O Renegado a António Rodrigues Sampaio

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O Renegado a António Rodrigues Sampaio - carta ao Velho Pamphletario sobre a perseguição da imprensa Title:...
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Author: Leal, António Duarte Gomes,1848-1921
Format: eBook
Language: Portuguese
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O Renegado a António Rodrigues Sampaio - carta ao Velho Pamphletario sobre a perseguição da imprensa

Title: O Renegado a Antnio Rodrigues Sampaio Subtitle: carta ao Velho Pamphletario sobre a perseguio da imprensa Author: Antnio Duarte Gomes Leal Release Date: March 18, 2009 [EBook #28354] Language: Portuguese Credits: Produced by Rita Farinha and the Online Distributed Proofreading Team at https://www.pgdp.net (This file was produced from images generously made available by National Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal).) Nota de editor: Devido existncia de erros tipogrficos neste texto, foram tomadas vrias decises quanto verso final. Em caso de dvida, a grafia foi mantida de acordo com o original. No final deste livro encontrar a lista de erros corrigidos. Rita Farinha (Mar. 2009) O RENEGADO GOMES LEAL O RENEGADO A ANTONIO RODRIGUES SAMPAIO CARTA AO VELHO PAMPHLETARIO SOBRE A PERSEGUIO DA IMPRENSA LISBOA TYPOGRAPHIALargo dos Inglezinhos, 27 1881 A MANUEL DE ARRIAGA Eu bispo d'outra diocese... Guilherme Braga Antonio Rodrigues Sampaio, do meu conselho, par do reino, presidente do conselho de ministros, ministro e secretario d'estado dos negocios do reino. Amigo, eu El-rei vos envio muito saudar como quelle que amo. Tendo na mais elevada estima os reconhecidos merecimentos que concorrem na vossa pessoa, e que haveis manifestado no honroso e illustrado desempenho dos mais altos cargos do estado, e em differentes e importantes commisses de interesse publico; e querendo por estes respeitos e pelo subido apreo em que tenho os vossos distinctos e revelantes servios prestados dynastia, s instituies, causa publica e liberdade, conferir-vos um testemunho authentico da minha real considerao: hei por bem nomear vos commendador da antiga e muito nobre ordem da Torre e Espada, do valor, lealdade e merito, e elevar-vos conjunctamente dignidade de gran-cruz da mesma ordem. O que me pareceu participar-vos para vossa intelligencia e satisfao, e para que possaes desde j usar das respectivas insignias, vos mando esta carta. Escripta no pao de Cascaes em 28 de setembro de 1881.El Rei.Antonio Jos de Barros e S. Para Antonio Rodrigues Sampaio, do meu conselho, par do reino, presidente do conselho de ministros, ministro e secretario d'estado dos negocios do reino. J que El-Rei, teu Senhorcontra a sua Me cara, assim te premiou a ensanguentada offensa, eu, um Juiz tambemJuiz d'uma outra vara, contra ti, velho Reu, lavrei esta sentena: I Eis-me em frente de ti, velho urso na caverna Eis-me em frente de ti erguendo uma lanterna, lanterna que accendi na grande escurido sobre a plebe aoutada, erguendo a minha mo, lanterna que accendi n'esta ra ensanguentada, lanterna que accendi, como em sinistra estrada por causa dos ladres perdido viajante. Eis-me em frente de ti, eis-me de ti deante cheio d'odio, rancor, com asco, sem respeito, perguntando-te, VelhoOnde est o Direito? O que fizeste ao Povo, Consciencia, ao Brio? Onde est o Pudor, rude ancio sombrio? Quem s? Quem s? Quem s?... velho cheio de fel. Onde est Cain o teu irmo Abel? Quem s? Quem s?... gloria, nome hoje avitado? Tu foste a Alma do Povohoje s um renegado. [8] Eu sou a voz do humilde e d'esses maltrapilhos, d'esses rotos e nus a quem mandaes os filhos s palhas da enxovia em vez da luz da escla. Eu sou a voz de baixo, eu sou o mar que rolla toda uma orchestra d'ais, um mundo de lamentos maior que a voz de Deus, e a voz dos grandes ventos, Sou a voz que maldiz, o pranto que suspira. Trago na minha mo a lampada da Ira. Eu sou esse rebelde herege, extraordinario que chamo ao biltre um biltre, e a ti um latrinario, que prguei n'este tempo s turbas assombradas a Unio e o Direito, e fui pelas estradas como S. Paulo foi na noute de Damasco, armado do Rancor, cheio do grande asco contra os Escribas vos, os sordidos judeus, sem ver fender-se a terra, ou ver-se abrir os ceus. Ns hojeos infieisno cremos nos milagres. No me importa que tu, Velho, me consagres o epitheto brutal de herege ou de maldito. Eu sou o Pranto e o Odio! Eu sou o Ai e o Grito! Eu sou a voz da turba extranha e inominada que uma vez soluo, outras a gargalhada [9] que chamam povileu, a plebe envilecida, n'uma ra de sangue, uma ra fratricida riscada por um sol velho e sanguinolento. Eu sou o que Marat chamou o Soffrimento. Sou o que Ezechiel chamou Rebellio. Eu sou a voz do P, eu sou a voz do Cho. O que alguns chamam Zero, os outros chamam Charco. Ando a erguer uma Ponte, e a abrir um grande Arco. Em nome pois do Povo, o velho e antigo cedro, sangrento como a cruz, e a quem como S. Pedro tens renegado sempre, sordido traidor, em nome da sua ira, e em nome do suor que elle verte a chorar, na Terra, o cho antigo, que faz crar a rosa e rebentar o trigo, em nome dos seus mil cuspidos sacrificios do seu Calyx, da Cruz, da Esponja, dos supplicios, das suas mes sem po, seus filhos no abandono como um farrapo velho e como um co sem dono, em nome da Miseria, em nome da Innocencia de tudo que ha de humano e grita na Consciencia, em nome do Direito, em nome d'esta Penna, escuta a minha voz, a voz que te condemna [10] Tu foste n'outro tempo um homem justo, um crente, forte, obscuro, plebeu, filho da santa gente da plebe que trabalha, e com as mos possantes sabe arrancar da terra as eiras e os diamantes, d'essa raa animal dos grandes infelizes que so na sociedade assim como as raizes que em quanto esto no cho, na solido, no escuro, dando a seiva e o vigor ao tronco bem seguro, vivendo humildes sempre, obscuras, silenciosas esto as folhas no ar, altivas, gloriosas, olhando para o azul sereno das espheras, todas cheias de flor nas verdes primaveras, sendo a gloria da leiva, a sombra dos caminhos, tendo as benos do Sol e os canticos dos ninhos. Sim, tu foste um plebeuda raa antiga e rude, que trabalha no escuro assim como a Virtude. Sim, tu foste um plebeuraa obscura e sem luz, d'onde eu tambem sa, e d'onde vem Jesus. Mas tu velho sem f, mordeste-a como um co. Atraioas-te-a, sim, e riste como Cham se riu do velho Pae dormindo n'um caminho! S maldito como elle, e seja o teu espinho [11] o teu espinho eterno, o teu atroz tormento, ouvir-lhe sempre os ais e as maldies no vento!... Tu tinhas a teu lado outr'ora os homens fortes das Alas do Dever, todas as sas cohortes dos grandes coraes, ferreos, e verdadeiros, que trabalham na sombra assim como os mineiros, a lampada na mo augusta da Verdade, para arrancar do lodo o ouro da Liberdade. Tu tinhas a teu lado os coraes valentes dos heroicos plebeus, todos fortes e crentes todos filhos, como eu, da Plebe, nossa me!... Mas tu, Velho sem f, mas tu plebeu tambem, que ambicionavas j as pompas gloriosas, sentiste o asco e o horror d'aquellas mos callosas que trabalham por ns noutes, dias inteiros, na officina, no val, nas minas, nos outeiros, e quizeste antes ser hoje o leproso Reu, de que ser como eu sousimples, leal plebeu. Vergonha sobre ti que tanto te abaixaste!... Vergonha sobre ti, Velho, que profanaste a fronte d'ancio, a aurola sagrada que seria por ns mais do que idolatrada, teus louros de escriptor, teu gladio justiceiro, terrivel como Deus, teus louros d'homem puro para os lanar, Velho, ao charco d'um monturo! [12] Vergonha sobre ti e os teus cabellos brancos! Vergonha sobre ti que como os saltimbancos foste lanar teu nome ao vento d'uma feira! Vergonha sobre ti, que como uma rameira que vende os seios nus em sordida estalagem ao cobre do quartel e ao rir da marinhagem, em quanto a me talvez jaz sobre um catre morta, e o archanjo do Pudor geme e solua porta, foste vender a honra ao ouro d'um senhor. Vergonha em teus laureis, e sobre ti traidor que quizeste antes ser rico, ministro, e nobre, do que ser um ninguempuro, plebeu, e pobre. Vergonha sobre os vis apostatas da Idea que negam como Pedro o fez depois da ceia na noute de Sio, o Ceu e Deus trez vezes! Vergonha a quem entrega o Povo como as rezes, que levam a matar, balando, ao matadouro! Vergonha a quem trocar seu nome pelo ouro, sua aureola santa e seu braso de gloria por um titulo em vidae um pontap da Historia! Vergonha sob vs apostatas rafeiros que vendeis vosso deus pelos trinta dinheiros [13] por que Judas vendeu esse de Nazareth! Vergonha sobre vs, apostatas sem f messias sem pudor que andaes pelos caminhos prgando aos coraes, embebedando em vinhos de gloria e de ideal, e que depois ao Povo esse sublime Ancio de peito sempre novo, o rafeiro infeliz de todos os Tiberios, aoutado de Deus, dos reis e dos imperios, mas que sempre enxotado chuva, ao vento, em pranto, leva sempre o seu deus nas dobras do seu manto, esse banido Ancio de todas as naes a quem vs atiraes lucta e s sedies, mas que um dia deixaes na beira d'um caminho, como um cego sem guia, esqualido, sosinho, n'um nocturno temporal, a errar de porta em porta, voltando embalde aos ceus sua pupilla morta. Vergonha sobre vs, vendilhes do templo! Vergonha sobre ti, que eu marco, para exemplo de todos esses vis messias das viellas, mais vis do que ladres, mais vis do que as cadellas, que vo vender aos reis as suas convices!... Quiz pregal-os na cruz, roxeal-os com verges do meu chicote em fogo, irado, justiceiro para que ao vel-os ns, expostos no madeiro [14] da abjeco, do desdem, da vaia, da chacota ao escarneo, ao bofeto, ponta vil da bota saiba o Povo afinal que preciso escarrar no sacerdote infiel que vende o seu Altar. II Tu no sabes que gloria ser pamphletario! ser o vento rijo, o vento extraordinario que agita as multides como um canavial, contra um farrapo regio, a purpura real contra os Ritos, os Reis, Symbolos e Tradies. ser o que protesta, o que ergue os coraes n'um arranque de heroe, torre do Direito, dar qual pellicano, o sangue do seu peito Plebe sua me, como elle o d aos filhos. ser o que no s. no trocar os brilhos d'uma libr real, d'um servo, d'um lacaio, pelo seu Verbo um gladio, e pela Penna um raio. ser o que protestao que ergue uma lanterna na grande escurido, na escurido moderna, contra um rei, um Czar, altivo, omnipotente a favor do ninguem, da Plebe, do innocente. [16] ser elle ssinho o Verbo, o gladio, a penna, a espada que degolla e o grito que condemna. ser elle ssinho, altivo rebellado, o grito do mineiro e o espectro do enforcado que vem correr d'um leito o cortinado rgio. ter esse condo, o enorme privilegio d'erguendo as mos ao cu, como sagradas palmas, fazer gritar a espada e levantar as almas! ver-se s vezes s, pobre de terra em terra, na floresta, no val, nas rochas ou na serra, neve, chuva, aos soes, nas nvoas estrangeiras, nas selvas tropicaes, nas minas, nas geleiras pela neve polar, no exilio, nas ruinas, mas seja na priso, nos gelos, ou nas minas, mal soar o seu nomealevantar-se um peito e gritar:Elle que a Espada do Direito! Ser pamphletario ser um pharol na noute ser a pedra angular, Patibulo e Aoute. ter todo um vulco em lava no seu craneo, toda a Plebe agitar, do seu subterraneo, como agitou Marat,ou aguar a espada contra os reis, como fez Rousseau na agua furtada. estar sempre ssinho, altivo, no seu posto, quando muitos teem medo, e os mais voltam o rosto [17] ser chamado um herejee as pallidas mulheres quando veem surgir esses extranhos seres apertarem ao peito as timidas creanas. andar pobre, exhausto, humilde como as granas errante, s, banido, exhausto pela terra, mas quer seja na paz, ou quer seja na guerra, quer nos paos reaes, nas praas da Cidade a sua voz gritarAlas Honestidade! E ser emfim tremendo, austero, altivo, e bom, frio como a Lei, frio como Proudhon, chicotear sem d os lombos dos Heroes, vender como Marat, na fome, os seus lenoes, mas nunca se vender, mas nunca transigir! saber odiar, decapitar, punir e no se rebaixar nunca como um capaxo! ser a voz de ferro, ser a voz de baixo, que aterra a noute vil d'um seculo maldito. ser a voz da Plebe, ser o grande grito n'uma ra de luto, infame, ensanguentada em que a Musa do Amor quebra a Lyra dourada e morre como outr'ora amando o Raphael. E ter odio, ter ira, ter despreso e fel contra uma horda vil de infames sacripantas. levantar ao ceu livres espadas santas [18] todos os campees das Alas do Rancor. gritar, gritarEu sou o OdioAmor, O Odio que tem sde, a voz do que tem fome, a voz d'aquelle infeliz, a quem no do um nome que morre n'uma estrada, ou morre n'uma lucta sem benos e oraescomo uma prostituta. Sou a voz do ninguem, a voz do cannavial que solua, e no quebra ao rijo temporal, sou a voz do que chora, a voz do que suspira, o que ergue, alta, na mo a lampada da Ira, o que chamou a si os tristes, exilados sob as tendas de Cham, todos os desgraados que vagueiam na terra exhaustos e banidos, o que chamou a si todos os opprimidos todos que tinham sde assim como Ismael e tragavam na treva a sua cinsa e fel! Eu no sou como vs uma bexiga cheia de colera, de fel, de inveja que guerreia, e vem lanar rua a sua roupa suja! Eu no sou como vs um corvo, uma coruja que me nutra a cevar nos que se vo ao nada! Eu chamei junto a mim toda a alma amargurada, tudo que fraco, cho, vergado de trabalho, tudo que empunha a enxada ou que maneja o malho, tudo que andam vendendo ha muito com as rezes, que vivem na abjeco e so chamados fezes [19] que chamam povileu, que chamam a gentalha, e gritei-lhesvante! hora da batalha! Ora este hereje pois, ora este pamphletario, que assim sabe escarrar no biltre e no sicario, este homem do Dever, este homem do Direito, que em vez d'uma gr cruz, traz seu Odio no peito, que em quanto toda a escoria, em toda a redondeza dobra e curva o joelho aos thronos e Realeza, que em quanto tudo quer ser despota e opulento elle escolheu ser pobre, o exilio, o isolamento, que em quanto tudo pensa em Luxo ou nos ruidos, quiz ser a voz de ferro, a voz dos opprimidos, que em quanto tudo adula e lisonjeia o Forte, elle defende o fraco, e expe o peito Sorte, quando uns curvam-se ao Tudo, elle defende o Nada, faz do Direito aoute, e faz da penna espada, e diz a um rei, um Czar, um dspota potente Senhor, vs sois o cedro olympico, inclemente o vendaval da Terra, a sombra dos Tiberios, o furaco da Plebe, o aoute dos imperios, terror dos generaes, dos reis, dos condestaveis. Eu sou como Jesus chefe dos miseraveis!... [20] Depois erguendo ao ceu a sua Penna eterna: Vs tendes o knuteu tenho esta lanterna. Este homem inda que pobre, inda que perseguido, roto, obscuro, plebeu, humilde, mal vestido, inda que triste e s no seu isolamento, ao p do grande Czar, n'este cruel momento, inda que pobre e vil, inda que maltrapilho tanto como um Deus, e mais do que um seu Filho. Assim foste tambem, Velho solitario! Assim foste tambem grande pamphletario que soubeste elevar a eterna Alma do Povo! Assim foste tambem quando eras puro e novo e sabias levar guerra os coraes, quando eras um aoute e o deus das multides que vinham em tropel beijar os teus joelhos! Mas hoje tu o que sescoria d'entre os velhos refugo de traidor, renegado hostil! Mas hoje tu o que s, lixo impuro e vil! alma atirada ao estrume, alma aviltada e fraca!... s o que se vendeu!Tu s uma cloaca. III seculo de ferro! gerao escrava! que ouves Satan ladrar na noute do Evangelho, no teu sollo do Mal, sobre teu sollo em lava, cae a agua do ceu como n'um poo velho! Sim a agua do ceu que faz viver a flr mal que no poo cae transforma-se na lama! seculo de ferro, seculo de horror, que fazes tu da Voz, que em teu deserto clama? Que fazes tu da Voz que ouo passar nos ventos, prgando a Negao, n'um funebre arrepio, que ouo clamar na noute em uivos e em lamentos como um ladrar feroz de ruivo co sombrio? Que fazes tu da Voz dos teus prophetas santos que do prantos de sangue s tuas vexaes, e do carro de fogo arrojam os seus mantos que arrastam Revolta o mar das multides? [22] Que fazes tu? Tu ris! Tu vaes como a rameira vender teu deus, teu ceu, tua honra ao lupanar. A Justia tornou-se em velha alcoviteira. A Egreja ri na orgia, e Christo deixa o Altar! O Desespero cr esparge o seu veneno na taa d'ouro e onyx das jovens illuses. O Odio faz ouvir o seu terrivel threno. O Mal com a tenaz aperta os coraes! A virginal Poesia, a virgem d'alvas vestes ergue aos ceus suas mos, brancas como o alabastro. Traz a Lyra na mo vestida de cyprestes. Seu santo corao flameja como um astro! S ella faz ouvir n'um seculo corrupto sua Lyra de bronze ao temporal da Sorte! S ella faz ouvir seu alade em luto que d notas crueis de Maldio e Morte. s ella que empunha o seu chicote em fogo como o aoute de ferro indomito de Deus, para aoutar os reis, o falso demagogo, os biltres charlates dos reis e dos plebeus. s ella que faz na noute secular, na sua Lyra ouvirno canticos d'amor mas as notas fataes que entornam o luar da Ira, do Desdem, do Odio e do Rancor. Achegae-vos a mim, tristes, terriveis Lyras, que j tendes chorado e que sabeis rugir. [23] Quero em cordas de bronze os canticos das iras! preciso aoutar, decapitar, punir!... Deixae agora o Amor e as brizas da bonana! Minae-me o Despotismo esse colosso rhodio! Pela noute vibrae as notas da Vingana. Sobre a Lyra cantae os canticos do Odio. poetas do Amor deixae vossos idyllios, os atalhos do bosque e a lua da floresta! Deixae a musa fresca e simples dos Virgilios, n'uma ra de sangue inhospita e funesta! Deixae de nos cantar o Tedio e o Desengano, as nuvens da montanha e os sinceiraes do val! porque o mundo talvez espera o seu Tyranno. A Terra vae parir algum Christo do mal. Deixae de nos cantar as nuvens da bonana, e a flor dos laranjaes que o vento faz bulir, por que em breve j vem a hora da matana em que a Espada tem voz, e as torres vo cair. Eu tambem vos cantei, cantos langorosos, nuvens da manh, flor da romanzeira, torrentes do val, beijos amorosos da Mulher que se amou n'uma viso primeira! Tambem j te cantei, estrella do pastor, danas sobre a eira, lua das mars. [24] Mas hoje a minha voz rouca como a Dr, terrivel como a Espada e o tribunal dos Dez. Abandonei-te Amor! Meu rir fez-se tregeito. Meu pranto fez-se fel, a voz tornou-se berro. Foragido dos reis, armado do Direito fao vibrar na Lyra os canticos de ferro. IV Pobre mulher sem po, quando de porta em porta tendo batido em vo foste do lupanar, e ali deixaste a honra e a virgindade morta, como noiva infeliz que levam a enterrar! quando foste bater, chagado corao s portas soluando, e que ninguem te abriu, e o leito do bordel quaes taboas d'um caixo te sepultou em vida, e teu calor cingiu! quando tendo sonhado um sonho aureo e esplendente, illuses d'uma infanta e os sonhos d'um donzel, viste tudo findar na enxerga repellente do teu leito de infamiao catre do bordel! Quando tendo elevado ao ceu teus magros braos, como outr'ora Jesus o fez nas Oliveiras, s achaste o silencio e o echo dos teus passos, o riso da cazerna e a noute das rameiras! [26] quando loura mulher no bero excommungada por um Destino ferreo, inhospito, infeliz, por tua propria Me talvez abandonada, pobre flor que ho lanado ao pantano a raiz! Quando foste forada s bachanaes rasteiras, e a despir e a manchar as brancas vestes tuas, e a deixar teu amor na lama das regueiras, como os sedentos ces que vo beber nas ruas! Quando filha do Povo, pobre filha impura, que uma me no beijou, que um Pae no protegeu, achaste a Fome vil, velha de boca escura, n'uma rua infernal, por um chuvoso ceu! quando dahlia da Dr, planta dos atoleiros, pobre filha do Povo, exhausta, quasi exangue, tu vaes servir de gaudio noute dos banqueiros, sentindo dentro em ti as lagrimas de sangue! quando selvagem flor, poa do abandono, sem lagrimas de Me, sem osculos de irmo, a Fome te obrigou qual magro co sem dono a buscar na valleta o teu immundo po! Dize sabias j, rainha da enxurrada, ave que no tens ninho e que empurrou a Fome que ha entes como turaa vil, condemnada, que vendem seu pudor, que vendem o seu nome? Dize sabias j, loura infeliz sem po que um seductor manchou, ou que uma Me vendeu, [27] que ha quem venda a sua honra, a gloria, o seu braso, sem terem como tu os chascos e o labeu? Dize sabias j que em quanto vaes na praa entre um circulo vil de chascos quaes facadas, elles vo affrontando a multido que passa, em gloriosos trens de portas brasonadas? Dize sabias j, branca meretriz, que aos homens como ces cedes teu corpo n, que ha torpes malandrins, gloria do seu paiz, mais vis do que os ladres, mais rameiras que tu? Tu no sabes talvez, lama apedrejada, por toda a rua hostil, por toda a rua sria, a distancia que vae dos outros ao teu nada. tres vezes cruel! tres vezes vil Miseria! Porm eu um rebelde s Praxes como espadas, entre a mulher sem po e os pifios cannibaes, prostitutas vis! cadellas aoutadas! rameiras da rua!eu vos respeito mais. V Velho, escuta, esta voz.Eu no sei perdoar: frio como um Destino eu heide-te aoutar at te ver em sangue os lombos aviltados! No estrume arrastarei teus louros profanados, que jazero no esterco infame das viellas, onde vagam lua os brios e as cadellas. Marcarei para exemplo, ao mundo o renegado que depois de haver rido, haver calumniado uma Esposa, uma Me, um Lar, uma rainha, no que ella de mais puro e mais sagrado tinha! n'isso que doe cruel, que mais o peito enluta, depois de lhe chamar a grande prostituta nada achou mais abjecto, e nada achou mais baixo que ser do filho-rei o humillimo capaxo, nada achou mais servil, para apagar a offensa, do que vender a penna e perseguir a Imprensa! [30] Lodo do Homem vil, barro da Paixo, abysmo d'uma alma, rei da Creao, foi Satan que te pz o diadema escuro! Pode-se assim sem d zombar do seu Futuro, macular para sempre a virginal gloria, cuspir, manchar, polluir as paginas da Historia, e envergonhar a campa humilde dos plebeus que foram os seus paese a pobre me nos ceus, matar os louros seusaviltao eterna! como um ebrio que morre em cho d'uma taberna? s tu que fazes isto, Alma, Alma etherea? Acaso s to medonha funebre Miseria, acaso s to infame, magra Messalina, que obrigas uma alma, essa poro divina, essa faisca eterna, eterna claridade, a assassinar sem d a branca virgindade do seu passado santo e virgem corao, e arremessal-o ao mar no fundo d'um caixo? Acaso ouro s tutu que nos fazes nobre? to terrvel serpuro, plebeu, e pobre, to torpe, to vil, ser simples mas honrado, que quer o ouro infernal, que quer o ferreo fado, que em certo dia vildia vil entre os dias, se atire uma risada s santas utopias [31] s crenas virginaes da loura Mocidade aureola ideal d'aquella santa edade, e vendam-se os laureis e o Verbo que era o raio, pela libr d'um servo e a farda de um lacaio? No! No tem remisso este teu crime, Velho! J que tu foste exemplo, e outrora foste espelho, o teu crime mais vil, funesto, escandaloso! Se tu ficas impune, um dia ou outro, um gozo, faminto como tu, ir lamber o manto do Symbolo Real, todo orvalhado em pranto, e de rastos, no cho, beijar o p do throno. Por isso vou marcar-te infame co sem dono, e fundir-te com chumbo ao corpo essa colleira. Vaes ouvir a Justiaa augusta, a verdadeira, a terrivel, a eterna, a antiga, a sempre forte, a que ouve e que v n'Alma, a que condemna morte, com seu dedo de luz no livro do Futuro, a que arroja gehenna eterna do monturo, e que com ferro em braza escreve os tristes fins dos juizes Caiphs, dos pifios Severins, e d'outros a quem heide em breve tomar contas! Vaes ouvir a que pune as lividas affrontas, a que gela no labio as phrases comeadas, que ha de julgar Thiers de cs ensanguentadas, pelas suas crueis, fataes carnificinas, a que condemna os reis e as tropas assassinas, [32] a que forma e dirige a Alma Universal. Entra sinistro reu! Abriu-se o tribunal. A Plebe (levantando os braos, clamando) Eis aqui, Justia, minha Me austera, tua filha infeliz, que traz preza esta fera, este sinistro Reu que vs acorrentado! Elle, o vil me trahiu, elle o scelerado que de mim motejou, como Cham riu do Pai! Elle era o meu bordo, qualquer soluo ou ai que abalasse o meu peito, o peito d'esta escrava, vinha bater no seu. O monstro no ladrava como hoje ladra hostil aos meus cabellos brancos! Eil o! elle aqui est!o rei dos saltimbancos! A Justia Cala um pouco essa dr. A Plebe grande e rude deve ser tambem forte assim como a Virtude. Nem sempre pena e dr o pranto fica bem! A Plebe Deixae me soluar. Eu sou a sua Me. [33]A Justia (surpreza) Elle teu filho, Plebe?... Oh deve ser suprema a injuria que te fez, ou o crime que o algema! De certo foi bem funda extraordinaria a offensa bem terrivel, cruel, ensanguentada, intensa, bem fundo e horrendo o golpe, infame, excepcional pois que cita uma Me seu filho ao tribunal! A Plebe Bem grande sim que foi! Escuta a minha pena. Ouve primeiro, Me! Depois julga e condemna. Eu sou ha muito a eterna, a grande foragida que vou de val em val, de mar em mar, varrida como a Judea antiga, a escrava, pela noute, chorando por seu Deus, sob o romano aoute. Meus filhos tambem vo chorando pela estrada. s vezes diz-me um minha Me amada! J temos caminhado em vo de serra em serra. Temos os ps em sangue! guerra, Me, guerra! No temos vinho e po! No temos o sustento! Negam-te em toda a parte o abrigo e o acolhimento! No temos luz e lar. No temos nem vestidos! No temos ar nem sol! Vem aos montes subidos [34] olhar como o sol brilha em rtila grandeza! Deus tambem para ns formou a Natureza. No s para um rei, um grande, uma rainha que a espiga d seu po e pampanos a vinha! Eu j sou forte, Me, eu tenho as mos grosseiras de pegar n'uma enxada e de malhar nas eiras, eu quero transformar a minha enxada em lana, e tornar teu naufragio, Me, n'uma bonana! s vezes este filho energico, revel, um trigueiro aldeo, chama-se Guilherme Tell, outras com seu olhar veste os simples e os nus plebeu e poeta e chama-se Jesus. Outras um aoute, um vento rijo e austero, um monge brutal e chama-se Luthero. Mas s vezes tambem, lastima vehemente! falla-me assim, Me, a bocca da serpente d'um filho que eu creei aos peitos vigorosos, com o sangue de heroes de louros victoriosos! Falla-me em nome, sim, da Colera e da Ira a bocca da Traio, a bocca da Mentira, apontando-me alm teu sceptro de brilhantes. Eu levanto-me ento assim como os gigantes, a espada dos heroes empunho sem demora, e canada d'andar qual velho boi na nora da Miseria, da Dor, da Fome, da Abjeco, prgo a santa Revolta santa Multido! [35] Mas ento o servil, o immundo renegado, vende-se a quem me tem o peito ensanguentado no lodo da abjeco, no p do aviltamento! Fico ento outra vez no meu isolamento, na minha escurido chorosa, amarga, e sria, outra vez a puxar na nora da Miseria, outra vez a roer o po amargo e escuro, pela fresta espreitando o dia do Futuro. Foi assim que este fez, o indigno sacripanta. Foi assim que cuspiu na minha fronte santa. Foi assim que escarrou nos meus cabellos brancos. Foi assim que o villo, chefe dos saltimbancos, expulsou sua Me ao vento da Desgraa. Foi assim que vendeu a sua Me na praa expulsando-a de casa, em desabrida noute sob a chuva do ceu, sob a ironia, e o aoute. Tudo isto o ingrato fez pela servil Cobia. Justia contra o vil!Justia, Me, Justia! A Justia Miseria, infamia, e dr! mundanal feitura, barro do homem vil, indigna creatura [36] pde-se acaso assim cuspir em sua Me! Pde acaso a Cobia allucinar alguem por um pouco de Luxo, um pouco de poeira, que transforme uma alma ingenua, verdadeira, um virgem corao, qual pagem branco e louro que sonha no Ideal em finas torres d'ouro, a abandonar assim as illuses de gloria, sua aurola santa, o seu brazo na Historia, todo o seu Verbo em fogo, assombro da Cidade, todas as convices da loura Mocidade, para atirar tudo isto aos ps da sombra apenas d'um symbolo real eivado de gangrenas, e depois sem Amor, sem nada que conforta, a sua velha Me lanar fra da porta! Alguem acaso viu o crime infame, enorme? A Consciencia Humana Alguem viu, alguem viu! Alguem que nunca dorme, alguem que sonda o mar e os fundos coraes as insomnias dos reis e os somnos dos lees! Eu o vi, eu o vi, o grande scelerado toda a noute escrever, d'olhar allucinado, pamphletos crueis na sordida trapeira. Eu o ouvi, eu o ouvi chamar uma rameira [37] e rainha assassina tragica reinante. Eu o vi, d'olho acceso, indomito, espumante, prgar a sedio, direitos, regalias, e erguer a Plebe-Me s santas utopias que fazem levantar na praa os estandartes! Eu o vi, eu o vi, queimar os baluartes do Respeito Real, e as ultimas trincheiras, agachado na treva assim como as toupeiras, a minar, a minar, as monarchias vas! Depois tambem o vi sobre os reaes divans, reclinando-se j com um praser secreto, contemplando os flores dourados pelo tecto, com um olhar d'abbade ou satyro contente, exclamar: Isto bom!... Sente-se bem a gente n'estes almofadins, entre estes reposteiros! Gsto d'estes flores, gsto d'estes archeiros, que fazem reluzir as suas alabardas! Afinal os plebeus precisam d'albardas. Que querem elles mais? Comer das ucharias, beber como uns toneis, vir s estrebarias, e algum dia puxar pelas reaes carroas?... Eu nunca fui plebeu! Eu sempre tive as bssas do mando, do poder, do luxo, da opulencia! Gsto de ouvir dizerSaiba Vossa Excellencia que o espera mesa j El-Rei, Nosso Senhor! Eu levanto-me ento. Como e bebo melhor [38] que todo um refeitorio inteiro de bernardos. No sou como os plebeus que at devoram cardos, negro caldo espartano e sordidas raizes! Como melhor que os reis, mais que as imperatrizes! Amo o Porto, o Xerez, e os tpidos manjares da ucharia dos reis que incensam bem os ares, e dilatam-me o ventre ainda mais que a Gloria! A Gloria nome vo! Um fumo s na Historia! Da gloria no se vive. A Gloria s chimera. El-Rei Ventre que manda. O ventre no espera. Por isso eu tenho um ventre assim como um abbade! Eu amo a flor da Carne e a loura mocidade, as faces de setim das bellas camareiras! Eu amo estes divans, eu amo estas roseiras entre plantas ideaes, extranhas, fabulosas, que me fazem sonhar noutes voluptuosas como um luar d'amor entre jasmins do Cabo. Ah! como ha de ser bom morrer como um nababo, apertando entre as mos as frmas femininas, rosadas, juvenis, pallidas, alabastrinas, d'uma mulher ideal que nos concede tudo, semi na, a sorrir, n'um leito de velludo!... Eu o ouvi, eu o ouvi, fria Justia austera! Aqui tens, ante ti, a encanecida fera, [39] que tanta vez ladrou contra os brases reaes! Aqui tens, Justia, a escoria dos seus Paes, a bocca da Traio, a bocca da Mentira, a penna tinta em fel que semeou a Ira, o Despreso, a Revolta, a Colera, o Desdem! Aqui tens quem cuspiu na Plebe sua Me. A Justia Ha alguem que defenda o livido accusado? Ha alguem que erga um brao, um brao immaculado, que no se tenha nunca achado em morticinios, um brao recto e bom, puro dos assassinios, derramados no cho dos campos inda quentes, que no tenha contra elle a voz dos innocentes, nem erga contra si a voz dos opprimidos, ha alguem que erga um brao ao ceu dos perseguidos, cheio de convico ao meu terrivel ceu? Ha alguem que erga um brao, um brao a pr do Reu? A Ordem (erguendo o brao) Suspende-te, Justia! Eu ergo a ti meu brao! Este reu que aqui vs no um vil devasso, [40] um baixo salteador d'estradas e caminhos! Eu vou provar que elle mais puro que os arminhos. Vou demonstrar que elle mais santo que as estrellas, mais alvo e virginal que as onze mil donzellas! Provarei, Justia, at saciedade, que este reu at tem cheiro de santidade! A Plebe s ......Buy Now (To Read More)

Product details

Ebook Number: 28354
Author: Leal, António Duarte Gomes
Release Date: Mar 18, 2009
Format: eBook
Language: Portuguese

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