Memoria sobre a cultura, e productos da cana de assucar

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Title: Memoria sobre a cultura, e productos da cana de assucar Author: Jos Caetano Gomes Release Date: April 23, 2008 [EBook #25148] Language: Portuguese Credits: Produced by Rita Farinha and the Online Distributed Proofreading Team at http://www.pgdp.net (This file was produced from images generously made available by National Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal).) Nota de editor: Devido quantidade de erros tipogrficos existentes neste texto, foram tomadas vrias decises quanto verso final. Em caso de dvida, a grafia foi mantida de acordo com o original. No final deste livro encontrar a lista de erros corrigidos. Rita Farinha (Abr. 2008) MEMORIA SOBRE A CULTURA, E PRODUCTOS DA CANA DE ASSUCAR OFFERECIDA A S. ALTEZA REAL. O PRINCIPE REGENTE NOSSO SENHOR. PELA MESA DA INSPECA DO RIO DE JANEIRO. APRESENTADA POR JOZE CAETANO GOMES, E DE ORDEM DO MESMO SENHOR PUBLICADA POR Fr. JOZE MARIANO VELLOSO. LISBOA: Na Offic. da casa litteraria do arco do cego. Anno M. D CCC. SENHOR. A Mesa da Inspeco do Rio de Janeiro, desejando conformar-se com os ardentes desejos, que V. A. R. tem de fazer felices os Habitadores do Brasil, por huma bem entendida Agricultura, e desta sorte satisfazer tambem as suas Reaes Ordens, recomendou a Jose Caetano Gomes, que lhe apresentasse as reflexes, que os seus vastos conhecimentos lhe tivessem subministrado, sobre a factura do Assucar nos Engenhos do Rio de Janeiro, a que elle satisfez no dia 16 de Maro do anno proxime passado de 1799., lendo perante ella a presente Memoria, que, sendo dirigida a V. A. R., se dignou ordenar-me, que houvesse de a fazer imprimir, em beneficio de seus fieis vasallos dos vastos dominios, naquelle Continente. Como pois Andr Joo Antonil no seu livro da Cultura, e opulencia do Brasil, no faz mais, que dar huma simples relao do modo de cultivar a Canna, extrahir Assucar no Brasil, creio, SENHOR, ou talvez posso assegurar, que, sobre este objecto, esta he a primeira cousa, ou a unica melhor escripta em nossa linguagem pelas sabias, e luminosas reflexes, com que a enriquece, e que seu Author he digno das Soberanas vistas de V. A. R., a cujos ps se prostra O mais humilde vassallo Fr. Jose Mariano da Conceio. PROEMIO. Sendo a Provincia do Brasil considerada como melhor Colonia do Mundo, no se sentindo em toda ella nenhum dos flagellos da natureza, pois no h terremotos, furaces, volces, fomes, nem pestes; gozando de hum clima benigno, e, excepo de poucas trovoadas, que servem de depurar o seu r, e concorrendo todas as causas fysicas, com huma vegetao sempre activa, para fazerem a felicidade dos seus habitantes, no se poderia comprehender, o no ter chegado este bello paiz ao maior gro de prosperidade possivel, se se no soubesse, que as causas moraes, podem tanto, ou mais que as fysicas, para deteriorar o melhor terreno. A Agricultura, a primeira, a mais util das Artes, que nutre a todas, e faz a base da prosperidade, e fora dos Estados, no sahio ainda da infancia no Brasil; todas as plantas so cultivadas por costume, e sem principios; as luzes da Europa culta chego c to fracas, que no podem aclarar-nos; as couzas mais triviaes, de que podamos ter abundancia, no se sabem trabalhar. A Canna de Assucar sendo o vegetal mais precioso, comparado o seu producto, com o que tiro os Estrangeiros das Antilhas, he menos de ametade. Entregue a sua cultura escravos conduzidos por hum feitor, sem mais talentos que, os que lhe suggere [II] a sua ferocidade; a manufactura do Assucar, e da aguardente, executada por ignorantes, que no sabem a razo dos factos, nem conhecem a natureza das differentes partes, que constituem os liquidos, sobre que trabalho; os donos das fbricas olhando com indifferena para todos estes objectos, julgando-os indignos da sua applicao; no he de admirar, que desta sorte haja o atrazamento, que se v na cultura, e producto da Cana de Assucar. Conheo alguns Senhores de engenho, que se distinguem pela sua instruco; para estes no he que escrevo; a minha obra he dirigida smente, aos que sabem ainda menos do que eu, e que esto inteiramente entregues disposio dos seus obreiros. A cultura actual, respeito que se propem, faz huma grande differena. Quem est costumado a plantar Cana na distancia de hum, a dois palmos, e que assim se d bem, difficilmente poder conceber, que, plantando na de seis, lucrar mais. Ainda que a razo, e a experiencia fao conhecer, que as plantas devem ser afastadas humas das outras, segundo a sua grandeza, e a quantidade de succos, de que carecem, no pertendo que se adopte o novo methodo, sem que cada hum se convena por si mesmo da sua efficacia. Plante-se hum quadrado de doze braas, que deve conter quatrocentas covas de Cana, segundo o methodo que se propoem; plante-se outro quadrado igual, na mesma qualidade de terra, segundo o methodo que se pratica; faa-se assento da despeza de huma, e outra cultura separadamente; apure-se o producto destas duas especies de plantao; deduzo-se-lhe as respectivas despezas e a resulta que se achar he o que se deve [III] seguir. As experiencias em pequeno no arruino a alguem, e podem ser seguidas de grandes utilidades. O que digo sobre a cultura da Cana, e lembro a respeito s suas dependencias, manufactura do Assucar, e aguardente; he o que me parece melhor; porm cada hum deve ver por si mesmo, e fazer tudo o que a experiencia lhe mostrar mais util. DESCRIPA DA CANNA DE ASSUCAR, SEGUNDO A VISTA QUE APPRESENTA. A canna de Assucar, tem a apparencia das outras cannas destituidas de medulla; he huma planta da familia das gramineas; como ellas, he cheia de articulaes, ou ns, que disto huns dos outros, de meia at quatro pollegadas, segundo a bondade do terreno, produzindo huma folha em cada articulao, ou n, cercada de pequenas raizes, onde h hum boto, ou olho, destinado a ser canna, se se deposita na terra. Estes espaos entre cada articulao, a que se chama gomos, so cheios de huma medulla esponjosa, elastica, succosa, doce, cuberta de huma casca pouco dura, lenhosa, que se deixa penetrar pela unha; destinada a se extrahir della hum sal essencial, que se chama Assucar. O seu comprimento, ou altura, he de seis, a doze palmos, segundo o terreno, na Cappitania do Rio de Janeiro, e de oito, a doze linhas de diametro. Succede adquirir algumas braas de comprido, se cahe, e as raizes, que circundo os ns, introduzindo-se na terra, fazem collos; porm s o que sobe ao r depois da ultima raiz, he [2] que tem doura, tudo o mais he perdido. A Natureza tem destinado dezoito mezes a esta planta para chegar sua perfeio; se he colhida antes, ou depois deste termo, o rendimento he menor em proporo que delle se afasto; porm com maior prejuizo depois, que antes da madureza. Isto he relativo Estao; grandes sccas, ou grandes chuvas, accelero, ou retardo esta colheita. Ainda que, como outra qualquer planta, a Canna de Assucar florea, e d semente, a frma de se multiplicar, he lanar na terra pequenas estacas tiradas da parte superior da Canna, onde no tem doura; porm isto s pde fazer-se, quando a plantao he ao mesmo tempo, que a colheita, fra disto toda a Cana desde a raiz he empregada em estacas. Como se cultiva actualmente a Canna de Assucar. Cada plantador de Canna, segundo as suas faculdades, vai com dez, vinte, quarenta, ou mais escravos com enxadas, limpar de todas as hervas huma certa poro de terra, onde quer fazer aquillo a que se chama partido. As plantas, ervas, ou capins arrancados, ou cortados com a enxada, so sacudidos da terra pelos mesmos escravos, que trabalho enfileirados, juntos em pequenos monticulos, para no caso de sobrevir chuva, no pegarem as raizes na terra. Depois da terra capinada, ou limpa de plantas, vo os escravos abrir covas com a mesma enxada; cujas covas so huma especie de regos, de duas, a tres pollegadas de profundidade, na distancia [3] huns dos outros, de hum palmo, a palmo e meio; e se suppem a terra muito boa, chego a dois palmos. So lanadas nestes regos duas estacas de Canna, de palmo e meio de comprido, e se cobrem com a mesma terra, que se tirou da cova. Faz-se esta plantao em dois tempos; hum quando se moe para aproveitar os olhos da Canna, que he a parte superior della, de Junho at Setembro; o outro em Maro, que se tem pela melhor plantao, a qual se faz ento com as estacas tiradas de toda a Canna, que se no moeo, com o fim mesmo de se plantar neste tempo. He de costume a qualquer das duas plantaes dar duas capinas, ou limpas. A Canna plantada de Junho a Setembro, he moida no anno seguinte com doze a quatorze mezes; a plantada em Maro, de dezoito a vinte mezes; huma, e outra se deixa ficar por no se poder moer, para Canna velha; planta-se, ou moe-se na safra subsequente. Da Canna, que se cortou, colhe-se a scca no anno seguinte, e dahi todos os annos as resscas, em quanto no terreno broto Cannas. Ainda que se conhea, que estas resscas rendem progressivamente ametade, as ultimas em respeito s antecedentes, todos as aproveito quanto podem. Alguns lavradores, rarissimos, se tem servido do arado para fazer os regos, e de algum estrume nas terras j canadas, porm o numero he to diminuto, que no merece entrar em linha de conta; o geral he limpar a terra a brao, ajuntar o capim, fazer covas com a enxada sem ali huns dos outros, de hum palmo, a palmo e meio; e se suppem a terra muito boa, chego a dois palmos. So lanadas nestes regos duas estacas de Canna, de palmo e meio de comprido, e se cobrem com a mesma terra, que se tirou da cova. Faz-se esta plantao em dois tempos; hum quando se moe para aproveitar os olhos da Canna, que he a parte superior della, de Junho at Setembro; o outro em Maro, que se tem pela melhor plantao, a qual se faz ento com as estacas tiradas de toda a Canna, que se no moeo, com o fim mesmo de se plantar neste tempo. He de costume a qualquer das duas plantaes dar duas capinas, ou limpas. A Canna plantada de Junho a Setembro, he moida no anno seguinte com doze a quatorze mezes; a plantada em Maro, de dezoito a vinte mezes; huma, e outra se deixa ficar por no se poder moer, para Canna velha; planta-se, ou moe-se na safra subsequente. Da Canna, que se cortou, colhe-se a scca no anno seguinte, e dahi todos os annos as resscas, em quanto no terreno broto Cannas. Ainda que se conhea, que estas resscas rendem progressivamente ametade, as ultimas em respeito s antecedentes, todos as aproveito quanto podem. Alguns lavradores, rarissimos, se tem servido do arado para fazer os regos, e de algum estrume nas terras j canadas, porm o numero he to diminuto, que no merece entrar em linha de conta; o geral he limpar a terra a brao, ajuntar o capim, fazer covas com a enxada sem alinhamento, plantar sem estercar, fazer toda a plantao em hum, ou dois partidos, fugindo de terras virgens, porque, assim como as muito estercadas, ou estrumadas, fazem a Canna, a que se chama taioba, quero dizer, muito aquosa, muito oleosa, e pouco assucarada. [4] Notas sobre esta frma de plantao. Sendo a Canna de Assucar huma planta, destinada pela Natureza a alcanar doze, dezaseis, vinte, e mais palmos de altura, segundo o terreno, e at pollegada e meia de diametro, no he possivel que possa prosperar plantando-se to junta; porque rouba huma a substancia da outra. Tambem as covas, ou regos, em que se planta, no tem bastante profundidade; duas, ou tres pollegadas no basto para a suster. Plantando-se sem alinhamento, em confuso, nunca o sol, e o vento podem aperfeioar o seu succo. Fazendo-se a plantao em hum, ou dois partidos, pde pegar o fogo em ambos, o que succede algumas vezes, e fica seu dono empobrecido. A experiencia tem feito conhecer, que todos os fructos doces carecem do Sol, e r para alcanar a sua perfeio, e que o mesmo sol bata a nu sobre a terra, que cobre as suas raizes; no se reunindo estas circumstancias, os fructos se deterioro proporo. Em Portugal as uvas, a que chamo de forcado, so sempre imperfeitas, porque as arvores, que as cobrem, lhes roubo a luz. As larangeiras no Brasil, cubertas de erva de passarinho, do, pela mesma causa, laranjas pouco doces. Ainda que estas larangeiras estejo limpas da mesma herva, ainda que estejo n'hum campo solitarias; se a terra, por onde esto permeadas as suas raizes, est cuberta de herva, ou capim, que impea a luz de bater sobre ella, os fructos so sempre azedos. [5] Nenhum author, que trate da Canna de Assucar, manda plantalla em menos distancia, que a de tres ps, e alguns querem seis, e sete, que so nove, e dez palmos e meio de cova a cova: isto ha de parecer hum paradoxo aos nossos lavradores, que at tem hum ditado: quero canna mil, e no gentil. Porm da perfeio, com que nas Colonias estrangeiras se faz esta cultura, a mais preciosa d'America, he que tem procedido o gro de prosperidade, a que se tem elevado, e de que somos privados, por seguirmos smente hum trilho cgo, e sem reflexo. Theoria para a cultura da Canna de Assucar. O Que vou dizer he hum extracto do que tenho visto sobre esta materia. Os principios para a cultura da terra, segundo os Antigos, que suppunho as raizes das plantas, como os unicos orgos para receber a sua nutrio, consistio em lavrar a terra com diversos instrumentos para a pr bem movel, estrumalla, e depois de hum certo numero de colheitas, dar-lhe descano, quero dizer, conservalla limpa sem nutrir planta alguma. Os estercos, e estrumes de que se servio, era toda a especie de excrementos de animaes, e vegetaes podres. Os modernos adoptando os mesmos principios, insto por mais lavras; do o descano nos grandes intervallos, que deixo entre planta e planta; estes intervallos so lavrados durante a vegetao; alm dos estrumes de que se servio os Antigos, accrescentro o dos marnes, ou terras saponaceas, e o dos rebanhos nas terras que se propem cultivar; e alguns Authores no querem esterco, [6] que substituem com lavras, e mais lavras, origem da immensidade de instrumentos, que se tem inventado a este fim. Estes principios so certos em parte, e em parte diametralmente oppostos ao fim que se busca. A quem ignorar os descobrimentos mais modernos, ha de parecer paradoxo o dizer-se, que a terra natural no concorre para a vegetao das plantas; que estas no tiro della alimento algum, e que s serve de alicerce para suster a sua corporedade. H terra vitrescivel, terra calcarea, terra argillosa, ou barro, marne, e humus. A terra vitrescivel absolutamente esteril, he aquella de que foi composto, e faz a solidez do nosso Planeta. A terra calcarea he o residuo da decomposio dos corpos animaes. A terra argillosa he o residuo da decomposio dos vegetaes. O marne, ou terra saponacea, he a combinao destas duas especies de terra, variado a infinito com a ara, ou terra vitrescivel, segundo as propores da sua mistura. O humus, materia to preciosa para a vegetao, he a combinao da decomposio dos corpos organisados, vegetaes, e animaes de recente data, que tem a propriedade de dissolver-se n'agua, pelo oleo animal, e sal do vegetal, e com este liquido formar hum sabo, que se transforma em seiba, que he o sangue da planta. A argilla, ou barro de todas as especies, e as terras calcareas, so humus envelhecido, a quem a decomposio dos animaes phlogisticou, e com o seu gluten, fez to tenazes as suas partes, que so impermeaveis s raizes das plantas; porm combinadas com a ara, ou terra vitrescivel, fico terras proprias vegetao. As plantas so viventes, [7] que tem a faculdade de se reproduzir pela semente, pelo tronco, e pela raiz. A experiencia de Boyle, milhares de vezes repetida, e sempre confirmada, prova com evidencia, que tiro a maior parte da sua nutrio do r; ellas tem vasos absorventes para receberem o alimento, e vasos exhalantes para se alliviarem do superfluo; ainda que estes orgos se no percebo simples vista, a existencia delles he huma verdade. Assim como os animaes do pasto a differentes especies de insectos, tambem os vegetaes sustento huma innumeridade delles; cada hum tem os seus. Huma folha que cahe de qualquer planta, causa a morte a milhares de entes invisiveis. O fogo, o r, a agua, o humus, e a terra concorrem para a vegetao. O fogo he o motor, o r o agente, a agua o vehiculo, o humus o que faz a seiba. O fogo como calor, e como luz, faz subir os fluidos nas plantas desde a raiz; a frescura da noite os faz descer, fazendo assim huma especie de circulao, e desta sorte capazes de receber pelos vasos absorventes das suas folhas, do seu tronco, da sua raiz, as partes que os meteoros atmosphericos lhe communico. A agua muito composta, como elemento, faz com o gz, ou r fixo, a parte mais consideravel da planta. O r como atmospherico, e o receptaculo onde se combino todas as emanaes da natureza, serve de todas as sortes planta; e o humus faz as partes fixas della. A terra he a matriz da semente, ou planta, que serve de cada, ou alicerce para esta se desenvolver, e suster; e a fertilidade que se lhe suppem, he devida smente s partes do humus, que em si contm, boa, ou m, segundo a maior, ou menor quantidade, que encerra desta preciosa materia, [8] segundo a planta; que deve nutrir; deve ser trabalhada, dividida, ter toda a facilidade para receber as aguas das chuvas, dos orvalhos, dos outros meteoros aquosos, todos os principios fecundantes espalhados na atmosphera, e deixar-se penetrar das raizes, que se vo estendendo proporo que a planta cresce. A abundancia do humus nos terrenos cubertos de mato virgem, quando este mato se derruba, e se pem a terra em cultura, faz prosperar extraordinariamente os vegetaes nella cultivados. Este humus, convertendo-se nas partes solidas das plantas, vai diminuindo a pouco, e pouco; e passados annos fica a terra exhaurida desta preciosa materia, e por consequencia esteril. A experiencia fez conhecer em todos os tempos, que os estrumes, e materias estercoraes reparavo de alguma sorte esta falta, e se usou delles com bom successo; porm que no bastando, era preciso dar descano a esta terra, descobrindo-a de todas as plantas, lavrando-a muitas vezes, esperando que a atmosphera a fecundasse. Isto he hum grande erro, porque o calor do Sol batendo a nu sobre esta terra, a faz arida, e vindo depois huma chuva, a pequena poro do humus, que em si contm, he levado a outra parte, e por consequencia fica ainda mais empobrecido o mesmo terreno, que com este methodo se quer enriquecer. He evidentemente demonstrado, que para a terra no canar, adquirir, e conservar o seu humus, e fertilidade, he preciso que esteja sempre cuberta de plantas. Devem cultivar-se aquellas de que se pertende utilidade; quando estas se colherem, lanar a semente de outras de prompto crescimento, que tenho grandes, e brandas raizes, que cubro bem a terra, taes como [9] nabos, rabos, cenouras, batatas, aboboras, etc. e antes de chegarem ao seu total crescimento, serem lavradas, enterradas; e quando tiverem apodrecido, ou estiverem reduzidas a humus, plantarem-se, ou semearem-se aquellas, de que se pertende redito. Trabalhando-se continuada, e alternativamente desta sorte, podem evitar-se todos os estrumes, e estercos; estes so inventados pelos homens, e o humus he o da natureza. As vargens que esto cercadas de serras, collinas, montes, se estas eminencias se conservo coroadas de matto, so sempre ferteis, porque o humus, que estes mattos esto continuadamente depositando na terra, dissolvido pelas chuvas, vai enriquecer as vargens. As fraldas destas eminencias podem ser cultivadas para pequenos vegetaes, se o angulo, que fizerem, no passar de quarenta, e cinco gros porque ento s grandes arvores lhes convm. Os proprietarios destas eminencias, que as descoroo de mattos, empobrecem o Estado a perpetuidade; a coroa sendo descuberta, apresenta huma superficie nua aos raios do Sol, e passados poucos tempos fico reduzidas a escalvados; porm a perda que no se repara mais, he a das chuvas, que os grandes vegetaes tem a propriedade de chamar. O humus no basta s para conduzir as plantas sua perfeio; ellas carecem ainda da luz, 3, do r renovado, 4, de ter a superficie da terra at onde podem extender-se as suas raizes, despida de plantas; esta mesma terra revolvida, bem dividida, e haver entre planta, e planta huma certa distancia, proporcionada aos succos, de que carecem, segundo a sua natureza; haver huma escolha [10] escrupulosa na semente, ou planta, e conhecer qual he o tempo proprio para se lanar na terra, etc. etc. Como se deve cultivar a Cana de Assucar. A Experiencia tem feito conhecer, que o melhor tempo de plantar a Canna na Capitania do Rio de Janeiro, he de Dezembro a Maro, para ser moida de Junho a Septembro do anno subsequente, com dezoito mezes de idade. Como nestes mezes no h olhos de Canna, usa-se cortar da Canna, que se deixou para velha, pequenas estacas; porm esta Canna velha, que est deteriorada por ter passado do ponto da sua madureza, tem sim bastante doura, porm os botes, ou olhos dos seus ns, ou articulaes, que he o que deve ser Canna, huns esto j murchos, outros podres, e por consequencia perdidos; e s a parte superior da Canna, que sempre conserva verdura, pouca doura, e mesmo acidez, he o que nasce facilmente. Ainda que os botes estejo em bom estado, devem desprezar-se as Cannas velhas, porque em quanto tem doura, no nascem, e he preciso hum mez, e mais tempo para a perderem. Para se fazer huma plantao perfeita, he preciso fazer a planta. No principio da moagem, devem plantar-se os olhos, ou parte superior da Canna, n'huma terra de muita substancia, lodosa mesmo, em terreno virgem, que tenha bem humus, ou seja bem estercado, para a Canna, que nascer, ser bem ataiobada, ou selvagem. Desta Canna sem doura, e bravia, he que se tiro as estacas para fazer a plantao; cujas estacas devem ter o comprimento, [11] que alcancem quatro ns, que segundo a distancia de n a n, sero mais compridas, ou mais curtas. Esta Canna plantada n'hum terreno to pouco proprio para se lhe extrahir o Assucar, no he perdida; alm da utilidade da boa planta, no fim de dois, ou tres cortes, pde servir para Assucar; porm deve haver o cuidado de renovar a Canna para a planta. A Canna de Assucar cresce em todas as especies de terra; porm as que so gordas, fortes, baixas, lodosas, novamente roteadas, quero dizer, donde se derrubou matto virgem, a pezar do comprimento, ou altura, que alcano, tem o succo aquoso, oleoso, pouco assucarado, difficil de cozer, de purificar, sem rendimento. Hum terreno ligeiro, poroso, profundo, inclinado at quinze gros, he aquelle que a natureza tem destinado a este rico vegetal. Deve-se dividir o terreno destinado para a Canna em tres partes, e cada huma destas partes, subdividir-se em pequenos quadrados de doze braas cada hum; qualquer que seja a exposio do terreno, sempre estes pequenos quadrados ho de ser alinhados de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Veja-se a Estampa I. Cultivo-se estes pequenos quadrados, deixando os lados de cada hum delles para todas as partes, livres da planta da Canna; porm podem occupar-se em mandioca, cars, batatas, feijo, milho, aboboras, ervilhas, etc. Cada hum dos quadrados, se tiver doze braas de frente, e doze de fundo, deve conter quatrocentas covas, na distancia humas das outras de seis palmos. Para se fazerem estas cvas, no he preciso que todo o quadrado esteja descuberto de capim, basta que seja limpo pouco mais que o tamanho dellas, que devem ter dois palmos de comprido, hum palmo de largo, [12] e seis pollegadas de fundo. Comparadas estas covas com as que se fazem actualmente, ho de parecer muito grandes, e muitos fundas; e na realidade o no so, respeito s que fazem os Colonos das Antilhas, e o mesmo digo sobre a distancia dellas; pois elles chego a afastallas humas das outras, at dez palmos e meio, e a dar-lhe dezoito pollegadas de comprido, doze de largo, e oito de fundo. O milho para prosperar de serra acima, para os seus cultores colherem duzentos por hum, he preciso fazerem as covas na distancia de cinco a seis palmos, nas quaes lano quatro, ou cinco gros; ora este vegetal no tem o corpo da Canna de Assucar, nem como ella carece de tanta substancia, e alimento; a cova de milho he para quatro, ou cinco ps, a da Cana para oito, ou dez, que tantas so as que devem nascer, dos olhos, os botes das duas pequenas estacas, que se deito nas covas, e se devem conservar, cortando todas as que demais nascerem, porque como ladres lhe roubo a substancia. He certo que com a enxada, que se usa no Brasil, que he talvez a primeira que se inventou, e onde no chegou ainda a enxada de Luca, Franceza, ou Ingleza, he hum pouco difficil fazer esta especie de covas; so precisas de vinte a trinta golpes, quando com qualquer das mencionadas, basto tres, ou quatro. A nossa enxada he fatigante, o trabalhador anda curvado; e tendo o ferro de cinco a seis libras, elle carrega com vinte, ou mais nas cadeiras; nesta especie de servio o homem baxo tem vantagem ao homem alto, a quem he preciso maior curvatura, e por consequencia dobrado esforo. Na Republica de Luca, e em algumas Provincias de Frana, no se usa de arado, [13] nem de charrua, porque a sua enxada equivale ao trabalho destes instrumentos, e fica a terra mais bem trabalhada. No Brasil onde os mesmos instrumentos pouco uso podem ter, he de huma grande vantagem o adoptarmos a enxada Luqueza, ou outra com pouca differena, que he huma especie de p, com dez pollegadas de altura, nove de largura em cima, oito em baxo, com a grossura de meia pollegada, a acabar em huma linha, bem temperada de ao, com hum alvado de seis pollegadas, quatro a meio ferro, e duas sobresahindo, e com a vacuidade de pollegada e meia de diametro, que vai diminuindo insensivelmente, com dois furos no alvado, para com huma cavilha se fazer firme o cabo, que deve ter oito palmos de comprido. Veja-se a Estampa II. Fig. I. e II. O trabalhador com este instrumento tem o corpo direito, virado para o Norte, os calcanhares afastados pouco mais de meio palmo; a enxada afastada quasi hum palmo do p esquerdo; a mo esquerda por todo o comprimento do brao, pegando no cabo; e a mo direita pegando no mesmo cabo, quasi no hombro direito Fig. III. A mo esquerda levanta a enxada at onde pde hir, sem que o antebrao se desuna do corpo. Fig. IV. A mo direita da altura, a que chegou, impelle a enxada com toda a fora, e a esquerda deixa escorregar o cabo, segundo a ferida que a enxada fez na terra. Para se tirar esta terra, serve de apoio a mo esquerda, e a direita carregando no cabo, levanta a p, e ambas a guio para lanar a terra a qualquer parte; porm deve ser regularmente para Oeste, ou Leste. No segundo movimento, deve chegar-se o calcanhar do p esquerdo ao do direito, e este ladear para a direita [14] tanto quanto a enxada cava, e assim progressivamente. Designados os quadrados para a plantao da Canna, vo a cada hum vinte trabalhadores; o seu feitor os deve pr enfileirados olhando para Oeste, na distancia de seis palmos huns dos outros; manda-os andar direita para ficarem virados para o Norte; manda-lhe passar o p direito a perfilar com o esquerdo, na distancia pouco mais que meio palmo; e desta sorte principio o trabalho, abrindo as covas de Oeste para Leste, de manh at ao meio dia, servindo de guia a sombra do corpo; e do meio dia para a noite virados para o Sul fazem o mesmo; ou tambem podem trocar as mos, porque se trabalha para o lado direito, assim como para o esquerdo; devendo buscar-se de qualquer sorte o alinhamento perfeito das covas de Norte a Sul, e de Leste a Oeste, o que he essencial para a perfeio da cultura deste rico vegetal. Feitas as covas, devem lanar-se nellas duas estacas de Canna, que no tenho menos de quatro, nem mais de cinco botes, para quando nascerem, fazerem huma soqueira de oito, ou dez Cannas. Cobrem-se estas estacas com duas pollegadas de terra, e quando tem nascido a Canna, e alcanado dois palmos pouco mais de altura, enchem-se as covas com o resto da terra. Limpo-se as Cannas de todas as hervas que podem roubar-lhe a substancia, proporo que forem nascendo. Esta plantao deve fazer-se de Janeiro at Maro, e no antes, nem depois. Qualquer que seja a qualidade da terra, no deve pretender-se mais, que dois cortes; o primeiro dahi a dezoito mezes, o segundo a que se chama sca, dahi a quinze, ou dezaseis mezes. Depois deste segundo [15] crte, deve occupar-se o terreno em que esteve a Canna, com aboboras de todas as especies, que tem a propriedade de cubrir bem a terra, para que as raizes da Canna apodreo, e depois de convertidas em humus, ficar a terra apta para receber nova Canna, que dahi a mais de hum anno se lhe pde confiar. De Janeiro a Maro do segundo anno, cultiva-se a segunda diviso, e no anno seguinte a terceira. A quarta plantao faz-se nos mesmos quadrados da primeira; a quinta, nos segundos, a sexta nos terceiros, a setima nos primeiros da primeira, a oitava nos da segunda, a nona nos da terceira, e assim alternativamente; de sorte que a Canna de cada quadrado tenha intervallo bastante, que a livre de plantas, que lhe roubem a luz. Esta frma de plantao pde variar-se a infinito, segundo a quantidade de terreno, e intelligencia do cultor. Em lugar de quadrados perfeitos, podem ser quadrados longos etc., com tanto que se busque sempre o dar Canna, a maior quantidade de r, e luz possivel; porque a experiencia faz ver com evidencia, que s a dos aceiros, que recebe continuadamente a influencia destes dois agentes, he que alcana perfeio no seu succo; a que est para dentro, fica sempre esverdeada, o seu succo mal digerido, difficil de cozer, e de purificar; por consequencia o fim do lavrador deve ser quanto lhe for possivel, fazer todo o Canaveal em aceiro. [16] Vantagens desta frma de plantao. Se h fogos por accidente, he moralmente impossivel, que passem de huns a outros partidos, tendo to grande separao entre si. Nunca os carros, nem animaes pizo o Cannaveal, quando se conduz a Canna fbrica. H facilidade para se verem as Cannas de todos os pequenos partidos, para se cortarem os filhos que broto, que como ladres lhe roubo a substancia. Quasi todo o Cannaveal est em aceiro, quero dizer, est apto para receber a influencia, e nutrio, que lhe communica a atmosphera. A renovao, e correnteza do r impede a gerao, e propagao de insectos, taes como baratas, e outros, que a sua corrupo tem a propriedade de chamar. Pelo alinhamento de Norte a Sul, de Leste a Oeste, recebem as Cannas os raios da luz, que o Sol pde communicar-lhes, e que lhes so to precisos para a depurao do seu succo. Facilita o tarefar o trabalho, etc. etc. Crte das Cannas. A Canna de Assucar gasta dezoito mezes a chegar ao seu ponto de perfeio, porm se h seccas, anticipa-se; o gosto, e a vista he que decidem a colheita; quando est bem doce, e tem a cr amarellada, he tempo de cortar. He sabido de todos, que principia a ser doce do p, e que esta doura vai diminuindo gradualmente para a parte superior, e que junto bandeira, ou olho, no [17] s no tem doura, porm mesmo tem acidez, e he por consequencia hum erro, o aproveitalla at s folhas. Deve sim cortar-se bem rente terra sem ferir as raizes, porm o palmo junto s folhas, deve-se desprezar. Segundo a sua grandeza, se ha de cortar em huma, duas, e talvez tres partes, servindo de ballisa, o no ter mais de cinco, ou seis palmos, para se appresentar moenda. Usa-se, quando se corta, fazer feixes de seis, ou oito Cannas, segundo a sua grossura, cujos feixes so amarrados com os olhos das Cannas que se cortro. Esta especie de atilhos he tirada dos feixes de Canna, quando se appresento moenda, porm escapo muitos, que se espremem com a Canna; ora, tendo elles acidez, vo deteriorar o sumo, de que se ha de fazer Assucar, gastar mais decoada, e lenha, alm do tempo, e servio que se perde; porque no acto de cortar a Canna, so precisas quasi tantas pessoas para amarrar, como para cortar; e para a conduco tanto importa estar em feixes, como solta, e o mesmo para se meter na moenda, onde o trabalhador pde regular o pegar em seis, ou oito, doze, ou dezaseis, para as appresentar. Deve haver cuidado de no se cortar mais Canna, que a que pde moer-se em vinte e quatro horas, principalmente se o calor he intenso, porque o sumo fermenta na mesma Canna, o que arruina a sua qualidade. Construco dos engenhos actua ......Buy Now (To Read More)

Product details

Ebook Number: 25148
Author: Gomes, José Caetano
Release Date: Apr 23, 2008
Format: eBook
Language: Portuguese

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