O thesouro do rei Fernando

O thesouro do rei Fernando

O thesouro do rei Fernando - historia anecdotica de um tratado inedito Title: O thesouro do rei...
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O thesouro do rei Fernando - historia anecdotica de um tratado inedito

Title: O thesouro do rei Fernando Subtitle: historia anecdotica de um tratado inedito Author: Luciano Cordeiro Release Date: August 26, 2009 [EBook #29804] Language: Portuguese Credits: Produced by Rita Farinha and the Online Distributed Proofreading Team at https://www.pgdp.net (This file was produced from images generously made available by National Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal).) Nota de editor: Devido existncia de erros tipogrficos neste texto, foram tomadas vrias decises quanto verso final. Em caso de dvida, a grafia foi mantida de acordo com o original. No final deste livro encontrar a lista de erros corrigidos. Rita Farinha (Ago. 2009) VESPERAS DO CENTENARIO DA INDIA I O THESOURO DO REI FERNANDO HISTORIA ANECDOTICA DE UM TRATADO INEDITO 1369-1378 POR LUCIANO CORDEIRO COMMUNICAO SOCIEDADE DE GEOGRAPHIA, DE UM DOCUMENTO DESCOBERTO EM ANGERS POR M. CHARLES URSEAU ...esteve perto De destruir-se o Reino totalmente, Que um fraco Rei faz fraca a forte gente. Cam., Lus., c. III. LISBOA IMPRENSA NACIONAL 1895 O THESOURO DO REI FERNANDO VESPERAS DO CENTENARIO DA INDIA I O THESOURO DO REI FERNANDO HISTORIA ANECDOTICA DE UM TRATADO INEDITO 1369-1378 POR LUCIANO CORDEIRO COMMUNICAO SOCIEDADE DE GEOGRAPHIA, DE UM DOCUMENTO DESCOBERTO EM ANGERS POR M. CHARLES URSEAU ...esteve perto De destruir-se o Reino totalmente, Que um fraco Rei faz fraca a forte gente. Cam., Lus., c. III. LISBOA IMPRENSA NACIONAL 1895 A Ernesto de Vasconcellos e Jeronymo da Camara Manuel Preparando um trabalho de investigao e de historia local, o sr. Carlos Urseau, secretario do Bispo de Angers, monsenhor Freppel, e escriptor excellentemente conhecido por notaveis estudos sobre o Anjou, descobriu um documento que, de accordo com alguns dos mais doutos membros da Academia de Inscripes de Pars, considerou como de particular importancia para a historia da marinha portugueza. N'esta ida, e porque no podia, desde logo, utilisar esse documento para a sua obra, o intelligente investigador lembrou-se de pr directamente disposio do nosso paiz uma copia do interessante diploma. Em regra, os governos no se importam com estas cousas, e os nossos esto muito longe de fazer excepo regra. Tendo conhecimento da descoberta do sr. Urseau e prevendo o valor que ella poderia ter em relao a um episodio apenas vagamente alludido pelos historiadores nacionaes, e do qual j o velho Ferno Lopes notra a escassa tradio escripta[1], escrevi ao douto abbade francez, que immediata e graciosamente me enviou uma bella copia do documento, auctorisando-me a estudal-o e reproduzil-o. Poucas palavras bastam para o explicar e esclarecer, mas so indispensaveis essas palavras. Digmos, desde j, que documento este. uma escriptura de ratificao e confirmao plena, feita na cidade da Guarda, em 14 de agosto de 1377 (Era 1415), de um tratado pactuado e jurado em Bictre,--vulgariter dicto Vicestre,--no pao do Duque de Anjou, a 29 de junho d'aquelle anno, entre o Rei de Portugal, Dom Fernando I e o Duque, Luiz,--irmo do Rei de Frana, Carlos V e segundo filho do Rei Joo o Bom,--para juntos moverem uma guerra de extermino, por mar e por terra, ao Rei de Arago, Dom Pedro o do Punhal,--En Pere del Punyalet--, ou, como mais conhecido, Dom Pedro IV o Ceremonioso. Do lado da Frana ou da casa de Anjou:--a velha e sangrenta questo da expanso e da influencia Mediterranea, que hoje, ainda, sentimos palpitar sob a interessante comedia da politica europa. fora de perfidia e de intrepidez, Pedro IV apoderra-se do reino de Maiorca e dos dominios do Rossilho, da Ceritania, da Sardanha, etc. uma longa e tragica historia. O Duque reivindicava,--e logo diremos porque,--a herana do reino Balear. Da parte de Portugal:--e esta parte a que mais nos interessa,--um gracioso episodio, apenas, uma simples anecdota do brio despeitado e impetuoso do Rei Dom Fernando, mas episodio e anecdota que irrecusavelmente pertence intriga, sempre viva, tambem, das preoccupaes e dos interesses da politica Peninsular. Seguramente, a Escriptura foi enviada ao Duque de Anjou, attestando a ratificao e confirmao pessoal e directa do Rei portuguez, e assim se explica logo o encontro do documento, em Angers. Lavrou-o o tabellio publico Alvaro Estevo, clerigo da S da Guarda, no pao episcopal d'aquella cidade, estando presentes o Rei Dom Fernando; o irmo, Infante Dom Joo, certamente o que mezes depois havia de matar a mulher, a pobre Dona Maria Telles de Menezes;--o Conde de Arrayolos, Dom Alvaro Pedro; o Conde de Neiva, Dom Gonalo Tello; Ferno Affonso de Albuquerque, e outros fidalgos e cavalleiros; em summa, a Curia, o Conselho, a Crte que a Rainha Dona Leonor Telles formra, com a sua numerosa parentella e com os seus interesseiros partidarios, em volta do enamorado monarcha. Serviam nomeadamente de testemunhas: Gonalo Vaz de Azevedo; Martim Affonso de Mello; Affonso Gomes da Silva, Senhor de Celorico; Vasco Martins de Mello, Guarda Mr do Reino e Fronteiro do Algarve; Vasco Fernandes Coutinho, Fronteiro da Beira; Doutor Gonalo Gomes da Silva, Vedor, e Affonso Pedro, Tabellio Real, nomes que vieram fazendo maior ou menor ruido at ns, pela Geneologia, uns, pela Historia, quasi todos. Por signal que da Geneologia quiz expulsar alguns a austeridade patriotica de Damio de Goes:--porque se deitaram em Castella em tempo de El-Rei Dom Joo o Primeiro[2]. Assim: Martim Affonso de Mello, se o filho, o poderoso Rico-Homem, Senhor de Cea, Gouveia e Linhares,--foi o primeiro que foi para El-Rei de Castella quando entrou em Portugal pela cidade da Guarda. Resgata-lhe a traio e a dos filhos, o irmo, um dos signatarios tambem: Vasco Martins de Mello, o que fez depois--o bom feito--de no assassinar o futuro Dom Joo I,--por indusimento--da Rainha e do amante d'ella, Dom Joo Fernandes Andeiro. Apresentou o Conselheiro privado, Joo Gonalves, os Capitulos que constituiam a Conveno negociada e jurada em Frana pelos diplomatas portuguezes que l tinham ido: Loureno Joo Fogaa, Vice-Chanceller; o proprio apresentante, e o Archidiacono da S de Lisboa, Pedro Cavalerio, que faz naturalmente lembrar o patronyimico beiro, alis moderno, de Cavalheiro, hoje bem conhecido, mas que devia ser, antes, um d'aquelles cavalarios,--cabalarii: milites vilani,--ou cavalleiros viles que conseguiam, s vezes, medir-se e concorrer com os mais aristocraticos e authenticos milites. De Cavalleiros, se formou at um titulo ou appellido nobiliarchico, para os lados de Montemr o Velho[3]. Quer dizer: o cavalleiro villo fez-se cavalleiro fidalgo. Cabe aqui uma observao. Ferno Lopes, fallando d'esta embaixada, fal-a composta, apenas, de Loureno Annes Fogaa,--Chanceller Mr,--e do Secretario Real, Joo Gonalves. O Annes comprehende-se que se transformasse em Joo (Johannes) no texto, ou que parecesse tal na leitura e na copia. , porm, mais reparavel a differena do cargo, e em todo o caso o Chronista esqueceu Pedro Cavalleiro. Incluem-se, integralmente, na Escriptura esses Capitulos que haviam j sido reduzidos a outra, em Frana, pelos Tabellies e Clerigos Estevo Borneti e Joo Orrio de Angers, na presena, igualmente, do Duque Luiz de Anjou; dos Bispos e Conselheiros do Rei de Frana, Armerico, Milone e Loureno; de Hugo, Abbade de So Guilherme do Deserto; do Archidiacono Regnault de Dorman; de Pedro Statisse, Cavalleiro, e do Doutor Raymundo Bernardo Flamech, Conselheiro Ducal. Na mesma Escriptura se transcreve ainda a Procurao ou Carta de Crena do Rei Portuguez e a ratificao pessoal do Duque. Em seguida ao curioso signal publico do Tabellio apparece tambem a ratificao, de proprio punho, do Rei Dom Fernando. D'esta summaria indicao se deduz j, irresistivelmente, o valor notavel do desconhecido documento. como que a reconstruco de um Capitulo da bella Chronica de Dom Fernando, por Ferno Lopes, confirmando, mais uma vez, a veracidade do historiador, mas ampliando as suas investigaes e noticias; supprindo e preenchendo as deficiencias, as hesitaes, as lacunas da breve narrativa d'elle. Um facto explica a participao portugueza n'este extraordinario Tratado, mas esse facto que no explicado n'elle. , pois, indispensavel fazel-o. I Offerece o desorientado e desastroso reinado de Dom Fernando uma lio critica de primeira importancia:--a de mostrar, irrecusavelmente, como na segunda metade do seculo XIV se achava j fortemente constituida a Monarchia Portugueza n'esta sua perfeita e singular identificao com a Independencia Nacional, que tem sido a fora e tem de ser hoje ou no futuro, ainda, a raso melhor, a salvao unica d'essa Monarchia. N'uma ridicula obsesso de propaganda politica costumam alguns escriptores hespanhoes insinuar, com a maior seriedade do mundo, que a formao e a separao de Portugal, como individualidade historica independente, da moderna Hespanha, no foi e no tem sido mais do que o resultado artificioso da politica e dos interesses realengos e dynasticos. Como certo sectarismo superficial e nescio que suppe a Religio uma inveno de padres, os propagandistas ibericos, na mais petulante ignorancia da Historia ou na mais atrevida viciao d'ella, simulam crer que os systemas politicos so simples creaes arbitrarias e que os interesses dos Reis ou das Faces que tem realmente presidido, at hoje, formao e aos destinos dos Estados e das Naes. Invertidos, porm, os termos, aquelle colossal disparate poderia obter certos fros de acceitavel lio, pois que ao contrario, exactamente, tem sido quasi sempre os interesses e as preoccupaes dos Politicos, das Faces e das Familias que tem ensaiado, e que ainda diligenceiam e doutrinam, o artificio de uma fuso ou de uma unidade Peninsular. Se essa tem sido e , fatalmente, a illuso e a ambio da Politica Hespanhola, mais de um cerebro de Rei Portuguez, tambem, parece ter sido atravessado pelo mesmo inconsistente sonho, sempre, e mais ou menos desastrosamente mallogrado e desfeito de encontro s leis implacaveis da Natureza e da Historia que formam, constituem e garantem as individualidades nacionaes. Fechando tristemente a primeira Dynastia com a pretenso Cora [14] de Castella e com o compromisso de uma Successo estrangeira,--compromisso que era uma verdadeira traio obra persistente e gloriosa d'essa Dynastia,--Dom Fernando I, com todas as loucuras e desastres da sua politica, no pde j dissolver e afundar a Nacionalidade Portugueza no vortice de intrigas, de perfidias e de violencias em que tinham de ir desapparecendo, successivamente, as outras naes da Peninsula. Ha em Ferno Lopes um capitulo extremamente instructivo e luminoso. aquelle em que o grande Chronista, que viu alvorecer o seculo XV, narra as complicadas negociaes e os significativos commentarios do casamento da filha de Dom Fernando e de Dona Leonor Telles, a Infanta Dona Beatriz,--herdeira da Cora Portugueza,--com o Rei de Castella, Dom Joo, no mesmo anno em que Dom Fernando morreu. Mal o Rei de Castella enviuvra pela morte da Princeza Aragoneza. com quem, exactamente, chegra a desposar-se Dom Fernando, Leonor Telles e a sua camarilha levaram o Rei Portuguez a mandar propor ao Castelhano que lhe recebesse a filha por mulher, e um dos mais seductores argumentos empregados pelo embaixador:--Joo Fernandes Andeiro, Conde de Ourem, o amante da propria Rainha,--foi o de que por tal casamento o Rei de Castella sel-o-a tambem de Portugal e facilmente se apoderaria d'este. A sinistra adultera atraioava a Patria, como trara os dois maridos. claro que o Hespanhol no se fez rogar[4]. Mas porque a traio era arriscada, e convinha guardar um pouco as conveniencias; porventura, tambem, por illudir quaesquer escrupulos de consciencia do pobre Dom Fernando, estabeleceram-se certas reservas e precaues, uma das quaes seria a de que havendo filho ou filha d'aquelle consorcio, a elle ou a ella fosse devolvida a Cora de Portugal para que a continuasse independente e soberana. Por isso--diziam alguns fidalgos de Castella, joguetando, que antes saberiam capar El-Rei seu Senhor por nunca haver filho nem filha, e ajuntar o Reino de Portugal ao de Castella, e ser Rei d'elle, [15] que haver filho ou filha que d'elle fosse Senhor e ficar Reino sobre si[5]. Joguetariam,--assim tambem, alguns Politicos e Estadistas do nosso tempo!... Tudo isto, porm, se passou muito depois da epocha a que o nosso documento pertence, e no , certamente, esta eloquente lio,--por demais repetida,--que agora nos importa commentar. apenas um obscuro episodio da leviana politica de Dom Fernando que desejmos esclarecer e definir rapidamente como necessaria introduco ao interessante diploma encontrado pelo sr. Carlos Urseau. Nos primeiros mezes de 1367, Dom Fernando, o novo Rei Portuguez, recebia, quasi simultaneamente, em Alcanhes, proximo de Santarem, duas embaixadas estrangeiras, e com ellas firmava dois tratados de paz e alliana, inspirados em interesses e em politicas j soffrivelmente contrarias:--um com o Rei de Arago, Dom Pedro IV, o Ceremonioso, o outro com o pretendente triumphante da Cora de Castella, Dom Henrique de Trastamara ou Dom Henrique II, o Bastardo. Como, porm, n'esse anno ainda, o irmo do Bastardo, o foragido Rei Castelhano, Dom Pedro o Cruel, reentrasse em Castella, e de Sevilha enviasse uma embaixada a Portugal, com elle firmava Dom Fernando, em Coimbra, uma alliana contraria que acabava de jurar com Dom Henrique. Havia, porventura, uma certa habilidade, um certo fundo de boa e tradicional politica, n'esta volubilidade escandalosa, posto que muito vulgar no tempo. Apesar de toda a sua feliz intrepidez e do auxilio precario dos inglezes, aquelle doido sanguinario que o pae de Dom Fernando, o nosso Dom Pedro I, no quizera acolher e auxiliar contra o Trastamara, no podia j inspirar-nos grandes receios. Estaria perdido se, tendo de combater desesperadamente o Pretendente e o Arago, de um lado, sentindo em volta crescer, ameaadoras, as ondas de sangue que derramava, no podesse contar com a neutralidade portugueza, do outro lado. O que nos convinha, porm, era evidentemente que os lobos que disputavam a Cora da Monarchia Central a enfraquecessem e esphacelassem n'essa feroz contenda, indo-nos, ns, consolidando e fortalecendo, tranquillamente. [16] Mas dois annos depois, assassinado Dom Pedro o Cruel pelo bastardo irmo, em Montiel, Dom Fernando lembra-se do seu velho parentesco com a Casa de Castella; acceita bruscamente a candidatura d'essa Cora; faz um tratado com o Rei mouro de Granada contra Dom Henrique; invade a Galliza, e negoceia com o Rei de Arago uma alliana offensiva, mandando pedir-lhe em casamento uma filha, a Infanta Dona Leonor. Posto que distanciados ainda, chronologicamente, do nosso documento, ver-se-ha que entrmos j na sua historia. Ao mesmo tempo que em pessoa invadia e insurreccionava, ao norte, as terras castelhanas[6], Dom Fernando expedia de Lisboa uma esquadra de trinta naus e vinte e oito gals, para o sul, ameaando pela Andaluzia, o Bastardo. Muito ao contrario do que ainda hoje geralmente se pensa e se escreve,--entre ns at!--a expanso maritima de Portugal, comeando com elle, desde os primeiros reinados ensaiava os vos que haviam de leval-a aos confins do Mundo e s culminaes da Historia. Alguns escriptores hespanhoes do como inteiramente destroada a expedio naval de Dom Fernando, pelas foras maritimas do Trastamara. No verdade. talvez uma confuso com outra. O Trastamara desenvolveu realmente uma prodigiosa actividade, logrando pr no mar e reunir foras importantes. A nossa esquadra, tendo destruido Cadiz e ameaado Sevilha, enfraquecra-se na precipitada campanha e approximao das foras navaes do Bastardo lanou-se ao mar alto, evitando a colliso. Pouco depois, porm, subia, de novo, o Guadalquibir. Os Castelhanos bloquearam, ento, a foz do rio, tendo primeiro surprehendido na altura do Cabo de Santa Maria uma nau que se dirigia a Barrameda, levando provises e 100:000 libras para pagamento do soldo ao cruzeiro portuguez. A Historia conservou o nome do Mestre d'essa nau, que, com outros, foi morto na desigual refrega. Chamava-se Nicolau Antonio Estominho. [17] Contavam, pois, os Castelhanos apoderar-se dos mais navios portuguezes, mas estes romperam o bloqueio e salvaram-se por um curioso processo. Descendo para o mar e avistando a numerosa armada Castelhana, em ordem de batalha, a tolher-lhes vantajosamente a sada, as gals portuguezas incendiaram dois navios carregados de azeite e lanaram-nos adiante, feio da corrente e do vento. Evitando esta vanguarda de fogo, os navios castelhanos desordenaram-se, e os Portuguezes ganharam o mar. Comtudo, a campanha naval foi pouco menos que infructifera e a terrestre tornou-se rapidamente desastrosa. Tendo entrado na Corunha, Dom Fernando soube que o Bastardo vinha cortar-lhe a retirada e invadir-lhe o Reino. Voltou, pois, precipitadamente, por mar, n'uma gal commandada por Nuno Martins, vindo desembarcar no Porto e dirigindo-se para o sul do Reino, naturalmente no pensamento de organisar a defeza. Sabendo-o, Dom Henrique invade impetuosamente o paiz, conseguindo apoderar-se de Braga, depois de alguns dias de vigorosa resistencia, e abandonando-a e incendiando-a em seguida, vae pr apertado cerco a Guimares. Procurando, talvez, ganhar tempo e obter uma tregoa que o dsse concluso da alliana com o Arago, Dom Fernando expede de Evora um dos seus fidalgos e um mercador breto de Lisboa a ensaiar negociaes de paz com o Bastardo. Mas essas negociaes mallogram-se a breve trecho, por divergencia entre os intermediarios, e Dom Henrique levantava apressadamente o cerco de Guimares noticia de que o Rei Portuguez vinha dar-lhe batalha. II Como dissemos, Dom Fernando mandra pedir em casamento a filha do Rei de Arago, a Infanta Dona Leonor. Era o vinculo e penhor da projectada campanha contra Castella. Antigas e estreitas eram as relaes de sangue e de amisade entre as duas Coras. Assentavam at n'uma especie de politica tradicional de ponderao e de commum segurana contra as tendencias de hegemonia e de expanso assimiladora da monarchia central. O proprio Dom Pedro, o Ceremonioso, fra casado, pela segunda vez, bem contra a vontade de Castella, com uma Princeza Portugueza, outra Infanta Dona Leonor, filha do nosso Affonso IV, tia por conseguinte de Dom Fernando. Uma Princeza nossa vivia tambem ali: uma irm do proprio Rei de Portugal: a Infanta Dona Maria, casada em 1354 com o irmo do Ceremonioso, o celebre Infante Dom Fernando que estivera para ser-lhe anteposto na herana da Cora aragoneza; que generosamente lh'a conservra quando frente da formidavel Union, e que acabra por lh'a defender com as armas na mo. certo que no eram passados muitos annos que o Rei de Arago convidra este irmo para banquetear-se com elle no castello de Boriana e o fizera aleivosamente prender e matar no fim do banquete. Mas este incidente tragico, realmente banal na politica do tempo, esquecra-o j o Rei Portuguez, revalidando e confirmando, no comeo seu reinado, as antigas relaes domesticas e realengas com o Arago. At porque nos referimos a esta Dona Maria, ha de ver-se que no inutil dizer que a embaixada portugueza enviada ao Ceremonioso se compunha de um forasteiro, de origem genoveza, a quem Dom Fernando I se affeiora: Balthasar de Espinola, de Affonso Fernandes de Burgos, naturalmente um dos castelhanos insurrectos contra o Bastardo, e de Martim Garcia, que tambem podemos suspeitar que o fosse. [20] Para definitivamente ultimar, pois, a proposta e acceita conveno, enviou o Rei Aragonez a Lisboa um seu plenipotenciario com o qual firmou Dom Fernando essa conveno, desposando em seguida, por palavras de futuro, a Infanta Dona Leonor, na Igreja de So Martinho,--porquanto El-Rei pousava ento,--diz Ferno Lopes,--nos Paos que chamam dos Infantes, que so cerca d'esta Igreja. Pelo que importava alliana offensiva contra Castella, o Rei Portuguez obrigava-se a pagar 1:500 lanas aragonezas ou aventureiras que durante um certo praso fizessem a guerra d'aquelle lado. Para este pagamento enviaria o oiro e a prata em que havia de amoedar-se a especie corrente no Arago e Castella[7]. Um grande fidalgo portuguez, Joo Affonso Tello, e os primeiros negociadores, o Balthasar de Espinola, o Martim Garcia e o Affonso de Burgos deviam ir receber ao Arago a Infanta e ficar garantes da Conveno, encaminhando o primeiro as cousas da guerra. Como cauo da nossa parte offerecia o Rei Aragonez o castello de Alicante. Tudo isto succedia vertiginosamente ao terminar o anno de 1369. No comeo de maro do anno seguinte eram entregues a Affonso Domingues Barateiro, thesoureiro regio escolhido para o caso, o oiro que devia levar para o Arago, sendo conduzido, com uma escolta de trinta besteiros, ao Algarve, onde havia de embarcar a embaixada. Ferno Lopes averiguou os valores remettidos, e indica-os com notavel preciso, corrigindo as diversas verses. Para a amoedao estipulada enviou-se smente oiro, e no em pasta ou em barra, mas em moeda, na maioria da que Dom Fernando mandra cunhar recentemente: dobras p de terra, de peso igual dobra cruzada ou de 50 por marco, e gentis de tres variedades: primeiros (66 por marco), segundos (75 por marco) e terceiros (86 por marco). De moeda estrangeira: dobras Castelhanas, Mourisca e miualha Franceza,--no seriam mais de 100 marcos. A Casa ou Pao da Moeda, que, muito provavelmente, era no proprio Pao Real ou Paos dos Infantes, ao Limoeiro, concorreu com 100:000 peas monetarias, e a Torre do Haver, o Erario, ao Castello, onde se arrecadava a riqueza regia, escancarara as velhas arcas para [21] contribuir com outras 100:000 peas, e numerosas preciosidades destinadas a decorar a futura Rainha de Portugal. --Assim que seria todo o haver quanto ento foi junto at 4:000 marcos de oiro que eram pouco menos que 18 quintaes. Uma bonita somma de que nos podem dar approximada ida uns 600 contos de ris de hoje, considerado, apenas, o preo actual do marco de oiro no quilate da dobra Fernandina. Quanto s preciosidades destinadas ao consorcio, a generosa Torre forneceu ainda:--uma cora de oiro feita de machafemeas, obrada com pedras de grande valor e grossos gros de aljofar a redor, e relicarios e anneis de oiro e camapheus, e outras joias de grande preo, afra saias e cotas e cipres de dona, e outras cousas que pertenciam a guarnimento de mulher. Este soberbo enxoval levava sua guarda o chefe da misso. Tal era o--thesouro--como geralmente lhe chamam os Chronistas. Em 15 de maro, Dom Joo Affonso Tello, conde de Barcellos, e os seus companheiros embarcaram no Algarve, naturalmente em Faro. Caetano de Sousa[8] diz que os acompanhavam Dom Joo, Bispo de Evora, que era quem devia receber a Infanta; o Bispo de Silves, tambem Dom Joo, e Frei Martinho, Abbade de Alcobaa. Sete gals compunham a expedio, que mais parecia de gala e de festa, embora o tempo fosse de guerra e de rapina. Dom Fernando sabia fazer estas cousas. O navio destinado a trazer-lhe a noiva era a gal Donzella:--uma grande e formosa gal em que havia largas e espaosas camaras, a qual El-Rei mandou mui nobremente guarnecer de estandartes e muitos pendes e tenda e apparelhos de corda de seda. --E mandou pr, por nobreza, muitos e grandes dentes de porcos montezes encastoados, ao longo da coxia, por ambas as partes da gal, e todos os remos pintados e outros logares, por formosura. --Os galeotes eram vestidos todos de uma maneira, e iam com ella quarenta besteiros, asss de mancebos e homens de prol, todos vestidos de outra libr, e cintos cobertos de veludo preto com as armas de El-Rei bordadas. No smente pelo encanto da descripo do grande Chronista, que nos demormos n'estas minudencias. que ellas do uma nota critica importante para a apreciao [22] dos acontecimentos, at do proprio documento que estamos explicando. Uma observao de passagem: outra ida falsa muito vulgarisada, muito romanceada at pelos nossos philosophos e historiadores modernos, a da nossa pobreza publica, como diriamos hoje, anteriormente grande florescencia ultramarina que se diz ter-nos deploravelmente desviado das ideaes vantagens de uma austeridade pelintra. certo que Dom Fernando, em vez de seguir os exemplos dos seus predecessores, accumulando thesouros, parecia apostado a exhauril-os rapidamente. Mas pela sua situao geographica, pelas suas aptides, pela sua administrao intelligente e pratica,--pois que a tivemos j, e d'ella principalmente deriva a fora economica das Naes,--Portugal foi por largo tempo um dos Estados mais ricos da Peninsula, chegando at a ser considerado dos mais ricos da Europa. Sem ter soffrido a semsaboria de encontrar-se com as foras navaes do Bastardo, muito occupado na invaso de Portugal e na pacificao do seu proprio Reino, a nossa pequena armada chegou a salvamento a Barcelona, e o--thesouro--,isto , os 18 quintaes de oiro amoedado foram depostos n'uma camara bem cerrada e guardada, que o Rei Aragonez teve a amabilidade de ceder no seu proprio palacio. Comeou-se a fazer a moeda nova para o soldo da campanha, cunhando-se logo 200:000 reaes de prata, de 4 maravidis cada real, com os signaes e cunhos do assassinado Dom Pedro de Castella, naturalmente para mais facil circulao nas terras Castelhanas que haviam de ser invadidas. Affonso Domingues exercia, zelosa e livremente, o seu officio de Thesoureiro; Dom Joo Affonso diligenciava contratar e assoldadar os fidalgos empreiteiros que haviam de fornecer os homens de armas, e o genovez Balthasar de Espinola temperava a faina diplomatica galanteando, com excellente exito, a desolada viuva do Infante Dom Fernando, a Infanta Dona Maria, irm do Rei Portuguez e cunhada do de Arago. Caetano de Sousa mostra-se muito indignado por Ferno Lopes tratar--sem necessidade... to incivilmente,--a Infanta, com a revelao d'este galanteio e das consequencias d'elle. Mas no prova, nem lhe seria facil, que o facto se no dsse. Teremos talvez de voltar ao incidente, mas diga-se desde j que bem mais confiana merece a ingenua e honrada--incivilidade-- do Chronista do seculo XV do que a postia e hypocrita gravidade cortez do Genealogista do seculo XVIII, que ha pouco ainda tivemos [23] occasio de surprehender a subtrahir e truncar de um testamento a justificao de uma consciencia briosa que ia desapparecer no tumulo, ficando na Historia com o labeu de uma morte aleivosa e injusta[9]. Tudo parecia, pois, correr excelentemente e julgou-se at conveniente melhorar, por conta e custa do famoso--thesouro,--a conveno de Lisboa, elevando a 3:000 lanas o subsidio das 1:500 que elle era destinado a mover contra Castella. Tres mil lanas correspondiam bem a uns 12:000 homens e mais. Sobre isto se entabolaram novas negociaes entre os dois Reis, no sendo muito temeraria a suspeita de que por este meio procurasse o do Arago protrahir os seus compromissos. Apenas duas pequenas nuvens,--que no poderia suppor-se que dessem uma grande procella,--pairavam realmente no horisonte illuminado por to risonhos auspicios. Era uma, a da necessidade da dispensa Pontificia para o consorcio da Infanta Aragoneza com o primo. Tinha este escrupulo de consciencia o homem que expolira a irm, que esmagra o cunhado, que perseguira a madrasta e que assassinra o irmo. Dom Pedro, o Ceremonioso, casara pela segunda vez, dissemol-o j, com uma tia do Rei Dom Fernando, a Infanta Dona Leonor, que morrra em 1348. Logo no anno seguinte desposra outra Leonor, uma irm do Rei Luiz da Sicilia, de quem tivera a que estava agora para ser Rainha de Portugal. Succedia ainda,--e era esta a segunda nuvem,--que a futurada Rainha, tendo sido creada com o filho e herdeiro do Bastardo,--depois Joo I de Castella,--s pela tenaz opposio da me no casava com elle, o que no impedia que fosse esse o seu desejo, o do seu companheiro de infancia e o do pae d'este, o proprio e habil Dom Henrique. A politica matrimonial do tempo enredava-se s vezes na politica amorosa dos coraes juvenis. A Infanta aragoneza no seria positivamente uma formosura e os velhos Portuguezes eram um pouco exigentes no assumpto. Gostavam de Reis fortes, desempenados, viris, e de Rainhas formosas, esbeltas, graciosas, que, alem de tudo, fossem capazes de os conceber taes. Por muito tempo corrra mundo a fama de belleza das Princezas Portuguezas. Ora Dom Fernando era, na phrase singela e expressiva do seu [24] Chronista, um--mancebo valente, ledo e namorado, amador de mulheres e achegador a ellas. Estava na conta dos bons Reis Portuguezes: e nada mais natural do que no terem ficado muito tranquillos e satisfeitos os amigos e enviados de Dom Fernando, ao aspecto da sua nova Rainha, no sendo ella realmente formosa. Ha at uma verso antiga de que lhes desagradra muito por feia e mal feita, tirando d'ahi motivo para no apressarem o consorcio ou para o mallograr. Mas Ferno Lopes contradiz energicamente esta verso, como desmente outras, observando que a raso do que succedra no fra--por ella ser tal como alguns, historiando, feiamente a pintaram, porque de corpo e gesto a natureza lhe dera to boa parte que a nenhum Senhor descontentaria de a haver por mulher. E deve ser assim. No seria uma formosura, mas pouco ou nada importou isso para os successos futuros, at porque o Rei Portuguez no procurava tanto a mulher, como o auxilio do Rei de Arago. Da parte d'este ultimo que naturalmente se disfararia na desculpa da dispensa Pontificia a pouca vontade de se aventurar guerra contra o novo Rei de Castella, que elle proprio auxilira, um pouco, e conquistar o Throno, e quem sabe se tambem qualquer rebate de desconfiana cerca do espirito versatil de Dom Fernando, o no movia a demorar o negocio? O que certo que demorando-se a Dispensa,--se que chegra a ser pedida pelo Rei de Arago, o que duvidoso,--e como ao mesmo tempo se protrahia o comeo da estipulada campanha, Dom Joo Affonso voltou a Portugal sem a Infanta, mas com a coroa marchetada de aljofares, o que evidentemente no parecia indicar uma perfeita confiana de que ella tivesse de servir muito breve. Ficaram, porm, em Barcelona--o thesouro,--e os outros negociadores, que em 24 de julho de 1370 revalidavam ainda com o Rei do Arago as estipulaes anteriores. Dom Pedro, o Ceremonioso, enviava a Dom Fernando um novo embaixador explicando a involuntaria tardana, offerecendo at que se tornasse effectiva a cauo inicialmente prestada da occupao pelos Portuguezes do Castello de Alicante. Bisarramente, Dom Fernando no quiz usar d'esta faculdade. Confiava no futurado sogro e tanto persistia no ajuste, que recommendando aos insurrectos castelhanos de Carmona que se defendessem como podessem do apertado cerco que lhes pozera Dom Henrique, porque sentia muito no poder, de momento, soccorrel-os, em 21 de outubro (1370) ratificava e jurava, novamente, nos Paos de Vallada, [25] com o embaixador aragonez, as combinaes e accordo de Barcelona. Estava, pois, assente, confirmado e umas poucas de vezes jurado, que dentro em pouco, o tempo necessario apenas para chegar de Roma a Dispensa Pontificia, se ultimaria o casamento de Dom Fernando com a filha do Rei de Arago, a Infanta Dona Leonor, iniciado j na Igreja de So Martinho de Lisboa, e que o Bastardo de Castella se acharia mettido entre dois fogos, tendo necessariamente de acudir sua fronteira de leste, invadida pelos aventureiros aragonezes ao soldo de Portugal. III Mal teria tempo o Embaixador aragonez de apresentar ao seu Rei a franca e leal revalidao do ajuste, pelo de Portugal, quando no comeo de 1371 se abriam aqui, por mediao ostensiva do Legado Pontificio, as negociaes de paz com Castella. Terminavam em 31 de maro, em Alcoutim, estas negociaes, por um definitivo tratado entre Dom Fernando e o Bastardo, em que este fazia comprehender o Rei de Frana, seu alliado, e aquelle to perfeitamente desinteressado se mostrava dos compr ......Buy Now (To Read More)

Product details

Ebook Number: 29804
Author: Cordeiro, Luciano
Release Date: Aug 26, 2009
Format: eBook
Language: Portuguese

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