Memória sobre a plantação dos algodões

Memória sobre a plantação dos algodões

Memória sobre a plantação dos algodões - e sua exportação sobre a decadencia da lavoura de mandiocas,...
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Author: Bettencourt, José de Sá
Format: eBook
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Memória sobre a plantação dos algodões - e sua exportação sobre a decadencia da lavoura de mandiocas, no termo da villa de Camamú, Comarca dos Ilhéos, Governo da Bahia

Title: Memria sobre a plantao dos algodes Subtitle: e sua exportao sobre a decadencia da lavoura de mandiocas, no termo da villa de Camam, Comarca dos Ilhos, Governo da Bahia Author: Jos de S Bettencourt Release Date: January 26, 2010 [EBook #31093] Language: Portuguese Credits: Produced by Rita Farinha and the Online Distributed Proofreading Team at https://www.pgdp.net (This file was produced from images generously made available by National Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal).) Nota de editor: Devido existncia de erros tipogrficos neste texto, foram tomadas vrias decises quanto verso final. Em caso de dvida, a grafia foi mantida de acordo com o original. No final deste livro encontrar a lista de erros corrigidos. Rita Farinha (Jan. 2010) PLANTAO DOS ALGODES J. S. Bettencourt MEMORIA SOBRE A PLANTAO DOS ALGODES. MEMORIA SOBRE A PLANTAO DOS ALGODES, E sua exportao; sobre a decadencia da Lavoura de mandiocas, no Termo da Villa de Camam, Comarca dos Ilhos, Governo da Bahia, APPRESENTADA, E OFFERECIDA A SUA ALTEZA REAL O PRINCIPE DO BRAZIL NOSSO SENHOR, POR JOS DE S BETENCOURT, Bacharel Formado pela Universidade de Coimbra: e actualmente encarregado em exames de Historia Natural na Capitania da Bahia; &c. ANNO. M. DCC. XCVIII. Na Officina de Simo Thaddeo Ferreira. SENHOR. Eu tenho a honra de apresentar a V. A. R. o breve resumo das minhas poucas observaes sobre a plantao dos Algodes, sua exportao; e tambem das causas da decadencia da lavoura de mandiocas no termo da Villa de Camam, que olhadas por V. A. R., Pai commum, ser a dita lavoura dos Algodes hum dos maiores ramos do nosso Commercio para felicidade da Nao, e riqueza da Capitania da Bahia, onde a Natureza tem depositado os Thesouros, de que s he capaz a sua liberalidade. Espero que V. A. R. haja de acolher com a grandeza do seu Real Corao os bons desejos, que tenho, do servio de V. A. R., da felicidade do Paiz, e augmento da Nao, no breve discurso, que tenho a honra de apresentar a V. A. R. de quem sou com o maior respeito, e venerao Vassalo obediente Jos de S Betencourt. A Terra, mais rica na sua superficie, que nas suas entranhas, serve de theatro Sbia Natureza, que a renova todos os dias, com as suas produces; fazendo succeder por meio das differentes, e multiplicadas sementes outras tantas especies de vegetaes, que cobrem a superficie do nosso Globo, e fazem a felicidade dos seus habitantes. Ella reparte com grande sabedoria os seus dons, e faz que se propaguem sobre os differentes terrenos, que lhes so proprios, j pela qualidade do seu humus, j pela natureza do clima, sem que a destra mo do Agricultor os possa fazer propagar sua vontade: assim vemos, que as plantas da Europa com difficuldade se propago em beiramar do Brazil; e algumas que fora de trabalho crescem, e propago, a sua produco he debil, e sem que os Lavradores posso tirar as vantagens, que se tiro na Europa, como vemos, e se observa na vinha, que mal satisfaz a curiosidade do cultivador, sem que a produco corresponda ao trabalho. Outras, que vegeto, e no propago, como [8] a oliveira, &c. outras de tal sorte amantes do seu paiz, que no vegeto, nem propago. O mesmo, que observamos nas plantas da Europa, cultivadas no Brazil, se observa nas plantas deste levadas para a Europa, que s vivem em cazas de vidraas, subministrando-se-lhes com estufas o calor, que lhes he necessario para a sua vegetao. O Agricultor pde modificar o terreno, fazendo-o mais ou menos gordo, mais ou menos poroso, appropriando-o natureza da sua lavoura, mas no o clima em grande, que influe na maior parte da vegetao. Eu no me cano em referir as differentes observaes dos Filosofos, para provar, que o clima influe mais na vegetao, do que a terra, por ser esta materia huma, e muitas vezes discutida, e provada; porque sendo a terra a mesma em toda a parte, e susceptivel de receber as modificaes do Agricultor, vemos que ha grande difficuldade em se fazer propagar as plantas de differentes climas transplantadas; e ainda que saibamos, confrme os verdadeiros princpios de Agricultura, e de Chymica, que a terra he o meio, no qual se faz a germinao, e que no serve s de laboratorio, confrme o Abbade Tessier aos succos, que lhes so destinados; mas que entra tambem em grande parte na sua composio, seja ella attenuada do modo, que for, o que ainda existe nos occultos segredos da [9] Natureza, que o homem no pde perceber, o que se conhece pelo residuo dos vegetaes queimados; com tudo outras muitas experiencias prvo, que o ar he muito necessario para a perfeita vegetao, e que entra em grande parte na sua composio. A necessidade, que os vegetaes tem de agua para a sua vegetao, he por todos bem conhecida, no sendo demasiada, assim como o calor, que he o princpio vivificante, o que tudo coopera, para que as plantas creso, e produzo, confrme a qualidade do clima; que lhes he analogo. Eu me no demoro em relatar theorias sobre o princpio da vegetao; porque isto sera exceder o plano, que me proponho; s me basta provar, que o clima differente influe nesta, ou naquella lavoura, para que o Agricultor perceba as utilidades com vantagem. A mesma differena, que observamos nos Paizes da Europa em relao aos de beira mar do Brazil, se observa nestes a respeito dos do Serto, ou terra dentro, onde so as estaes mais regulares, e as chuvas vem em tempos determinados, e constantes, o que faz, com que a lavoura seja igual, e sempre certo o tempo da plantao. O terreno da Villa do Camam, que fica entre 14, e 15 gr., desviado da Bahia ao Sul 24 legoas, he o Paiz mais irregular nas suas estaes, [10] que tenho visto, porque, quer seja de vero, quer de inverno, sempre as chuvas so continuadas; e o calor no vero, confrme o termometro de Fahrenheit, no chega a mais de 80 gr. e meio[1], o que faz, com que as plantaes se conformem irregularidade do clima, e se no possa nelle cultivar com vantagem, seno Mandiocas, Cafs, Arroz, e Cacau, e no o Algodo, que he o principal objecto; porque, ainda que cresa nas boas terras de beira mar, a sua cultura se no pde fazer com proveito, visto que o terreno lhe no he to proprio, e a irregularidade do clima rouba ao Lavrador as suas esperanas, vindo as chuvas no tempo da colheita, a destruir, e apodrecer o Algodo, ainda nos seus capulhos. Esta irregularidade se observa nos Paizes, que fico ao Sul da Bahia entre 13, e 20 gros, onde se no conhece vero, nem inverno[2], seno pelo mais, ou menos calor, confrme os ventos, que reino nestas duas estaes; e nunca o frio excede de 60 at 55 gr. do mesmo termometro, tempo, em que reina o vento Sul, que sempre he acompanhado de chuvas. [11] A 14 legoas da Villa de Camam, fazendo caminho de Oest-Sudueste at encontrar as margens do Rio das Contas, onde confino as matas grossas, com as Catingas altas[3], e vo confinar a 12 legoas com as Catingas baixas[4], j a regularidade do clima se confrma com a fertilidade do terreno, muito proprio para todas as plantaes, particularmente, para a lavoura do Algodo, onde se acha silvestre no meio das ditas Catingas. Este terreno, que fica a 26 legoas de beira mar separado pela mata, a qual vem a confinar, com as que os naturaes do Paiz chamo Catingas grossas, he sem dvida o mais proprio para a dita lavoura, porque o Algodo domestico, huma vez plantado, se conserva por muitos annos, ainda sem nenhum beneficio, como o encontrei na Fazenda do Rio das Contas, onde tinha sido plantado havia dezoito annos, e se conservava no meio das Capoeiras[5], com tanto vigor, como se fosse novamente plantado. Todo o Serto da borda do Rio das Contas [12] tem a mesma propriedade: toda a mata, que fica entre o dito Rio das Contas da parte do Sul, e o Rio do Gragongi, confrme a f dos bandeiristas[6], possue as mesmas qualidades. Este vasto terreno, que principia a 13 legoas da beiramar, he cortado de Sueste, a Noroeste pelo Rio das Contas, susceptivel de navegao de grandes canoas, e outros muitos rios, que vem cruzar com elle, tanto da parte do Norte, como do Sul, sem a mesma facilidade de navegao, os da parte do Norte so o Ribeiro de Area; ou Montanha, Genipapo, Manageni, Rio das Pedras, Rio Preto. Todo o Serto da Conquista desde a fazenda do Rio das Contas, fazendo caminho de Sul, que ser de 40 legoas, tem a mesma propriedade, no s pela qualidade do terreno, como tambem pela regularidade do clima, que he tanto mais regular, quanto mais se affasta da beiramar. A margem do Rio Gavio, que vem fazer barra com o Rio das Contas, seguindo o rio o caminho de Oeste, he igualmente propria para a sobredita lavoura. [13] Os proprietarios das fazendas, que conhecem as vantagens desta lavoura, a no fazem pela razo, que logo exporei, quando fallar da sua exportao. A planta, que produz o Algodo, entra na Classe Monadelphia Ordem Polyandria, genero Gossypium. Lineu, se servio, para distinguir as especies, das differenas das folhas, e das glandulas, que se acho em algumas especies, e no em outras, cujo conhecimento s fica pertencendo aos Filosofos, e no ao do vulgo; razo porque me servi da differena das sementes, e do plo, que as cobre, confrme as suas cores, por ser hum caracter constante no Paiz, e conhecido de todos, que fazem uso desta cultura, ainda que em pequeno; e da unio destas mesmas sementes, ao que chamo caroo inteiro, ou dividido. Para se cultivar o Algodo basta derribar as Catingas altas, ou Catingas baixas, logo que o tempo secco convida para este trabalho, que he do mez de Junho por diante, e se deixo seccar at o mez de Setembro. Os Soes, que neste tempo so ardentissimos, secco as madeiras de tal sorte, que quando as chuvas aviso aos habitantes da sua chegada pelos grandes troves, que costumo haver muitos dias antes, lhes lano fogo, que reduz tudo a cinzas, deixando a superficie da terra limpa, para se fazer a plantao, sem maior incmmodo, [14] ficando a terra estrumada, e fertil pelo alkali vegetal. A lavoura se faz com enxadas, abrindo covas de oito em oito ps, onde se lano as sementes[7], e se cobrem com pouca terra; e porque o terreno ficaria muito ocioso s com esta planta pela grande distancia, que se lhe d para a sua ramificao, em quanto no chega ao seu maior crescimento, e por se no ver o Lavrador obrigado a alimpar a terra, que fica neste espao, das hervas, que nascem sem maior proveito, lhe planta o milho, e feijo, que tudo cresce igualmente, sem que fao damno ao Algodoal. A estao, que comea a ser chuvosa, no cssa de regar a lavoura regularmente todas as tardes, e muitas vezes noite, vindo de manh o Sol at o meio dia animar a lavoura; algumas vezes acontece virem as chuvas de oito em oito dias, por intervallos, no mez de Outubro, at chegar a meiados de Novembro, tempo, em que ellas so constantes. A fertilidade do terreno faz crescer com as [15] plantas, outras muitas hervas, que o Lavrador he obrigado a arrancallas, ou sachallas para desaffogar a sua lavoura, que ento cresce prodigiosamente; e quando se d a primeira limpa, se arranco os ps de Algodo superfluos na cova[8], deixando s dous, que se capo, quando a planta j tem altura sufficiente para brotar novos galhos ao redor do tronco, e fazer com esta operao maior lucro na colheita. No mez de Fevereiro costumo os Lavradores dar a segunda monda sua lavoura, confrme as suas differentes occupaes, e abundancia da herva, que torna a renascer depois da primeira limpa. No mez de Maio se faz a colheita do milho, e do feijo, deixando o terreno desembaraado, e limpo, para no mez de Julho se dar princpio colheita do Algodo, que contina at o mez de Outubro, e Novembro, tempo, em que se pdo os Algodoeiros, para no segundo anno darem huma fertilissima colheita. A necessidade, que no cssa de ameaar o Lavrador, o disperta a continuar o mesmo trabalho, para ter certa a sustentao de milho, e feijo, que j no pde ser, seno em terreno novo, que serve para augmentar a dita plantao com a mesma regularidade. [16] Deste modo veria o Lavrador crescer, com o seu trabalho, as suas riquezas, no s pela felicidade da lavoura, seu rendimento, e durao da planta, como pela diminuta despeza no seu fabrico, se hum obstaculo lhe no embaraasse a execuo de hum plano to util ao Commercio, e ao Estado. O Abbade Tessier no seu discurso preliminar sobre a Agricultura se expressa da maneira seguinte.==O mais poderoso meio de dar Agricultura toda a actividade, de que pde ser susceptivel, he praticar caminhos de communicao em os Paizes, onde os no ha, e canaes navegaveis para transporte das mercadorias, &c. &c. Encyclopedia Dictionario de Agric, pag. 20. No he a falta do caminho, que faz o embarao da exportao, mas sim a falta de segurana deste mesmo caminho para socego, e frequencia dos viandantes, que, na travessa da mata, se vm accommettidos do Barbaro Gentio Cotachs, privando-os da facilidade de transportarem as suas cargas pelo rio abaixo at o Ribeiro da Ara, que fica a 13, at 14 legoas da Villa de Camam, de donde se podem muito bem conduzir em cavalgaduras, para deste porto serem enviadas para a Capital, se houvesse naquelle lugar hum corpo de homens, que os fizessem conter nos seus limites, repellindo a fora das invases. [17] Este caminho, em outro tempo aberto por Ordem do Excellentissimo Manoel da Cunha Menezes, quando governou a Bahia, terminando na estrada, que vai para os Maracazes, dirigida dos Sertes da Conquista, que fico abaixo das Contagens de Rio Pardo, e Tocajs, se fechou, no s pela infestao do Gentio, mas pelo longe, mo passo, e falta de pastagens para os animaes, o que conhecendo eu bem, obrigado da necessidade dos animaes precisos para o costeamento dos meus Engenhos, pela miseria, e lastimosa necessidade do povo, me resolvi a fazer outro, seguindo differente rumo, onde gastei tres annos sem adjutorio do povo, nem da Camara, nem doutrem, perdendo em todo este tempo o lucro das minhas lavouras, e o fiz muito mais perto, e por hum terreno, que o acaso subministrou com algumas pastagens. No he preciso para segurana deste caminho mais, que huma Povoao de Judios mansos chamados Mongois no Ribeiro da Ara. No so os particulares, que tem este poder; mas sim o Governo, onde existe a Rgia Authoridade. Eu no conheo homens mais aptos para este fim, do que a domestica Nao dos Indios Mongois, no s pelo seu grande valor, e intrepidez, como por serem huns homens acostumados vida silvestre, e que a maior parte do tempo vivem da cassa, e da pesca, ainda que sejo Agricultores, e [18] amantes da lavoura, no soffrendo maior detrimento, em quanto crescem no primeiro anno as suas lavouras, e desejo isto mesmo, confrme o que me dissero, pelas razes, que vou dar. Primeira, porque ha muito tempo no recebem as ferramentas, que costumavo receber por Ordem do Governo. Segunda, porque na grande distancia, em que moro, no tem, quem represente as suas necessidades ao Governo para as remediar. Terceira, porque se vm opprimidos, sem poderem fazer as suas lavouras, e as que fazem, serem destruidas pelos animaes domesticos dos habitantes. Quarta, pela oppresso, que soffrem, de quem os governa, sem que o longe lhes permitta a facilidade, de se poderem queixar. Quinta, porque o terreno da beira do Rio he mais abundante de cassa, e peixe, e muito fertil; e sendo ahi animados de huma prudente administrao, de que so muito susceptiveis, podem fazer a sua felicidade, de que resulto ao Estado as seguintes vantagens. Primeira, confrme o que me dissero, quando aqui chegro na expedio da Bandeira contra os Cotachs, logo, que elles viessem para a beira do Rio, as outras Aldas da sua mesma Nao, que ainda no sahro das matas, se virio encorporar [19] com elles, assim que lhes constasse da sua felicidade, debaixo da doce administrao, e proteco do Estado. Segunda, estes homens conciliados, debaixo da direco de hum Director desinteressado, sero outros tantos valerosos soldados, que com facilidade dalli melhor podem ser chamados, confrme as necessidades da beiramar, do que do fundo dos Sertes, onde presentemente habito. Terceira, ficando a estrada livre da infestao dos Cotachs, o Commercio ser livre aos viandantes, para com segurana trazerem as suas mercadorias, de cuja facilidade resulta a animao de huma lavoura to importante, servindo estes homens, para exportarem nas canoas as grandes sommas de Algodo, que a emulao far cultivar em todo o vasto terreno do baixo Serto da Reraca[9], Conquista[10], e Borda da mata, e das margens de muitos rios navegaveis, que vem ter ao dito Rio das Contas. Quarta, o poder-se frequentar a dita Estrada da beira do Rio para a Villa do Camam, por ficarem os moradores livres do receio das invases dos Cotachs, que se entranharo pelas matas do Sul, logo que souberem da residencia destes homens [20] na beira do rio, to valerosos, e destros no s no manejo das suas armas, como das nossas. Quinta, o grande Commercio de Ipeccuanha, que elles podem fazer, tirando-a nas margens do mesmo Rio das Contas, Ribeiro da Ara, e matas do Gragongi, onde ha com abundancia. He experimentado na Agricultura, que a falta de animaes para o seu fabrico faz a sua decadencia. Esta verdade, que tem sido provada em muitos Paizes, confrme os Abbades Rosier, e Tessier, grandes escritores, e Mestres desta Sciencia, no deixa de ser lastimosamente comprovada neste Paiz, que sendo, em outro tempo, abundante de farinhas, unico commercio, que fazia para a Capital, hoje se v reduzido ultima miseria de sorte, que a exportao, que presentemente se faz para a Bahia, deste genero to necessario, he, para a que se fazia em outro tempo, como de 1 para 1000. A razo desta decadencia he bem conhecida. Em quanto havio matas virgens borda do mar, ou de muitos rios navegaveis, que entro algumas legoas terra dentro, a lavoura se fazia com facilidade, e com a mesma se conduzio as farinhas s costas dos escravos, e de poucos animaes para os prtos de embarque. Hoje porm que j as terras da borda d'agua esto reduzidas a Capoeiras, huma, e muitas vezes plantadas, e minadas de formigueiros, [21] destruidores da mandioca, he o producto da lavoura nas capoeiras, para o producto, que tiravo os Lavradores nas matas virgens, como de 5 at 10, para 40, 50, 60, e para 100, o que se prva pela tradio dos antigos Lavradores, e pelo preo das farinhas desse tempo, que nunca excedero a 480, sendo o preo usual de 240, a 320 o sacco[11], e o seu preo actual 1280, a 1600, sem esperanas de melhoramento, porque sempre o preo he na razo inversa da abundancia do genero. Os pvos humildes por sua natureza, e pela creao mui grosseira, se no animo a procurar melhoramento, no s pela pequenhez do seu animo, como por lhes faltarem os animaes necessarios, para conduzirem de mais longe as suas farinhas. A falta de aougue he outro obstaculo. Os Pvos, no tendo huma certa sustentao, no se animo a apartarem-se dos mangues, para lhes no faltar o sustento do Carangueijo[12]. Nas tres legoas, da borda dos rios para dentro, esto as boas terras de lavoura de mandiocas, que [22] pela sua grande produco, se os Lavradores se animassem a entrar, tendo abundancia de animaes para transporte das suas farinhas, como se v na ribeira de Nazar, fario renascer a abundancia deste genero to precioso neste paiz. Outros muitos estabelecimentos de Engenhos de assucar se poderio fazer, de que resultario ao Estado grandes vantagens, se houvesse no Paiz abundancia de animaes, o que no succede pela falta de abertura ou de estrada. A Agricultura entretem de dous modos o commercio, tanto interior, como exterior, fazendo propagar os generos de exportao para as manufacturas, e os que se consomem na terra, e servem de sustentao. Faz a base fundamental da felicidade dos Pvos, e da riqueza do Estado. O Arraial do Caitit, que fica 30 legoas inda acima das Cabeceiras do Rio das Contas, que dista 130 legoas, ou pouco menos do primeiro porto de embarque, que he na Villa da Cachoeira, era 25 annos pobre, deserto, e s manejava o diminuto commercio de gados, mas de muito pobres fazendas se v hoje o mais rico daquelles Sertes, depois que dero princpio cultura do Algodo, havendo nelle grandes Lavradores, pela facilidade, e segurana de fazerem descer por huma estrada frequentada os seus generos. Os Pvos de Minas Novas, a exemplo destes, [23] no obstante o serem duas vezes mais remotos do porto de embarque, fizero o mesmo, a pezar do grande dispendio na exportao: ora se estes Pvos, a pezar da grande distancia, acho utilidade nesta lavoura to recommendada pela nossa Academia das Sciencias de Lisboa sobre o Algodo da Persia, em que logo fallarei, que vantagens no tero os que cultivarem borda da mata do nosso Serto, que est to perto, ainda havendo a facilidade de se conduzirem as cargas pelo rio abaixo em canoas, at o Ribeiro da Ara, sendo o terreno o mais proprio, que se conhece para a dita lavoura. As sementes do Algodo da Persia, que me foro entregues com a norma impressa da sua cultura, eu fiz plantar em differentes tempos, e no nascro, por j terem o germe destruido, e assento que se deverio mandar vir frescas, mettidas em vasos de vidro tapados, se possivel for, hermeticamente, e se poderem vir logo em direitura muito melhor ser para no padecerem as sementes alterao na parte oleosa, que contm a polpa, que cobre o germe, ou plumula. O Algodo da India, que c temos, tem nas sementes alguma semelhana com o Algodo da Persia, por serem alguma cousa cobertas de hum plo branco, porm no tanto, como o da Persia; a sua flr he de hum vermelho cr de fogo, caracter [24] distincto do Algodo de Macassar, o qual ainda conservamos em muito pequena quantidade, por ser mais difficil no colher, porm bastante para se poder augmentar a plantao; reliquias que nos ficro dos generos da India, que em outro tempo aqui foro cultivados, como a Canella, a Pimenta, o Gengibre, e o mesmo Algodo, de que remetto o exemplo na pequena caixa das amostras, onde vo seis qualidades de Algodo; a saber. Algodo de caroo inteiro, comprido, e preto, que he de muita vantagem na sua cultura, porque he mais fertil em la, inda que de qualidade mais spera, como se pde ver na amostra, que remetto, e s pde servir para as obras mais grossas. Chamo a este Algodo vulgarmente do Maranho; cuja arvore he de menos durao. Algodo de caroo inteiro, e preto, porm no to comprido, como o do Maranho, a que chamo Algodo vulgar; a sua la em tudo se assemelha do Maranho, porm tem differena por ser o seu fio mais fraco, que o do Maranho, porm a sua arvore he de mais durao. Algodo de caroo unido, coberto de hum plo pardo, a que chamo Algodo de caroo pardo, fertil em la mais macia, e doce, que a do Maranho, e produz hum fio fortissimo: a sua arvore he de bastante durao. [25] Algodo de caroo unido, coberto de hum pllo verde, a que chamo Algodo de caroo verde, a sua la he abundante, doce, branda, e forte no fiar: a sua arvore he de huma grande durao. Estas duas qualidades podem servir para obras mais delicadas como cassas vulgares. Algodo de caroo inteiro, e preto, de la parda, ou cr de ganga; a sua la he muito macia, e forte: a sua arvore he duravel, pde servir para se fazerem as gangas, e outras obras de fustes, em que entrem listras cr de gangas. Algodo da India de caroo dividido, coberto de hum pllo branco bem semelhante aos caroos, ou sementes do Algodo da Persia, de que j fallei: a sua la he de hum branco fino muito doce, que produz hum fio forte, capaz para as obras mais delicadas, como cassas de sopro, &c. Algodo da India de caroo preto sem ser coberto, e dividido; a sua la he igual do precedente com a differena de que o caroo no tem pllo; a maa he maior, e os casulos, ou capuchos mais abundantes de la: tambem tem a differena nas arvores, porque a do caroo preto he mais crescida, quando a do caroo coberto he muito rasteira, ainda que a sua durao seja igual, pois, sendo cultivadas em terreno fertil, e estrumado, aturo muitos annos. As arvores, que produzem o Algodo de caroo [26] pardo, verde, e preto, vulgar, e de cr de ganga, so persistentes, e aturo muitos annos; a do Maranho no chega a aturar dous annos neste Paiz, ainda que no ha exemplo da sua cultura no Serto, onde o terreno he mais proprio para a dita lavoura, e atura hum p de Algodo entre o mato sem nenhum beneficio 25 annos, e muito mais, porque ainda existem alguns, que j tem esta idade. Temos outras duas qualidades de Algodo silvestre, que se encontra em abundancia nas Catingas margem do Rio das Contas, tendo ambas as mesmas propriedades do Algodo da India, tanto nas sementes, como nas arvores s com a differena, de que huma destas especies tem a la parda, e spera por falta de cultura. O Algodo domestico, cultivado nas Catingas, d hum producto consideravel, o qual se pde ver na taboa analitica do rendimento do Algodo. A execuo destas vistas importantes, no pde pertencer a outrem, seno ao Rei, porque ellas pedem despezas, que excedem fortuna dos particulares, e necessito da animao das Ordens, e do poder do Soberano, para transportar casaes de Ilheos, do mesmo modo, que se fez para a Ilha de Santa Catharina, para dar maior avano cultura dos Algodes, e cultivar-se hum terreno, que pde sustentar muitos milhes de Vassallos de Sua Magestade, e descobrirem-se [27] immensos thesouros, que se acho sepultados debaixo das matas, que, por falta de cultura, se no conhecem; e em quanto o Estado no d sobre este importante objecto as providencias precisas, basta que o Governo determine a residencia dos Indios Mongois na beira do Rio, para que ficando a estrada livre das invases dos Catachs, se d princpio a huma to importante lavoura, como tambem para que possa por ella descer todo o Salitre, que se fabricar no s nos Montes Altos, como em todo o terreno nitroso do Ribeiro da Giboia, que fica a 40 legoas de beiramar, de muito facil conduo, fazendo-se primeiro conduzir em carros at o sitio chamado da Passagem, e dahi em canoas at o Ribeiro da Ara, como tenho j dito a respeito da exportao do Algodo, e com muita facilidade conduzir-se para o primeiro porto de embarque: no caso que seja o Salitre, o que torna as aguas da dita Ribeira de hum gosto salgado frio, sendo as terras das suas margens bastante salgadas; o que unicamente observei, sem que podsse analysallas pela precipitao, com que por ahi passei, e no ter vasos suficientes para o poder fazer: posto que tinha a noticia, de que Joo Gonalves da Costa fizera seccar huma poro deste Sal, que dizia ser Salitre, e o tinha trazido a esta Cidade da Bahia no tempo do Illustrissimo Governador Manoel da [28] Cunha Menezes, que, lanado no fogo, fazia a detonao, deixando pela sua impureza bastante terra; porque o seu author no possuia os conhecimentos precisos, para fazer a perfeita deputao, o que s pde decidir o exame filosofico, para ento se poder verificar, sem a menor dvida, inda que me affirmo pessoas de toda a f, que a tal massa detonava bastante exposta ao fogo; e no s pde servir o beneficio da dita estrada para a facilidade da exportao deste genero, mas tambem de todos os ramos, de que se segue to grandes vantagens ao Commercio, e por consequencia ao Estado. O fortunatos nimium, sua si bona norint, Agricolas!... Virgil. Georg. Liv. 2. [29] DESCRIPO DAS DIFFERENTES ESPECIES DE ALGODO QUE TEMOS NO BRAZIL. Algodo do Maranho de Caroo inteiro, e comprido.[13] A sua ma, ou pericarpio comprida bastante grossa, que contm nas suas valvulas, ou cellulas tres capulhos, ou capuchos na frase do Paiz, da huma abundante la, que cobre nove at dez sementes unidas em hum s corpo, a que chamo caroo inteiro, o qual tem de comprimento pollegada e meia. A sua arvore em beiramar da Villa do Camam s atura dous annos, e no ramifica como as outras, porque da altura de tres palmos da terra, onde o tronco he grosso bastante, brota muitas vergonteas, sem que faa maior ramificao. A sua la, no deixa de ser a mais spera que c temos, e pde servir para muitos usos. [30] Algodo de caroo pardo, e inteiro.[14] A sua maa mais grossa, que a precedente, porm no to comprida, contm de tres at quatro valvulas, que encerro outros tantos capulhos, ou capuchos de huma abundante la, muito clara, e doce, que cobre nove sementes unidas em hum caroo, coberto de hum pllo pardo, o seu comprimento he pouco mais de pollegada; o fio, que produz este Algodo, he forte, e por isso se pde fiar bem delicado. A sua arvore he grossa bastante, e de huma grande ramificao, atura muitos annos, e por isso de grande vantagem. [31] Algodo de caroo verde, e inteiro.[15] A sua ma em tudo semelhante precedente, contm quatro capulhos; de huma la clarissima, e muito fina, que cobre nove sementes unidas cobertas de hum pllo verde, caracter distinctivo desta especie; este Algodo produz hum fio fortissimo, e por isso muito proprio para as obras mais delicadas. A sua arvore he em tudo semelhante precedente, e quasi estas duas especies so analogas, e s as differena a cr do pllo, que cobre os caroos. Algodo de caroo inteiro de la parda cr de ganga.[16] A sua maa he ordinaria, e produz tres ou quatro capulhos, ou capuchos de huma la parda, que cobre hum caroo inteiro, e unido, que he composto de sete e nove sementes. A sua arvore he persistente, e de muita durao. [32] Algodo vulgar.[17] Tem as mesmas propriedades que o Algodo de Maranho, unicamente com a differena do seu caroo ser menor, composto de sete ou nove sementes, e raras vezes de dez. A sua arvore he de grande durao. Algodo da India de caroo dividido, e cuberto de hum pllo branco.[18] A sua maa he pequena com tres quatro valvulas, contm outros tantos capulhos de huma la finissima, muito alva, que cobre sete sementes divididas, que faz o caracter do caroo dividido. A sua arvore he rasteira, e muito duravel. Esta semente nos veio da India, em companhia do Cravo, da Canella, e do Gengibre, e se tem conservado at agora. Tambem temos outra especie de Algodo da India de Caroo dividido, e preto de la muito macia, e alva. A sua arvore he mais alta, que a precedente. [33] Temos ainda duas especies de Algodo naturaes do Paiz, que se acho silvestres nas margens do Rio das Contas, e bem semelhantes ao Algodo da India, tanto nas suas sementes, como na sua arvore, tendo huma das duas especies a la spera, e parda. Eu as fiz plantar em beiramar, mas no tempo da fructificao, as chuvas deitro abaixo as novidades, sem ficar huma s maa. A sua arvore he de grande durao. [34] CALCULO ANALYTICO. Hum escravo trabalhando em Algodo d de rendimento no Serto 250$000 Prepra terra para 500 ps Que do de la 62 e 16 a razo de 4 lib. por p Tirada de 1364 maas, que produz cada p de colheita ordinaria. Alm disto planta o milho, e feijo para o seu sustento, e para crear porcos, gallinhas, &c. O que melhor se conhece na TaboaSynthetica. FIM. CALCULO SYNTHETICO DO RENDIMENTO DO ALGODO DO CAROO PARDO, VERDE, E DO MARANHO. Produco do Algodo em Ma Capul. Gr. Oit. Lib. Arrob. Ps de Algod. Preo Huma maa contm 3 at 4 Hum capulho d de La 9 p. m. Oito ditos do 1 1024 Capulhos do 1 1024 Capulhos reduzidos a Maas do 341 Cada p de colheita ordinaria d 1364 Maas do de L 4 Cada trabalhador prepara terra para 500 500 ps do de Algodo 62-12 62 arrob. e 12 vendido pelo preo corrente da Praa de 6:400 625 6400 250000 3750 - 400000(0 400 000 62 arrob. e 12 no Serto vendida a 4:000 rende 625 6400 - 250000(0 250 000 Annuncio de huma mquina singla de carmear o Algodo, vista na China. Por * * * Com huma Estampa. 1. Hum banco donde se assenta o carmeador. 2. Huma verga flexivel. 3. Hum cordo, donde suspende o arco. 4. Gancho de ferro que engata na argola do arco. 5. Hum arco de po. 6. Huma corda de rabeco bastante grossa. 7. Hum mao pequeno com que bate na corda, e com ......Buy Now (To Read More)

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Ebook Number: 31093
Author: Bettencourt, José de Sá
Release Date: Jan 26, 2010
Format: eBook
Language: Portuguese

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