A Morte de D. Ignez de Castro

A Morte de D. Ignez de Castro - Cantata por Manoel Maria Barbosa du Bucage; A Que Se Ajunta o Episódio, Ao Mesmo Assumpto, do Immortal Luiz de Camões

Longe do caro Esposo Ignez formosa Na margem do Mondego, As amorosas faces aljofrava De mavioso pranto. Os melindrosos, candidos Penhores Do Thlamo furtivo, Os Filhinhos gents, imagem della, No regao da Mi serenos goza O somno da Innocencia. Cro subtil de algeros Favnios, Que os ares embrandece, Ora enlevado afaga Com as plumas azues o Par mimoso, Ora, slto, inquieto Em lda travessur, em doce brinco, Pela Amante saudosa, Pelos tenros Meninos se reparte, E com tnue murmrio vai prender-se Das aureas tranas nos anneis brilhantes. Primavera loua, Quadra macia Da ternuia, e das flores, Que bella Natureza o seio esmaltas, Que no prazer de Amor ao Mundo apuras O prazer da existencia, Tu de Ignez lacrimosa As mgoas na distrahes com teus encantos. Debalde o Rouxinol, cantor de amores, Nos versos naturaes os sons vara, O lmpido Mondego em va serpa C'um benigno susurro, entre boninas De lustroso matiz, almo perfume; Em va se doira o Sol de luz mais viva, Os Ceos de mais pureza em va se adorna Por divertir-te, Castro: Objectos de alegria Amor enjoa Se Amor he desgraado. A meiga voz dos zephyros, do rio Na te convida o somno: S de j fatigada Na luta de amargosos pensamentos, Cerras, misera, os olhos; Ma na ha para ti, para os Amantes Somno plcido, e mudo; Na dorme a fantasia, Amor na dorme: Ou gratas illuses, ou negros sonhos Assomando na ida, esperta, rompem O silencio da Morte. Ah! Que fausta Visa de Ignez se apossa! Que scena, que espectaculo assombroso A paixa lhe afigura aos olhos d'alma! Em marmreo sala de altas columnas A Slio magestoso, e rutilante Junto ao regio Amador se cr subida; Graas de neve a prpura lhe envolve, Pende augusto Docel do tecto de oiro; Rico Diadema de radioso esmalte Lhe cobre as tranas, mais formosas que elle; Nos luzentes degros do Throno excelso Pompsos Cortezos o orgulho acurva; A Lisonja sagaz lhe adoa os lbios, O Monstro da Politica se aterra, E se Ignez perseguia, Ignez adora. Ella escuta os extremos, Os vivas populares, v o Amante Nos olhos estudar-lhe as leis que dicta; O prazer a transporta, Amor a encanta; Premios, ddivas mil ao Justo, ao Sbio Magnanima confere, Rainha esquece o que soffreo Vassalla: De sublimes aces orna a Grandeza, Felicita os Mortaes, do Sceptro he digna, Impera em coraes mas Ceos! Qu'estrondo O sonho encantador lhe desvanece! Ignez sobresaltada Desperta, e de repente aos olhos turvos Da vistosa illusa lhe foge o quadro. Ministros do Furor, tres vs Algozes, De buidos punhaes a dextra armada, Contra a bella Infeliz bramindo avana. Ella grita, ella treme, ella descra, Os Fructos da ternura ao seio aperta, Invocando a piedade, os Ceos, o Amante; Mas de marmore aos ais, de bronze ao pranto, suave attraca da formosura, Vs, bruto Assassinos, No peito lhe enterrais os mpios ferros. Cahe nas sombras da Morte A Victima de Amor, lavada em sangue, As rosas, os jasmins da face amena Para sempre desbota. Dos olhos se lhe sme o doce lume, E no fatal momento Balbucia, arquejando: "Esposo, Esposo." Os tristes Innocentes triste Mi se abraa, E solta de agonia inutil chro. Ao suspiro exhalado, Final suspiro da formosa Extincta, Os Amores acodem. Mostra a Prle de Ignez, e a tua, Venus, Igual consternaa, e igual belleza: Huns dos outros os candidos Meninos S nas azas differem, (Que jazem pelo campo em mil pedaos Carcazes de marfim, virotes de oiro) Sbito voa dois do Cro alado: Este, raivoso, a demandar vingana No Tribunal de Jve, Aquelle a conduzir o infausto annuncio Ao descuidado Amante. Nas cem tubas da Fama o gra desastre Ir pelo Universo: Ha de chorar-te, Ignez, na Hircania os Tigres, No torrado Certa da Libya fra As Srpes, os Lees ha de chorar-te. Do Mondego, que attonito recua, Do sentido Mondego as alvas Filhas Em tropel doloroso Das urnas de crystal eis vem surgindo, Eis, attentas no horror do caso infando, Terriveis maldies dos lbios vibra Aos Monstros infernaes, que va fugindo. J cra de cipreste a Malfadada, E, arrepejando as ntidas madeixas, Lhe urdem saudosas, lgubres endeixas. Tu, Eco, as decoraste, E, cortadas dos ais, assim resoa Nos cncavos penedos, que magoa: ......Buy Now (To Read More)

Product details

Ebook Number: 23110
Author: Bocage, Manuel Maria Barbosa du
Release Date: Oct 20, 2007
Format: eBook
Language: Portuguese
Publication Date: 1824
Publisher Country: Lisboa:

Contributors

Contributor (Author): Camões, Luís de, 1524?-1580