PROLOGO AO LEITOR No te admires vendo uma Chronica to pequena de um Rei to grande. Em oito capitulos a deo por acabada o seu Chronista, ou o reformador da sua Chronica antiga. Mas aqui que se ha de estimar o livro pelo pezo, e no pelo volume. Vers nesta Chronica o que podem as paixes: vers o zelo da Religio obrigando a um Principe a entrar na campanha quando a sua demasiada corpulencia que lhe deo o nome de Gordo, justamente o desobrigava de to violento exercicio; mas o augmento da F o fazia esquecer des impedimentos da natureza. Vers como no seu tempo vieram miraculosamente para a Cidade de Coimbra as Reliquias dos cinco Religiosos de So Francisco, que pela F deram o sangue em Marrocos, e vers como o mesmo Rei pessoalmente os foi receber. L, e no te mostres ingrato ao meu cuidado que no cessa de procurar modos de satisfazer tua curiosidade, como brevemente o vers. Vale. LICENAS DO SANTO OFFICIO Approvao do Reverendissimo Padre Mestre D. Antonio Caetano de Souza, Clerigo Regular da Divina Providencia, Qualificador do Santo Officio, e Academico do Numero da Academia Real da Historia Portugueza EMINENTISSIMO SENHOR Esta Chronica del-Rei D. Affonso II que V. Eminencia me manda ver, que anda em nome de Ruy de Pina Chronista mr em tempo de El Rei D. Manoel, e agora manda imprimir Miguel Lopes Ferreira, depois de passados dous seculos, no contem cousa alguma contra a nossa Santa F, ou bons costumes. No s esta Chronica, mas todas as que temos antigas desde El-Rei D. Affonso I e o Conde D. Henrique seu pai, at El-Rei D. Duarte, conforme [11] a observao que tem feito os Eruditos da nossa Historia, todas foram escritas por Ferno Lopes primeiro Chronista mr do Reino, que depois milhorou em estillo o dito Ruy de Pina, e publicou em seu nome, com que agora se imprimiram, com a licena de V. Eminencia, a que no tenho duvida se lhe conceda. Lisboa Occidental na Caza de N. Senhora da Divina Providencia, 8 de Maro de 1726. D. Antonio Caetano de Souza C. R. Approvao do Reverendissimo Padre Mestre Fr. Vicente das Chagas, Religioso da Provincia de Santo Antonio dos Capuchos, Lente Jubilado na Sagrada Theologia, e Qualificador do Santo Officio, &c. EMINENTISSIMO SENHOR Li por ordem de V. Eminencia esta Chronica del-Rei D. Affonso o II. Della consta s a discordia, que houve entre o dito Rei, e suas irms, mas ainda assim (depois de obrigado) estudou como se havia de concordar, como concordou, com ellas, sinal de ser Rei sabio, e virtuoso; Sabio como diz Santo Ambrosio: Lib. 2. de Abraham c. 6. ante medium col. 1013. B. Sapienti pacis, & concrdiae est studium, imprudenti amica jurgia; e virtuoso como d a entender S. Joo Chrysostomo Homil. 45. ante a medi[~u] col. 373, D. Ubi concordia, ibi bonorum confluxus, ibi pax, ibi charitas, ibi spiritualis laetitia nullum bellum, nulla rixa, nus quam inimicitior, & contentio. Esta concordia, paz, caridade, alegria espiritual, &c vemos por experiencia neste nosso Reino agora de prezente, mas como no ha de ser assim, se temos por Rei o Invitissimo, e Augustissimo Monarcha o Senhor D. Joo [12] o V, que Deos guarde por muitos annos, de quem com muita propriedade se pde dizer o que l disse Cicero (seno em tudo, em parte) Orat. 42. pro Rege Dejotaro in princip. num. I. tom 2. Rex concors, pacificus, fortis, justus, severus, gravis, magnanimus largus, beneficus, liberalis, &c. No tem a Chronica cousa contra a F, ou bons costumes, e assim julgo que se pde imprimir. Santo Antonio dos Capuchos, 21 de Maro de 1726. Fr. Vicente das Chagas. Vistas as informaes, pode-se imprimir a Chronica del-Rei D. Affonso II e depois de impressa tornar para se conferir, e dar licena que corra, sem a qual no correr. Lisboa Occidental, 22 de Maro de 1726. Rocha, Fr. Lancastre. Teixeira. Silva. Cabedo. DO ORDINARIO Approvao do Reverendissimo Padre Mestre D. Jos Barbosa Clerigo Regular da Divima Providencia, Examinador das Tres Ordens Militares, Chronista da Serenissima Caza de Bragana, e Academico do Numero da Academia Real da Historia Portugueza ILLUSTRISSIMO E REVERENDISSIMO SENHOR Por mandado de V. Illustrissima vi a Chronica del-Rei D. Affonso II que escreveo Ruy de Pina, e nella no achei por onde se no lhe deva dar a licena para se imprimir. V. Illustrissima ordenar o que for servido. Nesta Caza de N. Senhora da Divina Providencia, 18 de Agosto de 1726. D. Jos Barbosa C. R. Vista a informao pode-se imprimir a Chronica de que se trata, e depois de impressa tornar para se conferir, e dar licena que corra sem a qual no correr. Lisboa Occidental, 27 de Setembro de 1726. D. J. A. L. DO PAO Approvao do Reverendo Beneficiado Diogo Barbosa Machado Presbytero do Habito de S. Pedro, e Academico do Numero da Academia Real da Historia Portugueza SENHOR Obedecendo ao Real preceito de V. Magestade, li a Chronica do Serenissimo Rei D. Affonso II do nome, e terceiro Rei de Portugal, composta por Ruy de Pina Chronista mr deste Reino, e Guarda mr da Torre do Tombo, um dos mais deligentes Escritores, que venerou a sua idade. Nella, como em pequeno mappa recopilou este Author parte das heroicas aces, que exercitou aquelle Principe,[15] cujo corao foi sempre animado pelos espiritos marciaes, que com a Coroa herdara de seus augustissimos Predecessores, illustrando a sua Real purpura no com o barbaro sangue Mauritano, derramado na famosa conquista de Alcacere, como inferior sua grandeza, mas com aquelle que sagradamente prodigos verteram em obsequio da Religio sobre as aras do Martyrio cinco heroicos Soldados nas adustas campanhas de Marrocos, que sendo benevolamente hospedados em Coimbra, e Alemquer pela generosa piedade da Rainha Dona Urraca, e da Ifanta Dona Sancha, uma Esposa, e outra Irm deste Monarcha, quizeram satisfazer aquella piedosa hospitalidade com a posse das suas sagradas cinzas conduzidas ao Real Convento de Santa Cruz de Coimbra pelo ferveroso zelo do Ifante D. Pedro. Certamente agora recebe nova gloria, e maior esplendor o nome no s daquelle Principe, mas ainda do seu Chronista, pois se faz publica, e patente aos olhos do mundo uma Historia, que ha mais de dous Seculos estava occulta nos Archivos, e nas Bibliothecas, e ainda que era conhecida por alguns eruditos, no tinha a fortuna de lograr o beneficio da luz publica eternizada nos caracteres da Impresso mais perduraveis, que aquelles, que a vaidade dos homens abrio nos marmores, e esculpio nos bronzes. Desta to grande, e to heroica felicidade o unico, e Soberano Author V. Magestade, pois com a altissima providencia, com que criou a Academia da Historia Portugueza intruduzio nova vida no corpo historico desta Monarchia, que jazia sepultado nas injuriosas cinzas do esquecimento. Erigio um Capitolio litterario para nelle se coroarem os Vares benemeritos da immortalidade. Abrio uma douta Officina para se lavrarem as Estatuas aos Heroes Portuguezes. Correo as cortinas ao veneravel Santuario das antiguidades [16] Ecclisiasticas desta Coroa. Descobrio os thesouros da erudio Historica atgora fechados perspicacia de muitos engenhos. Declarou formidavel guerra ao Imperio da ignorancia, e fez communicavel a todo o genero de pessoas o comercio das Letras. Toda esta gloria estava mysteriosamente reservada para o feliz reinado de V. Magestade, pois no lhe bastando para complemento da sua Real grandeza o suave dominio, que tem nos coraes de seus vassallos, o quiz tambem dilatar aos entendimentos, como parte mais nobre, e superior de todo o homem. Animados com os generosos alentos, com que V. Magestade inspira, e protege as Sciencias, so innumeraveis os Escritores, que com judiciosa critica, e vastissima erudio tem publicado os partos de seus fecundos engenhos, no sendo inferior a estes a zeloza diligencia com que Miguel Lopes Ferreira se empenhou em obsequio deste Reino a mandar imprimir as Chronicas dos Reaes Predecessores de V. Magestade das quaes esta a Terceira, sendo egualmente digno da atteno de V. Magestade o seu zelo com que pretende eternizar as glorias desta Monarchia, como benemerito da licena este livro pelo nome de seu author. V. Magestade ordenar o que for servido. Lisboa Occidental 20 de Maro de 1727. Diogo Barbosa Machado. Que se possa imprimir, vistas as licenas do Santo Officio, e Ordinario, e depois de impressa torne meza para se conferir, e taxar, e dar licena que corra, sem a qual no correr. Lisboa Occidental 5 de Junho de 1727. Marques P. Pereira. Galvo. Oliveira. Teixeira Bonicho [17] Coronica do muito alto, e esclarecido Principe D. Affonso II, terceiro Rei de Portugal CAPITULO I Como o Ifante Dom Affonso foi alevantado por Rei e como foi cazado, e com quem, e que filhos legitimos houve El-Rei Dom Sancho de louvada memoria deste nome o primeiro, e dos Reis de Portugal o segundo, faleceo em Coimbra na era de N. Senhor de mil e duzentos e doze; (1212) o Principe Dom Affonso como primogenito, e herdeiro foi logo alevantado, e obedecido por Rei, em idade de vinte e cinco annos, havendo j quatro annos que era cazado com a Rainha Dona Orraca filha legitima del-Rei Dom Affonso deste nome e noveno de Castella, e neste tempo sendo Ifante, depois que sua idade o premitio, e em Reinando El-Rei Dom Sancho seu padre, foi com elle em muitas cousas notaveis, e grandes feitos darmas, que naquelles tempos concorreram, em que por [18] seu corpo, e brao assi o fez sempre como bom, e esforado Cavalleiro, que bem pareceo ser filho, e neto do pai de que descendia, e para claramente se ver que a Real Caza de Portugal dantigamente foi liada, e conjunta em sangue com todas as Cazas de todos os Reis, e Principes Christos, de saber, que El-Rei Dom Affonso noveno de Castella, sogro deste Rei Dom Affonso de Portugal foi cazado com a Rainha Dona Lianor filha del-Rei Dom Anrique Dinglaterra, e della houve dous filhos, e cinco filhas; todos legitimos, a saber, dous filhos o Ifante Dom Fernando primeiro, e herdeiro, que em idade de dezaseis annos sem ser cazado faleceo em vida de seu pai antes um pouco da batalha das Naves de Tolosa, e o Ifante Dom Anrique, que apoz elle depois de sua morte o soccedeo, e sem leixar herdeiro, que o soccedesse faleceo mui moo, como atraz na Coronica del-Rei D. Sancho declarado, e das cinco filhas que houve uma foi a Ifanta Dona Constana primeira Senhora do Moesteiro das Holgas de Burgos, que El-Rei seu padre novamente fundou, onde ella falleceo sem cazar, e as outras quatro filhas foram Rainhas, a saber, a Rainha Dona Branca, filha maior, que cazou com El-Rei Luis de Frana, filho del-Rei Felippe, o que disseram Augusto, e houveram herdeiro de Frana El-Rei So Luis, e outros filhos, e a segunda Rainha, foi Dona Lianor, que foi cazada com El-Rei Dom James, deste nome o primeiro Rei de Arago, de que houve filho o Ifante D. Affonso, que faleceo moo, e no Reinou, e a terceira filha foi a Rainha Dona Biringela mulher del-Rei Dom Affonso de Lio de que houve filhos El-Rei Dom Fernando Rei de Castella, e de Lio, que dizem o Santo, e o que ganhou dos Mouros Cordova, e Sevilha, e muita parte Dandaluzia, e o Ifante Dom Affonso de Molina, como na Coronica[19] del-Rei Dom Sancho brevemente se disse, e na Coronica de Castella mais largamente se contem. E a quarta filha foi a Rainha Dona Orraca molher deste Rei Dom Affonso de Portugal de que houveram dous filhos, e uma filha a saber, o Ifante D. Sancho o que disseram o Capello, que a poz elle logo Reinou, e o Ifante Dom Affonso que foi Conde de Bolonha em Frana, que apoz Dom Sancho por no ter legitimo herdeiro tambem Reinou em Portugal, e o Ifante Dom Fernando, que se disse Ifante de Serpa, e segundo se brevemente acha, este cazou em Castella com Sancha Fernandes, filha de Dom Fernando, de que houve uma filha chamada Dona Lianor, que foi depois cazada com El-Rei de Dacia, e l faleceo sem filhos, e houve mais o dito Rei Dom Affonso da Rainha Dona Orraca sua molher a Ifanta Dona Lianor, que cazou com o filho herdeiro del-Rei de Dinamarca, que depois da morte de seu padre herdou o Reino, mas quando, e como, e por quem estes Ifantes Dom Fernando, e Dona Lianor cazaram, no se acha escrito, somente parece que segundo o pouco tempo que El-Rei Dom Affonso seu padre viveo, que elles cazaram depois de sua morte, e por aderencias das Cazas Reaes de Frana, e Dinglaterra, com que por sangue eram mui conjuntos. E no dou muita f, nem authoridade ao que destas Rainhas Dona Orraca de Portugal, e Dona Branca de Frana vulgarmente se diz, e alguns escreveram, que os Embaixadores del-Rei de Frana, e del-Rei de Portugal, que juntamente vieram a Castella a requerer cazamentos destas Rainhas filhas del-Rei Dom Affonso, que os de Frana quizeram antes a Dona Branca, posto que era mais moa, e de menos estima, e leixaram a Portugal Dona Orraca por ser nome feo, para Frana, por que isto tem duas grandes[20] contradies, a primeira que a Rainha Dona Branca no era a mais moa, mas a mais velha, e nas contendas, que depois houve antre os Reis de Frana, e Castella, sobre socesso de Castella, que vinha de filhas, e no de filhos, se prova isto muito craro, porque El-Rei So Luis de Frana pertendia ter direito em Castella, por ser filho da Rainha Dona Branca, filha maior del-Rei Dom Affonso noveno, e queria excludir a El-Rei D. Affonso deste nome o decimo de Castella, filho del-Rei Dom Fernando, neto da Rainha Dona Biringela, por ser filha menor del-Rei D. Affonso noveno, e se a Rainha Dona Orraca fora filha maior, este direito pertencia a El-Rei Dom Sancho Capelo, e a El-Rei D. Affonso Conde de Bolonha, Reis de Portugal, e filhos da dita Rainha Dona Orraca, o que no foi, e a segunda contradio que este nome Dona Orraca era nome a Rainhas mui costumado, e de muita estima, e tal de que se muitas honraram, e leixando outras muitas, estas que me aqui occorrem apontarei, a mi do Emperador Despanha D. Affonso deste nome o outavo de Castella, e molher do Conde Dom Reymo de Tolosa havia nome Dona Orraca, que foi a Rainha Despanha, e a Rainha de Lio, molher del-Rei Dom Fernando, e filha del-Rei Dom Affonso Anriques, tambem havia nome Dona Orraca, que foi Princeza mui singular, e a molher de Dom Reymo Conde de Barcelona, e Rei de Arago, que era da Caza, e Reino de Frana, que no mesmo Reino havia nome Dona Prona, e mudou o nome, escolhendo outro por milhor, se chamou Dona Orraca, e desta veo D. Affonso deste nome o segundo Rei Darago, e a Rainha Dona Doce molher del-Rei D. Sancho de Portugal, de que em sua Coronica se disse. [21] CAPITULO II Das desavenas que houve antre El-Rei D. Affonso, e as Ifantes suas irms, e da guerra que sobre esso se moveo No primeiro anno do Reinado deste Rei Dom Affonso de Portugal, era o prazo da batalha das Naves de Toloza, que El-Rei Dom Affonso seu sogro tinha posto com Mirabolim de Marrocos, filho de outro Mirabolim, que fora vencedor na outra batalha Delharcos, para que o Papa concedeo geral Cruzada, que o Ifante D. Fernando primogenito herdeiro do dito Rei D. Affonso em pessoa foi pedir, e trouxe de Roma, e logo faleceo, como j disse, e por ganharem os perdes, e remisses de peccados grandes outros Senhores, e outras muitas e nobres gentes de toda Christandade vieram a esta batalha em pessoas qual no se acha, que fosse em pessoa este Rei Dom Affonso de Portugal, mas que enviou gentes suas, e a cauza delle no ir em pessoa, diz, que foi porque neste proprio anno comeou de Reinar em Portugal, e assi por bolios, e desassocegos que dantre elle, e suas irms se moveram, como ao diante se dir. E este Rei Dom Affonso de Castella ao tempo desta batalha era de cincoenta e seis annos, e no anno seguinte tendo Cortes em Burgos, se diz que mandou a ellas chamar a este Rei de Portugal seu genro, s quaes elle no quiz ir, e elle anojado desso, determinou fazer-lhe guerra, e tomar-lhe os Reinos se podesse, e que com este fundamento indo para Prazena adoeceo no termo de Revaldo em uma Aldea, que se diz Martim Manhos, e ahi faleceo, e foi dahi levado, e sepultado no Moesteiro[22] das Holgas de Burgos, que elle novamente fundou, e outros dizem que vinha para se ver no extremo de Portugal com seu genro para o aconselhar em suas couzas, e debates em que andava, com suas irms, e que todavia faleceo no dito lugar, porque tambem este Rei Dom Affonso de Portugal logo como Reinou no lhe faleceram grandes necessidades, e afrontas de excommunhes do Papa, e de guerras, e desavenas que houve com suas irms a Rainha Dona Tareja, molher que fora del-Rei Dom Affonso de Lio, e da Ifante Dona Sancha, de que a cauza brevemente foi esta. El-Rei Dom Sancho, como em sua Coronica disse, leixou em seu testamento Rainha Dona Tareja, sua filha, que fora cazada com o dito Rei Dom Affonso de Lio, a Villa de Monte mr o Velho, e Esgueira, e mais dez mil maravedis douro, e certa prata, e que se ella morresse, que houvesse estes Lugares a Ifante Dona Branca sua irm della, e leixou Ifante Dona Sancha a Villa Dalanquer, e dez mil maravedis douro, e tambem prata, e que se ella falecesse, que houvesse a Villa a Ifante Biringela sua irm, das quaes Villas, e cousas ellas houveram a posse, e as tinham; mas El-Rei Dom Affonso seu irmo em caso que fosse contra seu juramento, e menagem, no quiz estar inteiramente pelo testamento del-Rei seu padre, antes como Reinou logo pedio as ditas Villas, e Fortalezas a suas irms, dizendo: Que El Rei seu padre lhas no podia dar, que era em mui grande diminuio do Reino, e que era sobresso concedido privilegio do Papa Alexandre Terceiro, por o qual as cousas do Reino seno podiam dar a alguma pessoa nem emlhear, e que asss lhe leixara a ellas nos maravedis douro, e prata de seu testamento com outras cousas, que tinham de suas fazendas. E sobre este requerimento El-Rei, e a Rainha, e as [23] Ifantes suas irms por lhe darem reposta, pediram dias de liberao, dentro dos quais ellas se recolheram logo com a Ifante Dona Branca sua irm ao Castello de Monte mr, e o basteceram, e fortalezaram, e deshi se emviaram logo aggravar ao Papa Innocencio III que ficra por executor do testamento del-Rei seu pai, e por esso lhe leixou o dito Rei D. Sancho seu pai cem marcos douro, e assi o fizeram ellas mais saber ao dito Rei de Lio com que a dita Rainha Dona Tareja fora cazada, e era apartada delle pela Egreja, de que houveram logo ajuda, e soccorro, a que por seu mandado veo logo o Ifante Dom Pedro seu irmo dellas filho del-Rei Dom Sancho o que depois passou a Marrocos, e trouxe aos ossos dos Martyres, e assi veio ao dito soccorro, e ajuda o Ifante Dom Fernando filho da dita Rainha Dona Tareja, e del-Rei Dom Affonso de Lio, e assi veo em sua companhia Dom Pedro Fernandes de Castro o Castello, aquelle que em companhia dos Mouros foi prezo em Portugal, e logo solto, e depois passou, e morreo em Marrocos, e com alle veo muita gente, que foi nos estremos de Portugal, donde enviaram s ditas Villas, e Fortalezas de Monte mr, e Alanquer aquella que comprio para defeno dos Castellos, e para resistencia del-Rei Dom Affonso de Portugal, o qual por sentir muito o insulto tamanho dos estranhos, e to grande desobediencia dos seus naturaes, veo logo dita Villa de Monte mr, e por algumas vezes requereo a suas irms, e principalmente a Dona Tareja, cuja era, que houvesse por bem de desistir de seu alevantamento, e quizesse que o Castello se entregasse a algum homem de que ambos se confiassem para o ter em boa guarda, e fieldade, e que de sua fazenda delle lhe faria dar todas dispezas, e mantimentos para esso necessarios, e que este arrecadasse inteiramente para ella todas as [24] rendas, e direitos da Villa, mas que as menagens fossem feitas a elle, o que ella nunca quiz fazer, antes se diz que consentio, que os de dentro em desprezo, e por injuria del-Rei seu irmo calando o nome do Reino, e del-Rei de Portugal a que deveram acatar, e obededer, envocaram, e chamaram o nome de Lio, que repetiam muitas vezes, e que outro tanto mandou fazer a Ifante Dona Sancha no Castello Dalanquer, e por tanto El-Rei temendo perder os ditos Castellos os mandou cercar, e combater, e com a gente do cerco, que sobreveo se seguiram nelles, e em seus termos pela condio da guerra muitas mortes, e danos de uma parte, e da outra, pelo qual os Ifantes, e Senhores, que com a gente do Reino de Lio, que disse entrram em Portugal tomram Valena do Minho, e Melgao, Algozo, e Freixo, e outros Lugares chos que roubaram, e queimaram, em que fizeram muto mal. CAPITULO III Como foi pelo Papa procedido contra El-Rei D. Affonso por causa da contenda que havia com suas irms, e como finalmente foram concordados E sobre esso para mais tormento del-Rei Dom Affonso de Portugal vieram de Roma por juizes Delegados do Papa a requerimento das Ifantes o Arcebispo de Santiago, e o Bispo de amora, que por El-Rei de Portugal ir contra o testamento del-Rei seu padre, e por no desistir do cerco, que tinha posto aos Castellos de Monte mr, e Alanquer, excommungou sua pessoa, e pozeram entredicto geral em todo o Reino, exceituaram smente as ditas [25] Ifantes, e seus sequazes, e servidores, sobre o qual El-Rei Dom Affonso com rezes, e cousas que achou, e lhe aconselharam de sua justia se enviou destes procedimentos querelar, e aggravar ao Papa, e pedir emenda del-Rei de Lio, e dos que tinham as Villas, e Castellos de seus reinos forados, e nelles feitos muitos danos, alegando sobre esso a pouca justia que suas irms tinham nas Villas, e Castellos de seu Reino, com que se levantram, e dando outras rezes, porque entendia ser relevado da culpa que lhe dava dizendo por sua escuza, que o no obrigava o juramento, e menagens, que fizera de comprir o testamento del-Rei Dom Sancho seu padre, porque o fizera forado, e por no ser deserdado do Reino, e mais que a esse tempo seu pai no estava em todo seu sizo, e entender verdadeiro, pois tanto contra justia fizera tamanho enlheamento das cousas do Reino, que no podia fazer. E o Papa por seu respeito cometeu este negocio aos Abbades Despina, e Vicarria, que fez Juizes Commissairos, os quais vieram a Coimbra onde sobre segurana j praticada, e antre todos concordada, foram tambem juntos El-Rei Dom Affonso, e suas irms em pessoas a que os Juizes deram solene juramento porque prometeram estarem todos obediencia, e detreminao de todo o que elles em nome do Papa cerca de seus negocios detreminassem, e mandassem, e por este juramento, e promessa que se fez El-Rei, e os seus foram da excommunho ausolutos, e alevantado o antredicto do Reino. Os Commissairos pozeram antre elles treguas, e seguridade, que todos prometeram guardar, at o Papa finalmente detreminar suas contendas, e debates, e algumas condies das tregoas principaes, eram que os de uma parte, e da outra podessem livremente andar, e tratar por as terras[26] chans uns dos outros, mas que nas Villas, e Castellos cercados no entrassem sem licena dos Senhores dellas, e que tudo podessem, uns e outros comprar, e vender salvo armas, e cavallos, e que ellas Ifantes em algum seu Lugar de Portugal no podessem mandar lavrar moeda douro, prata, nem dalgum metal, que quatro Cavalleiros principais da parte del-Rei jurassem que se El-Rei no guardasse as tregoas que cada um delles com cinco Cavalleiros mais servissem as Ifantes contra El-Rei e cada uma das Ifantes dsse outros tantos por si, que com esta condio servissem a El-Rei contra ellas, e mais que El-Rei dsse cem homens cazados, e honrados de Coimbra, e que todos lhe fizessem, e pagassem foro, e outros cento semelhantes de Santarem, que jurassem todos fazer sempre comprir esta tregoa, e que no a comprindo El-Rei, que servissem s Ifantes contra El-Rei, e que ellas por sua parte dssem outros taes, a saber: cento Dalanquer, e cento de Monte mr, para que se ellas no comprissem a tregoa, que servissem a El-Rei contra ellas, e que neste tempo uns, e outros, no cercassem Villas, nem Castellos, nem se fizesse algum mal, sopena de excomunho, e antredicto, em que elles, e todos los ajudadores, e favorecedores ipso facto encorressem, e com mandado estreito aos Prelados do Reino, que a cada um assi como lhes tocasse as sentenas dos ditos alegados fizessem inteiramente comprir, e executar at o Papa finalmente as aprovar, ou emendar como fosse justia. Esta tregoa, se fez em Coimbra na era de nosso Senhor de mil e duzentos e quatorze annos, (1214) dous annos depois que El-Rei comeou a Reinar, e logo ahi se fulminou e principiou processo em que a Rainha, e a Ifante cada uma per si segundo os danos que del-Rei seu irmo tinham recebidos, e pelas injurias, e males, [27] que no cerco padeceram, pediam contra elle restituio, e assi segurana perpetua de suas Villas, e Castellos, e gram soma de maravedis, que naquelle tempo era moeda douro assi geral, e praticada como neste agora so na Europa os cruzados, e ducados, porque sessenta delles faziam um marco douro, como j em outras partes tenho dito, e s peties das ditas Senhoras, veo El-Rei por seu procurador com exceies, e contrariedades, e compensaes sobre que de uma parte, e da outra foi dito, e asss alegado, e sobre seus alegados foi o feito concruzo, e os Juizes remeteram a publicao da final sentena para Melgao, Castello de Portugal no extremo de Galiza, a que mandaram que El-Rei, e as Ifantes fossem por si, ou por seus procuradores, onde no Maio seguinte a publicaram, e foi El-Rei condenado por a dita sentena em grande soma de dinheiro, e doutras emendas, e depois que passou o termo para a paga, assinado, pozeram em El-Rei sentena Dexcommunho, e assi antredito em todo o Reino, de que logo apelou, e depois de muitos debates, e delongas, que em Roma, e Espanha sobre este caso passaram, que no fazem a realidade da Estoria, finalmente El-Rei, e as irms se concordaram por maneira, que as Villas de Monte mr, e Alanquer ficaram com ellas segundo a disposio do testamento del-Rei Dom Sancho seu pai, e as Villas e Castellos, e terras de Portugal, que El-Rei de Lio tinha tomadas foram entregues, e restituidas a El-Rei Dom Affonso. No qual meio tempo que durou esta diviso, e discordia uns e os outros fizeram grandes, e danosas entradas, e muitos roubos nos Reinos, uns dos outros, em que houve pelejas particulares sem alguma faanha de notar, cuja longa, e expressa declarao no ponho ora; porque para a sustancia da Estoria no muito necessaria. [28] CAPITULO IV Do fundamento que houve para Alcacere do Sal, que era de Mouros, ser cercado, e tomado dos Christos, e do Bispo de Lisboa principalmente Nos primeiros cinco annos que El-Rei Dom Affonso Reinou no se acha, que socedessem outras cousas, salvo as desavenas, e desacordos em que andou com suas irms, e irmos e assi a guerra com El-Rei de Lio, e com suas genetes como j disse, e passados os ditos cinco annos, e andando a era de nosso Senhor em mil e duzentos e dezasete annos os Christos, que estavam na conquista dultra mr por defeno, e recobramento da Terra Santa, tinham muitas necessidades de concorrer s cruas guerras, e cercos apertados, que dos Infieis padeciam, para o que os Summos Pontifice convocavam, e requeriam todolos fieis Christos de todalas naes, e vindo por mar a este soccorro muitas gentes Dalemes, e Framengos, e outras de contra o Norte fizeram todos uma frota de cento e cincoenta naos de que eram Capites principaes Iliquino, Conde Dolanda, e Georgeo, Conde de Frisa, com que iam outros Senhores, e grandes homens, e sendo em mar, em travs de Portugal para demandarem o estreito de Cibraltar deu na frota to grande, e to contraria tromenta, que algumas naos dellas se perderam, e outras correram ao Cabo de S. Vicente at a Villa de Faro, a qual com toda a Comarca, e Reino do Algarve ainda eram Mouros, e porque o vento contrairo, e assi a terra de imigos, em que estavam, no lhes traavam bem para sua segurana, elles para dos danos, e perdas recebidas se poderem milhor repairar[29] fizeram volta, com fundamento de se virem ao porto de Lisboa. Sendo outra vez em mar, deu nelles outra tromenta mais aspera, e de maior perigo que a primeira, em que j tambem perderam algumas naos com toda a gente que nellas vinha, e a outra frota depois que a tromenta cessou, e sobreveo bom vento de viagem, entrou toda via, e veo surgir ante a Cidade de Lisboa, e os Capites della asss tristes, e anojados, pelas grandes perdas de gentes, e doutras cousas, que no mar tinham perdidas, e sahindo logo Capites com pouca gente em terra, o Bispo, que ento era de Lisboa chamado Dom Matheus, sabendo que eram Christos os recebeo, e tratou com muita honra, e bom acolhimento, segundo a bondade de uns, e as necessidades dos outros requeria, de que o Bispo logo soube o proposito com que vinham, que era por soccorro, e ajuda da Caza Santa. E dahi a poucos dias este Bispo de Lisboa porque era Prelado de mui bom espirito, e grande corao, depois de ter juntos com seus rogos, e boa humanidade os principaes destes Estrangeiros lhe disse. Honrados, e devotos Senhores, Deos sabe que a mim peza muito de todolos nojos infortunios, que passastes, e o remedio por agora no outro salvo paciencia do passado, e esforo, e bom corao para o que mais vier, vs vedes bem, quanto vos contrairo o tempo para seguirdes vossa proposta viagem, e desto por vossos Pilotos, e mariantes podeis ser milhor certificados, pde ser, e eu assi o creo, que Deos o premite assi para alguma cousa de seu louvor, e servio, e tambem de nossas honras, e proveito, e esto digo porque aqui junto ha um Castello em poder de Mouros, que dizem Alcacere, de que esta terra toda que de Christos recebe muito dano; se vos prouver [30] pois este feito, no estranho doutros, que emprendestes, e a que his ajudarnos nelle, assi como vejo que podeis fazer, e com vossa gente, e ajuda de Deos ......Buy Now (To Read More)

Product details

Ebook Number: 22826
Author: Pina, Rui de
Release Date: Oct 2, 2007
Format: eBook
Language: Portuguese
Publication Date: 1906
Publisher Country: Lisboa:

Returns Policy

You may return most new, unopened items within 30 days of delivery for a full refund. We'll also pay the return shipping costs if the return is a result of our error (you received an incorrect or defective item, etc.).

You should expect to receive your refund within four weeks of giving your package to the return shipper, however, in many cases you will receive a refund more quickly. This time period includes the transit time for us to receive your return from the shipper (5 to 10 business days), the time it takes us to process your return once we receive it (3 to 5 business days), and the time it takes your bank to process our refund request (5 to 10 business days).

If you need to return an item, simply login to your account, view the order using the "Complete Orders" link under the My Account menu and click the Return Item(s) button. We'll notify you via e-mail of your refund once we've received and processed the returned item.

Shipping

We can ship to virtually any address in the world. Note that there are restrictions on some products, and some products cannot be shipped to international destinations.

When you place an order, we will estimate shipping and delivery dates for you based on the availability of your items and the shipping options you choose. Depending on the shipping provider you choose, shipping date estimates may appear on the shipping quotes page.

Please also note that the shipping rates for many items we sell are weight-based. The weight of any such item can be found on its detail page. To reflect the policies of the shipping companies we use, all weights will be rounded up to the next full pound.

Related Products

Recently Viewed Products